A comida é muito melhor aqui na Terra. E tomar banho e ir ao banheiro também são coisas bem mais fáceis de fazer aqui. Mas você passa por um processo de adaptação estranho quando volta à Terra.
A primeira coisa que se nota é que tudo parece muito pesado. Depois de 95 dias na Estação Espacial Internacional, voltei para a Terra no ônibus espacial Discovery. Tirei o capacete e parecia que eu estava segurando a âncora do U.S.S. Nimitz. Ah, que ótimo, pensei, como é que vou escovar os dentes — a escova vai estar muito pesada!
A próxima coisa que você nota é que o seu sistema vestibular está todo desarrumado. Atividades simples, como sentar, precisam de muita concentração. Depois de cerca de 15 minutos eu conseguia ficar de pé, mas eu teria caído se não houvesse um monte de coisas para me apoiar no Discovery.
Como você pode ver, o seu cérebro é extremamente adaptável. Depois de apenas alguns dias no espaço, ele descobre que seu ouvido interno está produzindo nada além de sinais ruins, então reduz a amplificação em seu filtro de Kalman e intensifica a amplificação dos seus sensores visuais, os olhos.
Fica ótimo, até a hora de voltar para a Terra. Agora você precisa de seu sensor do ouvido interno de novo, mas o cérebro ainda está filtrando estes sinais. Aos poucos, o cérebro o calibra novamente, mas isso leva um tempo.
Para mim, o processo foi muito rápido. Não sei por que, mas informalmente posso dizer que as pessoas baixas e troncudinhas se readaptam mais rapidamente do que as altas e esguias. Esta foi a segunda vez na minha vida que ser baixinho valeu a pena. (A primeira vez foi durante concursos de limbo no Bar Mitzvahs, em New Jersey, no início dos anos 80).
Depois de cerca de uma hora, eu conseguia caminhar ao redor do Shuttle na pista do Centro Espacial Kennedy e já era capaz de ir a um bar local com os meus colegas de tripulação. Consegui, aliás, comer metade de um cheeseburger e tomar meia cerveja.
No meu segundo voo, STS-132, que foi de apenas cerca de 2 semanas de duração, fomos para o mesmo bar e eu pedi um cheeseburger inteiro e um copo inteiro de cerveja. Então, quando as pessoas me perguntam qual foi a diferença entre um voo espacial de longa duração e um voo espacial e de curta duração, eu tenho uma resposta quantificável: um meio-cheeseburger e meia cerveja!
Imagem: Garrett Reisman no espaço via Wikimedia Commons
Sobre o autor: Garrett Reisman, ex-astronauta da NASA
Como é viver na Terra depois de viver no espaço? foi publicado originalmente no Quora. Você pode acompanhar o Quora noTwitter, Facebook e Google+.
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