O mapa acima é uma reprodução de um site que indica todas as manifestações de alguma maneira ligadas aos levantes realizados na Espanha. Segundo reportagem do Estadão, os motivos começaram com a aprovação de uma lei que afetaria os usuários de Internet do país, mas somaram-se a problemas menores e maiores que culminaram num grande questionamento do atual governo.
Da Espanha, os levantes inspiraram a Europa. Mas espere um minuto: não foi parecido com os levantes questionando, inicialmente, algumas decisões autoritárias do governo tunisiano, que acabaram por questionar o governo como um todo e culminaram na queda do ditador local, inspirando toda a chamada Revolta Árabe?
Seja como for, 2011 será historicamente um ano para ser lembrado. É quase nossa versão digitalizada e real-time de 1968, com cobertura in loco dos próprios participantes.
Em 1968, é verdade, estávamos, como brasileiros, envolvidos até o pescoço em manifestações políticas que seriam sufocadas por toda a década a seguir. Hoje, bem, hoje a economia vai bem; a dita esquerda, ainda que em sua versão bastante moderada, está no poder e tornamo-nos um povo mais acomodado, certo?
Aí alguém dá uma declaração bastante infeliz e um Churrascão de gente diferenciada é armado no coração de Higienópolis, atraindo no que parecia ser uma brincadeira todos os questionamentos possíveis sobre a decisão de se desviar a estação de Metrô dali.
Aí que alguns manifestantes a favor da legalização da maconha alinham-se ao movimento mundial da Marcha da Maconha, apanham de uma maneira desproporcional (aos olhos da opinião pública, não estou aqui julgando) e armam uma passeata ainda maior, envolvendo não só os defensores do orégano como também outras minorias que se identificaram com a repressão sofrida. Enfim, o tema ganha corpo, ganha um ex-presidente como uma das vozes favoráveis e vai parar na toda-poderosa Rede Globo.
Todas coisas que não param uma nação, como já foram, outrora, um #ForaSarney (este, de fato, bastante pífio), uma Lei Ficha Limpa e a mobilização contra a chamada Lei Azeredo, um pano de fundo muito parecido com o início da #SpanishRevolution. Também levamos os nossos brasileirinhos e brasileirinhas para as ruas. Abriu-se o diálogo.
Já falei disso anteriormente neste mesmo blog e este me parece ser o caminho sem volta de se fazer política em Mídias Sociais. Não foge muito à regra do que outros gurus xoxamediáticos já venderam em suas palestras: um pequeno tweet pode derrubar uma empresa. Neste caso, um pequeno caso mal-resolvido pode começar a derrubar um país.
E política aqui entende-se de maneira bastante ampla. Não é uma questão partidária ou de se votar no prefeito e publicar um post a respeito. Trata-se de como as pessoas estão encarando o mundo, se encarando. Um retrato de nosso tempo. Em como estabelecem relações entre si e como empresas ou esferas públicas são apenas mais um na conversa, ainda que aquele de quem mais se deseja uma resposta.
E, dia a dia, pouco a pouco, parecem esperar menos uma resposta televisionada.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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