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Como um robô roubará o seu emprego


Em uma visita à linha de montagem do injetor de combustível da Standard Motor Products na Carolina do Sul, o escritor da Atlantic Adam Davidson perguntou por que uma trabalhadora de lá, Maddie, estava soldando tampas nos injetores. Por que não usar uma máquina? É assim que muitas das outras tarefas da fábrica são realizadas, afinal. O supervisor de Maddie, Tony, tinha uma resposta pronta e direta: “Maddie é mais barata do que uma máquina.”

A complexa e provocativa matéria de Davidson, Fazendo na América, revelou alguns dados chocantes sobre para onde a fabricação norte-americana caminha. É uma questão de matemática pura e simples. A Maddie produz, em dois anos, menos do que uma máquina de US$ 100 mil custaria, então seu emprego está garantido — por enquanto.

Em todos os lugares dos Estados Unidos os robôs estão ficando mais baratos e mais sofisticados, e eles estão fazendo melhor serviços mais avançados. Eles dirigem carros, escrevem artigos jornalísticos e preenchem prescrições, substituindo pessoas com anos de formação e treinamento. Isso soa como uma clássica história de ficção científica, mas esse desconcertante futuro não está no futuro. Já está acontecendo, agora, no presente.

Quais as chances do seu emprego (da sua carreira) ser a próxima a ser desempenhada melhor por uma máquina? Preocupantemente altas.

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Se você é um fã de esportes normal que acompanha as competições nos EUA (ou leitor fiel do Gizmodo), talvez já tenha ouvido falar da Narrative Science. Mas se você vive disso, de escrever sobre esportes, certamente já ouviu falar dela — e provavelmente sabe que ela está à espreita da sua carreira.

Parte de um projeto de pesquisa conjunto das escolas de engenharia e jornalismo da Universidade Northwestern, a Narrative Science foi fundada oficialmente em 2010. Hoje, ela é liderada por um pequeno grupo misto de cientistas da computação, jornalistas e executivos que tem como meta usar dados para criar histórias através da plataforma de inteligência artificial da empresa, a Quill. A Quill pega os dados das quais se alimenta (estatísticas de um jogo de futebol, por exemplo) e em segundos produz notícias. Elas não ganharão nenhum Pulitzer, mas às vezes saem melhores do que as produzidas por humanos.

Ano passado o site de esportes Deadpsin desafiou a Narrative Science a escrever um artigo sobre baseball melhor do que um que eles acharam em um jornal local. Na notícia, o repórter enterrou o lead (de que o arremessador tinha feito uma partida perfeita) próximo do final do artigo. A Narrative Science inseriu os resultados da partida na Quill e eis que ela retornou um artigo que anunciava o jogo perfeito logo de cara, no início.

Pablo S. Torre é um ex-escritor da Sports Illustrated e atual escritor sênior da revista ESPN e ESPN.com. Ele diz que embora escritores de artigos mais longos e elaborados estejam provavelmente anos longe de terem que se preocupar com computadores tomando seus empregos, graças aos nuances requisitados por eles, quem escreve hard news não tem tanta sorte.

“Minha impressão é de que um número crescente de leitores casuais estão pulando direto para o quadro dos placares,” me disse Torre em um bate-papo online. “Se eles estão lendo a história de um jogo, estão tentando identificar o melhor lance ou os momentos mais interessantes de um jogo como parte de uma tendência geral favorável a resumos rápidos e destaques em listas. Se um robô pode chegar próximo disso de forma assemelhada à inteligência humana, então há algo aqui a ser temido.”

Torre acredita que na medida em que a sociedade embarca na onda concisa do “apenas os fatos, madame”, veremos uma corrida sem linha de chegada entre jornalistas de agências de notícias e afins que lutam para competir com programas que podem elaborar uma história do jogo rapidamente baseados apenas em lotes de estatísticas.

“Não é que as agências não façam um trabalho tremendo — elas fazem, e ele é continuamente desvalorizado,” disse Torre. “Mas é porque o que se deseja geralmente, pós-jogos e de dentro do campo, não é uma narrativa bem construída.”

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Tal qual jornalistas, os farmacêuticos formam outro grupo de profissionais com formação que veem seus empregos em risco por causa de robôs. Ano passado, o jornalista da Slate Farhad Manjoo, cujo pai é farmaceuta, viu o PillPick, um robô que fora instalado para preencher prescrições no Centro Médio da Universidade da California-San Francisco. O PillPick é enorme e caro, mas a máquina, criada por uma empresa chamada Swisslog, é também extraordinariamente eficiente e mais precisa do que qualquer ser humano. Você talvez queira essa qualidade em um serviço que lida com medicação potencialmente tóxica: especialistas estimam que mais de um milhão de pessoas são afetadas e sete mil mortas devido aos chamados “erros de medicação” por ano.

Veja o PillPick em ação:

O robô parece mais frio e mais feio do que o cara boa praça da farmácia do seu bairro, mas isso importa se ele faz um bom trabalho?

Antes de instalar o robô, a UCSF precisava de metade da sua equipe de 100 farmaceutas para administrar e verificar os remédios que deveriam ir para os pacientes. Agora, praticamente todos foram remanejados para diferentes partes do hospital, onde eles aplicam injeções, ajudam a aperfeiçoar as posologias dos pacientes e desempenham outras tarefas que eram negligenciadas quando eles tinham que simplesmente preencher prescrições. O robô farmaceuta custou US$ 7 milhões para ser instalado — menos do que um ano de salário de todos aqueles farmaceutas — e quando está funcionando em capacidade máxima, pode prescindir mais de 10 mil doses por dia. Desde que entrou em operação, ano passado, o robô já preencheu 350 mil prescrições sem um único erro. (O primeiro erro encontrado foi um problema de impressão, rapidamente detectado por operadores humanos.)

