No mundo das startups as coisas podem mudar rápido. O quão rápido? Não era nem um ano atrás quando a equipe da Behold Studios, startups de Brasília que cria jogos de entretenimento, tinha adotado como espaço de trabalho as mesas de uma livraria, por não ter condições de bancar um espaço próprio. Agora, na próxima sexta, eles, que já têm escritório próprio, embarcam para disputar prêmios no Independent Games Festival, em San Francisco, considerado pela indústria o “Oscar dos Games”.
A história da Behold começou como a de muitas startups: dentro da universidade. Saulo Camarotti e Pedro Guerra criaram o estúdio em 2009, enquanto estudavam na UnB e foram aceitos na incubadora da universidade. “Quando eles saíram da incubadora, o dinheiro foi acabando e o Pedro saiu da empresa, sem brigas nem nada, ele está super bem hoje. Foi quando começou a nossa fase na Livraria Cultura”, explica Ronaldo Notato, sócio da Behold que se juntou à companhia após a saída de Pedro.
A fase da empresa batizada de “Livraria Cultura” foi uma de “continuar no mercado, mesmo sem dinheiro para pagar uma sala”, conta Ronaldo. Foi quando eles conheceram o carioca Rafael Moraes, que havia se mudado para Brasília para trabalhar na área de Private Equity e Venture Capital. “Eu fundei a Garan Ventures, em sociedade com meu irmão, e a ideia era fazer investimento-anjo tradicional”, lembra Rafael.
“Quando decidi ser investidor-anjo, passei a frequentar o CDT/UnB (incubadora da Universidade de Brasília). Numa conversa com uma dessas empresas, perguntei quem era o maior destaque do CDT e responderam que era a Behold. Descobri então que a sociedade original havia sido desfeita, a Behold já não estava mais na incubadora e o sócio remanescente, Saulo Camarotti, havia juntado o que ele considerava o “dream team” do desenvolvimento de jogos em Brasília e estavam trabalhando no café da Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. Achei a situação surreal e fui até lá para conversar com eles”, conta o investidor.
Era o final de 2011 e as coisas estavam para mudar para o pessoal da Behold.
Da primeira conversa até o aporte efetivo foram mais de seis meses, mas as conversas com a Behold foram essenciais para que Rafael decidisse mesmo tocar a Garan. “Fiquei impressionado com a qualidade dos jogos e pensei que com um investimento mínimo já daria para dar a infra que eles precisavam (e mereciam). Por outro lado, os jogos deles, por falta de dinheiro para divulgação, tinham poucos downloads e era uma empresa praticamente sem faturamento”, explica Rafael.
Com o aporte, a startup se reestruturou: passou a ter cinco sócios principais, para dividir a sociedade como se a companhia tivesse começado do zero. Mas o dinheiro só caiu na conta em agosto de 2012 e, até lá, a equipe continuou trabalhando da livraria. Hoje, além dos cinco sócios, outros três funcionários foram contratados –a startup afirma que está tocando quatro projetos ao mesmo tempo com a nova estruturação.
Entre os grandes lançamentos da startup está o Save My Telly, um dos primeiros produtos da companhia a chegar ao mercado. “O jogo teve boas avaliações, mas não vendeu bem”, lembra Rafael. “Foi um pouco desanimador, mas eles mostraram o que vinha em seguida: um simulador de RPG em pixel-art. Não me animei muito porque nunca tinha sido jogador de RPG e nem saberia iniciar o jogo. Minhas expectativas ficaram baixas, até porque acreditava que era um jogo para um nicho muito específico. Mas, felizmente, eu estava errado!”, brinca o investidor. O novo jogo era o Knights of Pen and Paper (ou KoPP), que fez sucesso e chamou atenção de players internacionais –eles ainda não divulgam qual.
“Hoje, nós temos receita para nos manter. Nosso último jogo [o Knights of Pen and Paper] está fazendo sucesso, já passamos de 500 mil usuários desde outubro”, conta Ronaldo. O Knights of Pen and Paper foi tão bem que foi declarado como ganhador da categoria de estudantes do Independent Games Festival –a organização do prêmio escolhe os vencedores antes do evento. “São oito vencedores nesta categoria e já somos um deles. Lá [em San Francisco], haverá uma competição maior e também estamos concorrendo a prêmios maiores”, conta o sócio da companhia.