Os processos tecnológico-industriais de produção cultural são cada vez mais decisivos para a consolidação da interculturalidade e a formação do conhecimento acerca do espaço público, na medida em que contribuem para a expansão das redes de integração de diferentes mercados do mundo, sobretudo, na união de mercados amplos, como o Mercado Único Europeu e MERCOSUL (América Latina).
Atualmente, a grande demanda de informação disponível em todos os meios de comunicação (mídias convencionais e novas tecnologias) não é suficiente para a compreensão dos aspectos de integração de uma sociedade, além de comprometer de maneira crucial a análise crítica com relação ao que está ocorrendo nessas comunidades, suas preocupações, necessidades e aspirações. Em outras palavras, estamos enfrentando um novo cenário de produção que nos leva à criação de tendências sociais recentes na classificação e formação do conhecimento.
Como ponto de partida, traremos a tona os resultados obtidos no meu trabalho de tese doutoral “A midiatização intercultural do espaço social: uma análise comparativa dos conteúdos informativos dos telejornais espanhóis e brasileiros”. Esta pesquisa foi elaborada entre os meses de outubro de 2008 e outubro de 2011, por meio da orientação do doutor Enrique Castelló Mayo, professor titular do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha.
No que se refere às conclusões alcançadas nesta pesquisa, podemos oferecer uma ampla descrição da produção midiática do espaço social como sendo sumarizada, imediata e insuficiente para a compreensão dos distintos aspectos da vida social, política, econômica e cultural de ambos os países. Podemos ir além. O sistema de produção do conhecimento, a partir dos conteúdos informativos, é responsável pelo sensacionalismo, a distorção e a escassa contextualização dos acontecimentos que têm lugar no Brasil e em Espanha. Portanto, este é um problema que afeta o processo de formação do conhecimento dos diferentes contextos do espaço público. Por outro lado, somos conscientes da falta de interesse e iniciativa por parte das emissoras televisivas em melhorar e desenvolver novas abordagens da realidade.
Após a explicação desse ponto de homogeneidade significante com relação à perspectiva de mundo entre Brasil e Espanha, a discussão continua sobre os novos tempos de interculturalidade e diversidade cultural nos quais estamos vivendo, caracterizados pelo intercâmbio e pela integração de informação, educação e experiência. Como consequência, os meios de comunicação de massa exercem um papel importante como agentes dinamizadores neste processo, sendo responsáveis por uma parte considerável da compreensão do espaço público atual.
Deste modo, novas propostas de trabalho originais e inovadoras já estão sendo realizadas em diversas universidades espanholas no sentido de transformar os conteúdos informativos televisivos em uma fonte potencial de informação sobre temas políticos. Esta proposta consiste na utilização das notícias políticas na televisão digital como material didático-pedagógico para o processo de aprendizagem de línguas estrangeiras, mas, sobretudo, como uma alternativa para a formação do conhecimento do sistema político dos países. Os seus resultados têm potencial de repercussão na área de aprendizagem de línguas e no despertar de interesse, discussão e debates sobre assuntos de caráter político em jovens adultos e adultos, uma parcela valiosa do eleitorado tanto nos contextos políticos de Brasil e Espanha.
Por Amanda Paz, doutora em comunicação audiovisual e jornalismo pela Universidade de Santiago de Compostela.