Esta semana, aconteceu a edição de número 45 do Encontro Anual do Fórum Econômico de Davos, na Suíça, reunindo líderes de diversas nações, entre governantes, empresários, tecnologistas, cientistas e outros agentes de inovação e mudança. Tá, e daí?
As sociedades estão ficando cada vez mais interligadas, democráticas, ágeis e abertas. Mais instantâneas e criativas. Mas, mesmo com mais desafios e oportunidades de participação e protagonismo, mesmo com restabelecimento de uma classe média e lideranças emergentes, a desigualdade econômica é galopante.
A imprensa vem repercutindo estudos como o que aponta: 67 pessoas detém metade da riqueza do mundo. Uma projeção estima que, em 2016, mais de metade da riqueza do mundo pertencerá a 1% das pessoas (entre eles, 296 mil brasileiros). Só nos Estados Unidos, existem mais de 190 famílias bilionárias. Alguns podem chamar de “seleção natural”, sorte, mérito ou esforço, mas muitos destes ricaços estão preocupados também – sabem que não se trata apenas de inveja dos menos afortunados. A pobreza faz mal para o equilíbrio da sociedade e até do planeta (enquanto um ser vivo). Por exemplo, laboratórios farmacêuticos não criaram tratamentos para doenças consideradas “de pobre”, como o ebola, que foi considerada extinta mas recentemente causou muita preocupação em grandes centros.
Veja estudo da Credit Suisse – repare o que falam sobre o Brasil e a América Latina.
Veja estudo da Oxfam.
O objetivo aqui não é fazer um elogio à riqueza ou à pobreza, mas pensar sobre nossas conquistas coletivas, nosso discurso de fazer o bem, mudar o mundo. Questionar o próprio empreendedorismo como gerador de oportunidades e riquezas. Questionar a ideia de “hoje todos tem as mesmas oportunidades de perseguir seus sonhos e ficar ricos”. Que ganha-ganha é esse? Cadê o ganha-ganha-ganha, quem está ganhando com isso? Questionar a eficácia de tantos esforços coletivos e governamentais. De que adianta tanta ciência e programas de desenvolvimento econômico? Não, não vamos desistir. Vamos ser realistas.
Quando fiz a resenha do livro do Peter Thiel, “From zero to one”, salientei a visão dele de que existem duas forças econômicas principais impactando o mundo: a globalização, que é um vetor horizontal espalhador de desenvolvimento, e a tecnologia, que é um vetor vertical concentrador de poder econômico. Vemos startups tornarem-se bilionárias, figurando entre os maiores agentes econômicos em diversas áreas graças à sua tecnologia (seu poder de concentração econômica). Sabiam que, há poucos anos, 143 empresas controlavam 40% da riqueza de todas as maiores empresas do mundo? (Considerando 13 milhões de relação de sociedade/propriedade de empresas transnacionais) Veja. E o número de fusões e aquisições está acelerando.
Vemos também várias dessas serem agentes de geração e distribuição de renda para milhares, milhões de pessoas. Seja um site de hospedagens como o Airbnb, que só construiu um software e figura entre os 5 mais ricos grupos de hospedagem do mundo, juntamente com redes hoteleiras. Vemos aplicativos de táxi, carro compartilhado, motorista particular. Sites de financiamento coletivo e de microempréstimos interpessoais, como Kiva e BTCjam. Vemos agentes financeiros como Simple Bank, Grameen Bank e Nubank trazerem disrupção aos serviços bancários ao não cobrarem taxas dos clientes. Vemos sites de educação online permitindo que muitas pessoas ganhem dinheiro dando aulas. Vemos Google e Facebook, enquanto ficam ricos, habilitarem milhares de outros negócios que giram em torno de seus serviços.
Sejamos realistas: não é com tecnicalidades de criação de tecnologia ou de negócios, em si, que ficaremos ricos, espalharemos riqueza ou oportunidades. É com hábitos econômicos e financeiros. E isso não tem praticamente ninguém falando, fazendo ou ensinando.
Vivemos sim em uma era de propósitos, de altruísmo, sharing economy, de idealismo, mudança e um novo tipo de pragmatismo. Mas tem gente que ainda não está no Século XXI porque vive em condições medievais. E tem gente que ainda só persegue o próprio rabo querendo acumular e saciar sua vontade inesgotável de realização. Ambos são tipos de carência com certo grau de parentesco. Sim, empreendedor faz milagre, empreendedor é herói. Faz uma marca no universo. Investidor também. Educador também.
Temos de trabalhar juntos melhor. Temos de ver isso aí melhor.
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O post Desigualdade x oportunidade: tecnologia concentra e distribui poder econômico apareceu primeiro em Startupi.