É tentador pensar na Microsoft como um dinossauro capenga. Mas é errado. Há quase um ano, a empresa vem preparando uma mudança que só agora está mostrando seus frutos. Sim, o Windows 8 era uma bagunça, e os primeiros dias do Xbox One foram vergonhosos, mas a empresa está afinando seu jogo com uma velocidade impressionante. E agora ela é, sem dúvida, a empresa mais animadora no ramo da tecnologia.
Você certamente deve ter ouvido falar nas maiores mudanças da recente reviravolta na história da Microsoft. O Xbox One é barato pra caramba e não precisa de um Kinect. O Windows 10 está trazendo de volta o Menu Iniciar de verdade. Há um headset maluco de realidade virtual no horizonte. E, mais recentemente, a Microsoft tem abocanhando alguns ótimos aplicativos. Não é brincadeira ou sorte. É um chute certeiro que tem tudo para ser um golaço.
Depois de anos escorregando e cambaleando com o Surface, o Windows 8 e Xbox One, a Microsoft está realmente dando a volta por cima.
O Windows 8 era o futuro que ninguém queria
Voltemos a 2012, quando estávamos prestes a receber o Windows 8 e os novos e chamativos tablets Surface. A Microsoft estava desenvolvendo uma obsessão por ser o futuro. A gigante dos desktops já tinha praticamente perdido o bonde nos telefones; o Windows Phone 7 era razoavelmente competente, mas foi apenas um primeiro passo vacilante em relação a concorrentes mais estabelecidos. A Microsoft não estava disposta a cometer o mesmo erro com o Windows 8. Então, em uma tentativa de compensar, ela passou a cometer um erro diferente, e de novo, e de novo: usar sua pura força de vontade para se tornar a Próxima Grande Coisa… que ninguém estava pedindo.
Basta olhar para o Windows 8. Ele não era um lixo total, mas não refletia a forma como as pessoas estavam usando seus dispositivos Windows; a Microsoft simplesmente ditou como elas deveriam usar seus computadores, baseada no que a empresa imaginou. A Microsoft colocou em prática sua visão do PC de amanhã, cheio de telas sensíveis ao toque e alimentado por apps Metro que até hoje não existem direito. Em vez de atrair os usuários, deixando-nos lenta e voluntariamente trocar nossos familiares menus Iniciar e janelas por algo novo e emocionante, ela simplesmente nos arrastou aos trancos e barrancos para uma coisa pronta e sem tutorial. O futuro está aqui, pessoal. Porque eu disse que vai ser assim, é assim e ponto final.
Então, diante da reação dos usuários que foram literalmente ficando presos dentro novos aplicativos Metro do Windows 8, a Microsoft colocou na praça uma fatia ainda maior do seu futuro alegremente arrogante e agressivo: o Xbox One.
Ele vai ser o centro de sua casa, a Microsoft disse. Ele vai substituir sua TV a cabo. Ela terá um câmera obrigatória. Isso vai exigir uma conexão de internet constante e você não poder jogar games usados. Mas ei, essas mudanças foram apenas o custo de tentar se antecipar, a Microsoft (meio constrangida) explicou. Este é o preço que você paga para um futuro sem usar as mãos, sem discos, com comandos de voz, controles de gestos e jogos digitais compartilháveis (queira você tudo isso ou não). Enquanto isso, aqui no mundo real, quando a Sony anunciou na E3 que o PS4 iria ficar com a política atual de aceitar jogos usados, ele foi recebido literalmente com aplausos.
Enquanto isso, os ambiciosos híbridos de tablet e computador da Microsoft não tiveram nenhum sucesso real. O decepcionante Surface RT nasceu com um pé na cova, enquanto o (genuinamente interessante!) Surface Pro se mostrou um pouco estranho e muito futurista para marcar território. Foram mais dois produtos que sofreram de excesso de visão e falta de pé no chão.
Ainda assim, é fácil ver como a Microsoft foi atropelada pelas grandes ideias do futuro que ela estava tentando domar. Também foi fácil para nós, nerds da tecnologia, lamentar os recuos inevitáveis e necessários, mas que mostravam claramente a derrota da Microsoft. As visões da Microsoft eram todas tão acertadas e emocionantes… na teoria.
Na prática, era tudo uma grande zona.
Aprendendo a lição na derrota
Logo depois de voltar atrás na questão do DRM do Xbox One, a Microsoft fez uma grande mudança — não nos seus produtos ou software, como você deve estar pensando, mas na forma como a própria empresa era tocada. O então CEO Steve Ballmer estava completamente isolado no topo da hierarquia historicamente rígida da Microsoft, em que muitas das equipes internas da empresas — às vezes trabalhando no mesmo produto em diferentes plataformas – estavam diretamente em conflito e em concorrência ativa.
Isso cresceu até um nível tragicômico, o que é perigoso, principalmente em um mundo em que a Microsoft já não poderia descansar sobre os louros de glórias passadas. Esta nova Microsoft, a One Microsoft, teria que trabalhar junto de uma vez por todas. Simplesmente teria.