Aviso: este post reconhece e contextualiza a importância do BuzzFeed (contendo uma entrevista com o vice-presidente internacional) e não o acusa de ser pouco original (acho que a curadoria deles tem criatividade e que os empreendedores responsáveis são foda).
O conteúdo move as pessoas. A emoção e a intenção viajam pelos caracteres, cliques, shares, likes. Convenhamos: investidores e empreendedores adoram shares, né? Mas shares no sentido de participação nos negócios, não apenas compartilhamento de conteúdo. Rá!
Deixando de lado a piada interna de startupeiro: o uso generalizado, intenso e diversificado de redes sociais e aplicativos móveis fizeram a Web impactar o comportamento das pessoas, a lógica dos relacionamentos e a dinâmica dos negócios e da economia. Para muitos negócios tradicionais, a exemplo dos meios de comunicação tradicionais de massa, isso não tem graça – além de precisarem manter vivos os seus modelos de funcionamento antigos, ainda precisam aprender a experimentar (ou experimentar aprender?) os novos sistemas. E não me refiro a sistema no sentido de software; também não gosto de dizer “novos meios” porque a Internet e os celulares já são bem manjados. Me refiro mesmo é ao admirável mundo novo no qual os antigos donos do jogo, do campo e da bola agora se descabelam para entender como o poder muda de mãos (na ponta dos dedos).
Uma das principais evidências da descontinuidade (ou disrupção, como virou moda dizer) que aplaca os modos de manutenção do status quo (status que? – sim, pois é isso que mídia faz) é o site BuzzFeed. Para muitas pessoas sérias e cultas, trata-se apenas de mais um site de entretenimento com coisas engraçadas que distraem e roubam tempo precioso – e elas só sabem que existe porque “conhecem uma pessoa” que vive compartilhando na rede. Para essas outras tantas pessoas despojadas que tem uma dieta informacional assumidamente buzzfeedtariana, também se trata só disso e nada mais.
Eu pedi pra Manu Barem, editora-chefe do BF no Brasil, me apresentar ao Scott Lamb, vice-presidente internacional da empresa, durante sua mais recente passagem por São Paulo. Isso foi anteontem no youPIX Festival e rendeu uma boa conversa que gravamos em vídeo – assista.
Para o criador da coisa toda, Jonah Peretti, o BuzzFeed tratava-se apenas de um cantinho para experimentação, um quarto de brincar, uma sala da bagunça, uma caixa de areia (hehe). Um rascunho, um passatempo, um universo paralelo… ah, chega, você já deve ter entendido (parece uma lista do BuzzFeed com “42 coisas que ocupam o mesmo tempo e espaço que o nosso site na sua vida” – é impressionante como essa coisa contagia). O jovem curioso trabalhava como co-fundador do Huffington Post – ao lado de Kenneth Lerer (que já investiu em mais de 140 startups com o filho) e de Arianna, que emprestou o sobrenome para batizar o site – até que a belezinha foi vendida à AOL por 315 milhões de dólares.
Peretti e o HufPo surfavam no jornalismo cidadão mas não especificamente na “viralização” das ideias, em si. É aí que entrou o BuzzFeed: tal qual um vírus carregado de mais vírus, o BuzzFeed entrou no inconsciente coletivo junto com a categoria que representa, passou a ser definidor do “espírito do nosso tempo” – ou, como diria Goethe (e Götze), é o zeitgeist. Aliás, também é Zeitgeist o nome do relatório anual com termos que mais foram tendência de busca no Google (veja aqui) e é justamente a este tipo de associação que estou me referindo.
O BuzzFeed e o Google Zeitgeist são o que as Havaianas e o Bombril são para todos seus competidores e similares: definidores de categoria. Sinal dos tempos 😉
Mas o TechCrunch (e aí está outro definidor de categoria que também já passou de nome próprio para nome comum, como na frase “tipo o techcrunch do Brasil” ou “da Alemanha”) acredita que o BuzzFeed não é o presente, mas o futuro, quer ele morra ou sobreviva). De qualquer forma, o BuzzFeed lidera a turma dos links que você não precisa clicar porém te fazem pensar ‘mas por que não'”. Mas o que começou sem pretensão nem plano de negócio não virou por acaso: o empreendedor está por trás da criação da função de reblog presente hoje em vários sistemas (como Twitter e Tumblr), portanto tem pegada para essas coisas. E convenhamos: as pessoas repetem e replicam suas ideias e padrões desde o surgimento da linguagem e da consciência (pois foi por meio do reconhecimento e da repetição de padrões que consciência e linguagem surgiram). Por isso que, depois de um certo tempo, tudo parece igual, como num exército dos clones.
Também não foi por acaso que o fenômeno de leitura virou um baita negócio. Do que o povo do BuzzFeed se alimenta? Entre 2008 e 2013, a empresa captou mais de 46 milhões de dólares de investidores, em quatro rodadas de financiamento. E tem mais: seus avassaladores 150 milhões de leitores (quase um Brasil inteiro) atraem altas verbas publicitárias. A empresa também já adquiriu outros produtos e empresas: Kingfish Labs (Yoke) e Star.me.
Mesmo perante tudo isso, não nos deixemos impressionar. Em visita ao Brasil em 2009, Ben Hu, criador da rede de “sites de gatinhos” I can has Cheeseburger, explicou ao público do youPIX Festival: “os seres humanos admiram a sofisticação mas recompensam a simplicidade”. Sejamos razoáveis: listas tornam as coisas mais otimizadas, gerenciáveis, simples. Alguns reclamam que o BuzzFeed (e tantos outros) só otimizam o seu entreteni-conteúdo em forma de listas para tirarem proveito da quantidade de cliques ou do tempo de navegação e aí aumentarem sua receita com publicidade. Bem, pelo menos eles não se posicionam como tendo a última e melhor verdade do horário nobre após passarem o dia transmitindo coisas que parecem umas listas tipo BuzzFeed só que mal-feitas, defasadas, enroladas e “no armário”.
A gente não quer só comida
A essa altura da história da humanidade, do texto e da madrugada de trabalho (após três dias envolvido em atividades de inovação em outra edição do evento), me lembro de outra frase, dita pelo meu sócio Michael Nicklas: “tome cuidado com o que você deseja”. Eu só desejava entender o que eu, você e o meu site, que nos une, temos a ver com a história do BuzzFeed, que não inventou nada, não criou nada, mas pegou carona em comportamentos típicos do ser humano: categorizar, agrupar, resumir, entreter, desopilar, contar pr@s amig@s.
“Girls just wanna have fun”, explicava a Cindy Lauper, e eu acho que todo mundo também quer, ou ao menos se permite, dar uma escorregadinha de leve. Quem nunca andou com uma turma barra-pesada que se envolve com junk food? Quem não tem um primo que curte um porrnozinho? Quem não tem um colega que curte uma conversa fiada? Quem nunca fez ou nunca precisou de uma boa e velha listinha pra buscar o pão, e o ganha-pão? Nada é imaculado, nossas ideias não nos pertencem e nossas águas profundas escorrem de algum lugar para outro.
Droga! Seria o BuzzFeed uma espécie de Darth Vader vestido de Buzz Lighyear? Ou ao contrário? Imagine all the clicks on!
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