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Como a Construct conquistou clientes brasileiros e investidores de 6 países?


Construct Latam

Em uma das entrevistas que fiz para o Startupi com Drew Beaurline, cofundador da Construct LATAM, perguntei por que ele resolveu sair da Califórnia e empreender justamente no Brasil. Ainda por cima, ele e Patrick Albert, cofundador da empresa, resolveram se dedicar a um mercado convencional e não muito moderno (falando de forma gentil): o da construção civil.

Somando a isso o fato de estarmos em época de Copa do Mundo e eleições, não parecia muito garantido que os planos deles iam dar certo tão facilmente. Eles não tinham dinheiro de verdade para investir nem falavam português, mas parece que nada disso impediu os fundadores de validarem seu plano.

A Construct conseguiu reunir uma boa equipe focada no desenvolvimento de um produto que fosse bom o suficiente para conquistar um cliente desse mercado tradicional. “Nós estávamos impressionados com os números divulgados por empresas especializadas brasileiras, de que mais de 25% do valor envolvido em uma obra acabava sendo desperdiçado devido a ineficiências, inclusive de comunicação. Muita gente nessa área ainda usa papel e lápis para tomar conta de grandes obras, envolvendo diversas equipes de diversos fornecedores, mas com um bom produto e um bom atendimento elas acabam vendo que o trabalho delas pode ser muito melhor e mais fácil”, acredita Drew, que responde como CEO (o cofundador Albert trabalha com CTO).

Um bom número inicial de empresas construtoras estão usando o software da Construct para acompanhar e gerir dezenas de obras, sincronizando seus escritórios aos canteiros de obras por meio de um aplicativo móvel. Esses profissionais atualizam plantas, tiram dúvidas, comunicam tarefas e relatórios, postam fotos e vídeos, deixam mensagens de voz, entre outras atividades, por meio de um app para smartphone, tablet e navegador web tradicional. A solução acaba contribuindo para toda a cadeia de valor da construção civil, agilizando a transparência e a eficiência das equipes.

 Investimento de R$ 1,1 milhão

Felizmente, após meses de trabalho duro e alguns resultados indicando que está no caminho certo, a Construct anuncia agora que captou uma série de investidores não apenas brasileiros, mas também de Israel, China, Itália, França, Estados Unidos (San Francisco, New York e Chicago). A lista inclui um cofundador do Klout, do CardMunch, da Azul Linhas Aéreas, do SaferTaxi, da Sirin Mobile e da Rock Content, além de executivos da Google e da GE. Eu também contribuí um pouco com a rodada, que foi quase toda concluída por meio da plataforma Fundacity. Vale citar que, somando dinheiro governamental do SEED MG e do Start-Up Brasil, a empresa já atraiu mais de R$ 1 milhão.

Quem mais investiu:

  • Diego Gomes: cofundador da Rock Content;
  • Clemens Raemy: fundador do app SaferTaxi;
  • Mark Neeleman: cofundador da Azul Linhas Aéreas;
  • Bowei Gai: cofundador do app CardMunch (adquirido pelo LinkedIn) e criador dos Startup Reports;
  • Binh Tran: cofundador do site Klout, empreendedor serial e investidor anjo. Foi rankeado como a pessoa #42 na lista “The Silicon Valley 100” da Business Insider;
  • Eyal Miller: líder de desenvolvimento de novos negócios para a Google em Israel;
  • Maurizio de Franciscis: empreendedor de internet com 20 anos de experiência em gestão, finanças e negócios nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil. Foi executive da GE;
  • Arthur d’Hauteville: investidor de venture capital na França e no Brasil, agora pela Haritz Capital. Foi executivo na GE Capital e director de fusões e aquisições no banco de investimentos Rothschild;
  • David Becker: líder de negócios com experiência de 20 anos na Europa, Austrália, Ásia e nas Américas;
  • Kurt Kalm: empreendedor serial na indústria farmacêutica;
  • Zach Aarons: especialista em imóveis na Millennium Partners e investidor anjo em mais de 40 empresas de tecnologia;
  • Tal Cohen: CEO da empresa israelense de hardware mobile Sirin Mobile Technologies.

Na minha opinião, esses são alguns trunfos da Construct que servem como aprendizado para outros empreendedores de software-as-a-service empresarial:

  1. Foco em problema grande e chato: enquanto muita gente sugere foco no cliente, a Construct se manteve focada em resolver os problemas detectados de antemão. Talvez nem sempre funcione: os problemas podem ser outros; você pode acabar não encontrando nenhum cliente com o problema que anteviu. Além disso, o tamanho do mercado de construção no Brasil (como etapa inicial de penetração latina) e a seriedade do problema (perda de tempo, material e dinheiro) fazem “valer a pena” se envolver em algo complicado e que muita gente não quer nem saber. Se fosse fácil, muita gente ia querer explorar esse espaço, mesmo se ele fosse menor;
  2. Foco na solução: ao invés de enviar pesquisas e formulários perguntando “quais são os problemas que você enfrenta na construção civil” ou “clique aqui se você gostaria de um software para resolver isso”, eles focaram em ter um bom aplicativo pronto para uso. É um risco, pode parecer “build it and they will come”, mas funcionou para a Construct. Veja bem, não estou diminuindo a importância de customer develpment: estou aumentando a importância de você já ter algo em mãos, sendo trabalhado e sendo usado, antes de “afinar o produto” com os clientes e prospects;
  3. “Algoritmo de vendas”: não basta botar a isca no anzol e esperar pelos peixes. Mesmo com o produto na mão, a Construct teve que pesquisar construtoras, fazer contato, pedir reunião, convencer pessoas, se esforçar para obter novas reuniões e convencer mais pessoas, fazer uma implementação inicial e cuidar do cliente. Vendas é mais do que receber um lead ou assinar um contrato, requer que você esteja na rua, no cliente. No final do dia, você não trabalha para a Construct, você trabalha para o cliente e tem que construir não apenas o produto, mas construir o seu encaixe no mercado, achar o seu jeito de vender, criar suas rotinas, seus padrões, sua “máquina de vendas”;
  4. Rede de influência: conheci Drew bem antes de ele começar a buscar investimento e, mesmo que um ou outro investidor ele tenha conhecido depois do processo iniciado, ainda assim foi muito importante o fato de ele já ter criado uma reputação no mercado, um círculo de amizades e admiração, de confiança, que serve não apenas para pedir dinheiro mas para buscar ajuda, aprendizado e contatos.

Moral da história: o aparentemente improvável pode acabar acontecendo se você trabalhar certo com as pessoas certas e seguir “criando a sua sorte”. Acho até que o fato de ser improvável chama mais atenção e interesse do que se fosse algo provável (e cômodo) acontecendo.

Para conhecer um pouco mais sobre a Construct, veja este vídeo demonstrativo e explicativo aqui

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