Com a sociedade se tornando mais e mais dependente de uma gama constantemente crescente de remédios, o Bureau de Estatísticas Laborais espera que a necessidade por farmaceutas cresça em 25% entre agora e 2020. E com o salário médio deles sendo algo em torno de US$ 110 mil, os farmaceutas humanos são relativamente caros de manter. Com isso em mente, não chega a ser surpreendente que mais e mais hospitais estejam escolhendo o PillPick para substituir suas equipes de farmaceutas. No começo do ano, o Hospital Central de Benxi, um dos maiores da China, fez o pedido de um robô PillPick. Em julho, o maior hospital de Singapura comprou cinco PillPicks.

As vendas para Singapura foram um “ponto de inflexão,” disse Stephan Sonderegger, chefe de soluções em saúde da Swisslog na Ásia, em um comunicado à imprensa. Em outras palavras, caso os espertos acadêmicos de Farmácia estejam pensando em mudar de curso, talvez seja hora de considerar o fantástico programa de robótica do MIT.

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Com robôs ocupando tanto posições que demandam muita habilidade quanto as que qualquer um faz, seria tolice de sua parte pensar que um deles jamais afetará a sua carreira. Além de tudo isso, os robôs estão se tornando muito mais efetivos em termos financeiros do que jamais foram no passado. Ainda custa milhões para equipar uma farmácia com o PillPick, mas um novo robô chamado Baxter da Rethink Robots Inc., de Boston, foi posto no mercado por US$ 22 mil. Isso é mais ou menos o que um trabalhador de uma linha de montagem ganha anualmente. Com a diferença de que o Baxter nunca pede para ir ao banheiro, nem licenças por problemas de saúde ou férias.

“Este robô nunca montará um iPhone,” disse Rodney Brooks, fundador e CTO da Rethink Robots, para uma plateia em um evento de robótica em Pittsburgh, nesta semana. Mas o Baxter é capaz de fazer coisas que demandam menos destreza, como pegar peças de uma esteira e colocá-las em outro lugar, ou separar e empacotar produtos para despachar. Com mais de US$ 60 milhões em investimentos de capital de risco mantendo a Rethink Robotics operante, provavelmente não demorará muito para que o sucessor do Baxter consiga, de fato, montar um iPhone.

Foi só nesta semana que a Foxconn, a empresa chinesa que fabrica muitos dos nossos gadgets favoritos, deu início ao plano de comprar um milhão de robôs para substituir trabalhadores humanos. Quando esse dia chegar, milhares de homens e mulheres trabalhando nas plantas de montagem chinesas da Apple ficarão desempregados. Você se pegará pensando, apesar dos conhecidos abusos laborais da Foxconn, se aqueles empregos eram melhores que nada.

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Em O Exterminador do Futuro, os robôs se rebelam e acabam com o mundo dos humanos. Esse cenário da Skynet era assustador, mas um futuro mais plausível também intimida. Os robôs não nos exterminam diretamente — eles lentamente nos empurram para fora dos nossos empregos, empobrecendo os trabalhadores do mundo até que estejamos matando uns aos outros para permanecermos vivos.

Escrevendo para o io9 no começo do ano, o cientista da computação e futurista Federico Pistono imaginou o horror:

“Sem um plano alternativo para ajustar a um novo paradigma, podemos esperar o pior. Agitação civil, tumultos, brutalidade das forças policiais e angústia generalizada da população continuarão subindo até chegar a níveis críticos, ponto no qual todo o sistema socioeconômico desmoronará sobre si mesmo. Isso tem repercussões negativas por todo o espectro da população e é algo oposto aos interesses de cada pessoa deste planeta, mesmo das mais ricas.”

Illah Nourbakhsh, um professor de robótica na Universidade Carnegie Mellon, concorda com Pistano. Nourbakhsh, autor do livro ainda a ser lançado Robots Futures, diz que o “desemprego crônico” que os robôs podem criar tem potencial para ser “muito, muito ruim.” Mas ele também me disse que ainda não é tarde para evitar isso.

“Quando as pessoas querem construir uma nova fábrica, o governo as obriga a fazer um estudo de impacto ambiental para avaliar qual o impacto que a fábrica terá em todo o ambiente ao seu redor. Eles olham o que acontecerá à biodiversidade e, se houver a liberação de material tóxico, encontram uma forma de remediar isso. Acho estranho não haver nada do tipo para os empregos.”

Nourbakhsh diz que ele gostaria de ver a introdução de “avaliações de impacto nos empregos.” Elas exigiriam que a migração das empresas para trabalhadores autômatos fosse calculada (e então houvesse tentativas de atenuar) os danos que elas estariam prestes a causar ao mercado de trabalho humano. “Precisamos ter esses tipos de controles,” diz ele, “porque os chefões da indústria farão o que for preciso para ganhar mais dinheiro e substituir humanos por robôs sempre os fazem ganhar mais dinheiro.”

A responsabilidade para prevenir um mundo dominado pelo trabalho mecanizado não está somente nas mãos dos CEOs e dos titãs da indústria. Nourbakhsh diz que os consumidores precisam começar a se perguntarem o que querem da sociedade. Serviços perfeitos de robôs? Ou as sutis qualidades que só humanos podem oferecer?

“O Google está criando motoristas robôs para carros, mas o chofer robótico não dará uma ótima recomendação do melhor café da manhã de Nova York,” disse. “Nós perdemos esse tipo de nuance e coisas divertidas com robôs. Precisamos começar a dar um real valor nelas, da forma que damos aos custos de trabalho dos robôs — porque elas importam.”

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