Ser empreendedor no Brasil não é fácil, ainda estamos começando a criar o nosso ecossistema e aprendendo a lidar com Startups. Nos EUA, todo esse processo vem acontecendo há algum tempo, para ter uma ideia, o Vale do Silício começou a se desenvolver na década de 30 e 40 durante a Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, ou seja, demorou décadas para o Vale ser a referência que é hoje.
Considerando isso, muitos empreendedores optam por deixar o Brasil e acabam se “jogando” no Vale em busca de melhores oportunidades. Pensando nisso, o Startupi foi em busca de alguns atores desse ecossistema, com experiência em ambas as realidades, para saber como é a visão de quem conviveu com as características das distintas realidades.
Primeiro falamos com Reinaldo Normand, empreendedor brasileiro que mora no Vale do Silício. Para ele existe uma supervalorização do Vale, e que nós brasileiros tendemos a acreditar que lá teremos todos os problemas resolvidos e fácil acesso ao capital, mas as coisas não são bem assim! “As coisas no Vale são muito mais difíceis do que as pessoas imaginam, o nível de competição é 100 vezes maior do que aqui no Brasil, quem vive lá sabe que essa é a realidade”.
Ele acredita que existe uma dificuldade cultural de entender o que acontece no Vale do Silício de verdade e por isso criou o curso “Silicon Valley for beginneres” onde explica vários pontos importantes sobre a cultura do Vale e como as coisas realmente acontecem por lá.
Aqui no Brasil existem importantes centros tecnológicos que são considerados o “Vale do Silício Brasileiro” como os de Recife, Campinas, entre outros, que vem se destacando pelo foco em inovação tecnológica. Mas será mesmo que já podem ser comparados com o Vale do Silício? Para Reinaldo, os centros brasileiros podem ser referências nacionais, mas quando comparados com o resto do mundo, ainda estão muito no início desse processo. O que acontece é que há 10 anos aqui no Brasil não se falava de Startups e Empreendedorismo e não é possível construir um Vale do Silício Brasileiro em apenas 2 ou 3 anos. Temos que continuar incentivando cada vez mais a cultura empreendedora no Brasil e realmente fazer acontecer, estamos caminhando para isso.
Reinaldo destaca que apenas alguns lugares possuem uma mentalidade parecida com a do Vale do Silício, como: Los Angeles e Seattle nos EUA, e Israel, considerado o segundo ambiente mais inovador do mundo.
Mas como traduzir a cultura do Vale para o Brasil? Primeiro não podemos achar que tudo o que funciona no Vale irá funcionar da mesma forma no Brasil. Falamos sobre isso com Camila Farani, Cofundadora do MIA – Mulheres Investidoras Anjo, que acredita termos muitas diferenças em questões de legislação, fornecedores, mercado e principalmente cultural. “Precisamos levar em conta que no Brasil existe uma grande burocracia para a abertura de empresas, difícil acesso a capital e também uma alta carga tributária, por isso, não devemos copiar o que eles fazem, mas sim nos espelhar e moldar de forma que seja eficaz para o Brasil” destacou.
Nesta última quarta-feira, dia 10, acompanhei o evento Salesforce Essentials 2015, em São Paulo, organizado pela Beats Brasil, onde se destacou o painel sobre Lições de Inovação do Vale do Silício para empresas brasileiras. Achei interessante alguns pontos levantados durante o painel sobre as principais diferenças entre Brasil e Vale do Silício e compartilho aqui com vocês os principais.
Para Camila a principal mudança que deve ocorrer no Brasil é a forma que lidamos com o fracasso. Nossa cultura avalia o fracasso como erro, se você abre uma empresa que não dá certo, você é a ovelha negra da família, coisa que no Vale do Silício é totalmente aceitável, errar, aprender com os erros e continuar.
Murilo Gun, Empreendedor e Humorista, conta que a maior lição que teve durante o período que estudou na Singularity University – uma parceria entre a Nasa, Google e outras grandes empresas – e que deve ser incentivado aqui no Brasil, cada vez mais, é a experimentação de ideias. “Nossa cultura nos ensinou a colecionar vários “achismos”, “Acho que as pessoas precisam disso”, “Acho que as pessoas comprariam algo assim”. O empreendedor acaba investindo dinheiro, lançando o produto e quando esse produto chega ao mercado, não obtém o resultado esperado, isso por que o empreendedor não validou corretamente sua ideia” finaliza Murilo.
Para Reinaldo, no Vale, é comum encontrar pessoas nas ruas abordando desconhecidos e mostrando ideias no papel, ainda no rascunho, perguntando se as pessoas usariam aquele produto/aplicativo. Já viram isso no Brasil?
Outro ponto bastante diferente entre Brasil e Vale do Silício discutido durante o painel é a questão do compartilhamento de informação. Camila afirma que aqui no Brasil existe uma grande preocupação em proteger a ideia. “Muitos me dizem que vão me mandar a ideia e que eu preciso assinar um NDA (Acordo de não divulgação), mas ainda é uma ideia, já é preciso assinar acordo de confidencialidade?” O brasileiro não gosta de compartilhar ideias por medo de serem roubadas.
Reinaldo conta que uma grande diferença entre as Startups brasileiras com as do Vale do Silício é que lá elas pensam Global, criam um produto que vai crescer e será usado por todos os países do mundo. Já aqui no Brasil, o pensamento é local, dominar São Paulo, Rio de Janeiro, o Nordeste, Brasil e no máximo, a América Latina.
Outra diferença também é que lá as soluções são mais simples, “Aqui tendemos culturalmente a pensar em soluções muito complexas que em longo prazo não funcionam, pois não são repetíveis, simples, nem escaláveis. No Brasil temos a ideia de que o simples é ruim, falta alguma coisa e na verdade é o simples que funciona” afirma Reinaldo.
Murilo Gun conta que no Vale do Silício desde o programador até a pessoa do marketing sabem apresentar o Pitch. Aqui no Brasil temos o costume de dividir as tarefas e com isso, podemos acabar perdendo oportunidades. E se o seu programador pega o elevador com um potencial investidor? Ele está preparado para o Pitch? Todos devem saber de cor, explicar no máximo em duas frases o que é o seu negócio.
Existem diversas diferenças e pontos que precisam ser melhorados para que o ecossistema de Startups Brasileiro se fortaleça cada vez mais, como falei anteriormente, estamos caminhando para isso.
Precisamos acabar com a cultura do “Não pode fazer isso”, “Não pode fazer aquilo”, devemos acreditar e incentivar cada vez mais os jovens. “Se a pessoa acha que pode fabricar um foguete deixe-o acreditar e sonhar! Não censure! Se fizermos isso, as coisas mudarão em longo prazo. Encare riscos! Sair da zona de conforto é fundamental. Precisamos criar mais ambientes que valorizem a criatividade. Precisamos entender que hoje o certo não é mais seguir uma tendência, mas sim, criar as novas tendências.
E você, o que acha dessa comparação? Deixe sua opinião abaixo ou envie sugestões para as próximas matérias pelo email: [email protected]
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