Fonte: Exame.com – Em 2007, os jovens Brian Chesky e Joe Gebbia dividiam um apartamento em São Francisco, nos Estados Unidos, e procuravam maneiras de aumentar a renda. Uma das ideias que surgiram foi colocar colchões na sala e alugar o local para participantes de uma conferência que aconteceria na cidade.
Criaram um blog para atrair hóspedes, e o resto é parte da história da internet. A dupla, junto com outro amigo, Nathan Blecharczyk, criou o site Airbnb, uma plataforma onde pessoas com quartos livres podem alugá-los para desconhecidos. A empresa é hoje avaliada em 13 bilhões de dólares e, se os três sócios forem em frente com os planos, deverá abrir o capital na bolsa americana neste ano.
É um caso clássico de inovação disruptiva — a despretensiosa ideia nascida da necessidade de aumentar o orçamento está transformando a indústria hoteleira mundial.
Entre a fase do colchão na sala e a de quase celebridades do Vale do Silício, os três jovens passaram por uma aceleradora de startups, um programa com o objetivo de treinar empreendedores por meio de palestras, consultorias e encontros com empresários mais experientes e investidores.
No caso do Airbnb, a aceleradora foi a Y Combinator, uma das mais respeitadas do mundo. Em 2005, Paul Graham, empreendedor e investidor de sucesso, dava palestras pelos Estados Unidos para pessoas interessadas em criar o próprio negócio. Falando com jovens, percebeu como eles tinham dificuldade para encontrar investidores.
A partir disso, ele e alguns sócios formataram um curso de verão que serviria para que selecionados pudessem trabalhar e ter o feedback de pessoas com experiência no mercado. Começava ali o que meses depois se tornaria uma novidade no ecossistema da inovação.
A Y Combinator oferece 140 000 dólares para as despesas dos empreendedores selecionados e fica com 7% das empresas — o fato de as aceleradoras comprarem um pedaço das startups é o que as distingue das incubadoras.
No último processo seletivo, mais de 5 000 pequenas empresas de várias partes do mundo — inclusive do Brasil — se inscreveram pela internet. Desse grupo, 400 foram chamadas para entrevistas pessoais no Vale do Silício. Foi desse grupo seleto que saíram as 140 selecionadas para o programa.
O que chama a atenção no caso da Y Combinator é seu alto índice de sucesso. Além do Airbnb, o currículo da aceleradora conta com o Dropbox, empresa de armazenagem de dados na nuvem e outra estrela ascendente do Vale do Silício, que também deve abrir o capital neste ano.
Das mais de 840 startups que já passaram pelo programa, 600 ainda estão em atividade e valem, juntas, mais de 30 bilhões de dólares. Esse dado é relevante. Um estudo da Universidade Harvard mostra que cerca de 75% das empresas que recebem aporte de fundos de investimento acabam fechando as portas antes de dar algum resultado.
As empresas da Y Combinator também são as que mais conseguem investimentos após o encerramento do programa: mais de 4 bilhões de dólares ao todo, quatro vezes mais do que a segunda colocada no ranking das aceleradoras mais bem-sucedidas.
Já no começo do programa da Y Combinator, as startups recebem metas para o desenvolvimento de seus produtos. “Você define quem serão seus mentores com base no negócio que está desenvolvendo”, conta Roberto Riccio, presidente da Glio, uma rede social para avaliação de comércios locais e única brasileira até agora a participar do programa da Y Combinator. Boa parte dos mentores costuma ser de empreendedores que já passaram pela mesma situação.
“É uma espécie de gratidão. As pessoas foram ajudadas quando estavam começando e agora repassam esse conhecimento”, diz Michael Seibel, fundador da Twitch TV, plataforma de streaming de vídeos adquirida pela Amazon por 970 milhões de dólares no ano passado, que também passou pela Y Combinator.
Ecossistema
A partir desse sucesso, várias aceleradoras foram surgindo. A 500 Startups, também do Vale do Silício, é outra grande referência nessa área. “A gente já tinha tentado fazer nossa empresa funcionar muito tempo antes de ir para lá. Chegamos à aceleradora numa época decisiva: ou encontrávamos o conhecimento de que precisávamos, ou saíamos do negócio”, conta Vinicius Roveda, da ContaAzul, empresa de software de gestão para micro e pequenas empresas com sede em Joinville, Santa Catarina, que passou pela 500 Startups em 2011.
“Queríamos conhecimento para tocar o negócio, mas, olhando agora, vejo que nem sabíamos exatamente o que estávamos buscando”, diz Roveda. Hoje, a ContaAzul tem mais de 100 funcionários e é considerada uma das startups mais promissoras do país.
No Brasil, as aceleradoras ainda engatinham. A mais exitosa delas é a 21212, do Rio de Janeiro. Criada em 2011, a experiência carioca já conta com um portfólio de 40 startups aceleradas, entre elas a Zero Paper, empresa de software de gestão financeira vendida para a americana Intuit em janeiro. As duas partes não divulgaram o valor da transação, mas o mercado o estima em cerca de 20 milhões de dólares.
O Brasil não chega nem perto da experiência inglesa, a mais exitosa fora dos Estados Unidos. As startups que já passaram pela aceleradora SeedCamp, de Londres, já arrecadaram 131 milhões de dólares. Uma das explicações para a falta de destaque do Brasil nessa área é o número reduzido de investidores.
Na tentativa de sanar esse problema, o governo criou em 2012 o programa Startup Brasil, que concede 200 000 reais às empresas selecionadas por meio de edital. Para participarem do programa, que foi inspirado em um similar feito no Chile, as empresas devem concordar em passar um ano em uma das aceleradoras selecionadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Tentar replicar o ecossistema existente no Vale do Silício é uma obsessão em várias partes do mundo — e as aceleradoras são parte importante dessa receita de sucesso, algo que ficará ainda mais evidente se a Airbnb e o Dropbox atraírem a atenção dos investidores na bolsa. Mas o caminho é longo.
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