Ao abrir uma empresa, muitos brasileiros chamam parentes para fazer parte dela. No início, não é raro o empreendedor ter cônjuges e irmãos como sócios, além de outros membros da família ajudando na operação e na gestão.
“Esse cenário é semelhante em todo o mundo: estima-se que dois terços das empresas sejam familiares e que elas criem três de cada quatro postos de trabalho”, afirma o espanhol Manuel Bermejo, diretor da IE Business School, uma das mais respeitadas escolas de negócios do mundo.
Mas, conforme o negócio cresce, aparecem divergências, conflitos e até separações. Nesses momentos, é difícil separar o lado pessoal do profissional e proteger o interesse e o patrimônio da empresa.
A melhor estratégia para evitar esse problema é fazer boas escolhas e acordos desde o princípio, afirma Bermejo. Ele conversou com o Papo de Empreendedor e deu mais conselhos para construir uma sólida empresa familiar.
Quando é uma boa estratégia ter um parente como sócio?
A escolha do sócio é crucial. O empreendedor precisa saber claramente por que quer esse parceiro: por seu capital, experiência, rede de relações ou trabalho?
Escolher uma pessoa só por ter confiança nela não é um bom critério. Mas isso nem sempre ocorre. O que costuma acontecer é que quando o negócio se consolida e cresce, o fundador deseja transcender sua obra e deixa a família entrar.
Como evitar que conflitos na empresa prejudiquem a convivência familiar?
Conflitos acontecem quando o empresário não toma providências – e isso é ruim. Não se devem misturar as duas esferas. Mas, para isso, é preciso ser muito disciplinado ao separar esses dois espaços.
Quando a empresa cresce, institucionaliza esse fenômeno de separação criando um conselho de família – para tratar dos assuntos pessoais – e um conselho de administração, para falar dos desafios dos negócios.
O negócio cresce, a família também: surgem filhos e mais familiares, ou seja, mais acionistas. Como o fundador mantém o nas decisões?
Quem comanda uma empresa familiar sempre deve levar em conta o desafio duplo de família e negócios. Uma ferramenta muito usada para organizar ideias a esse respeito é o protocolo [ou acordo] de família.
É nele que todos combinam a pauta do desenvolvimento da empresa e se assentam as bases que permitem o crescimento do negócio e a relação harmônica entre os membros da família.
Em que momento é preciso se preocupar com o patrimônio?
Desde o início. Uma recomendação importante é separar o patrimônio da família e o da empresa. Para isso, é preciso organizá-la como se não fosse familiar.
Os sócios também buscam rentabilidade do investimento que fizeram no negócio. Por isso, um processo fundamental da gestão é separar o recurso destinado a remunerar os acionistas. Esse é um princípio sagrado, seja a empresa familiar ou não.