O lançamento do e-book “Curadoria digital e o Campo da comunicação” acontece no próximo dia 9 de outubro, às 18 horas no Auditório da Livraria da Vila da Vila Madalena, na rua Fradique Coutinho, 915, São Paulo, SP. Para fazer o download o livro aperte aqui.
A presença das redes digitais de informação e comunicação em nosso dia-a-dia – ou, mais simplesmente, a presença da internet – incorpora em nossos relacionamentos e trocas de informações uma sucessão de comportamentos, hábitos, linguajares, atitudes e ações que se transformam rapidamente em práticas sociais coletivas, ultrapassando os limites daquele do grupo de cidadãos conectados em rede digital.
Falamos, portanto, de fenômenos da cibercultura que empurram a sociedade como um todo para “estados” de compartilhamento e cognição coletivos. Tem sido assim quando uma hashtag como #calabocagalvão se transforma em capa de revista; quando o “churrasco da gente diferenciada” salta do Facebook para uma verdadeira aglomeração no bairro de Higienópolis, SP; ou quando termos de significado específico passam a identificar contextos e comportamentos ciberculturais – os portais, a arquitetura, os memes, e também curadoria.
O termo curadoria entrou na categoria dos ciber-significados de uma forma impactante e muito recentemente. O bem conhecido e consolidado curador das artes ou aquele curador gestor legal de patrimônios passaram a conviver com uma multidão de curadores da informação, curadores digitais, curadores de festas, de musicas, de programações, de coletâneas literárias, entre outras novas funções que necessitam de “cura” para se concretizarem.
Um dos primeiros questionamentos que um pesquisador do campo das mídias e comunicação digitais faz ao deparar-se com tal profusão de usos de um mesmo termo está na analise do seu potencial transformador das relações sociais. Quando isso acontece no meio digital, nos vemos acelerando analises e olhares para entender as implicações de um novo ciber-significado nos contextos da comunicação e da informação. Antes que o significado se perca.
Foi esse o leit motif inicial que o COM+ (Grupo de pesquisa em comunicação e mídias digitais da ECA, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) elegeu discutir o tema “curadoria digital” como seu foco de pesquisa ao longo do ano de 2011. Um tema com poucas referências cientificas, mas com muito uso social.
Toda atividade de pesquisa acadêmica no campo da comunicação só tem sentido se estabelece uma relação direta com vivencias e experiências. Especialmente se considerarmos o contexto cibercultural como o mais instigante campo de experimentações para sustentar nossas reflexões conceituais. Para acompanhar a velocidade das relações digitais há que se inverter o ritual tradicional do processo de pesquisa acadêmica. Há que se recorrer ao precioso campo das relações cotidianas para posterior sustentação e validação conceitual.
Assim ocorreu ao nos depararmos com as muitas “curadorias” presentes em nossos diálogos e relacionamentos digitais.
O COM+, por meio de seus pesquisadores e colaboradores, iniciou sua investigação por conta da desagradável sensação de que o termo curadoria estava sendo utilizado excessiva e deslocadamente pelos meios de comunicação, estimulados pela explosão curatorial no ciberespaço. Ao longo do ano de 2011 procuramos discutir textos – Curation Nation, de Steven Rosenbaun foi o primeiro deles; promover workshops – as professoras Giselle Beiguelman, da FAU- USP e Maria José Baldessar, do Departamento de Jornalismo da UFSC trouxeram luzes sobre os usos contemporâneos da curadoria; participar de eventos internacionais para entender de perto a aplicação da curadoria no mundo digital; iniciar pesquisas acadêmicas em níveis de mestrado e doutorado; e, acima de tudo, procuramos sistematizar a diversidade que encontramos ao longo deste processo.
Evidentemente, a discussão e a reflexão sobre curadoria digital não terminou e nem aponta para um consenso conceitual e empírico. É um tema ainda “em construção” como cunha o jargão cibercultura.
Mas, todo o processo vivenciado pelos pesquisadores do COM+ fez com que produzíssemos este e-book – “Curadoria Digital e o campo da Comunicação” como forma de estabelecer um dialogo mais amplo entre os muitos interessados no tema, além de cumprir com um dos papéis essenciais da pesquisa acadêmica: a produção e a transmissão de conhecimentos e conversações com a sociedade.
A principal conclusão a que o COM+ chegou ao longo desse período de pesquisa é que “curadoria digital” ainda não possui uma compreensão uniforme de seus significados no campo da Comunicação. É um tema multifacetado, com diferentes aplicações no contexto digital. A segunda principal conclusão a que chegamos foi a necessidade de manter em pauta essa discussão por meio deste e-book e sua fanpage no Facebook.
A proposta de “Curadoria Digital e o campo da Comunicação” abriga entre textos e vídeo olhares diversos sobre o que seria curadoria no campo da comunicação digital, discutindo desde as origens do termo e caracterização de sua atividade com o texto de Daniela Osvald Ramos; passa pela discussão da existência de algoritmos que exercem a curadoria na rede, com o texto de Beth Saad e Daniela Bertocchi; Carolina Terra analisa como ocorre a curadoria nas mídias sociais; Adriana Amaral discute a curadoria sob o ponto de vista da cultura; e chegamos à práxis curatorial vivenciada e explicada por Tarcizio Silva que contribui com a experiência das agencias e Heitor Ferraz que se coloca como um jornalista-curador em sua revista Samuel.
O COM+ espera que com a leitura deste e-book se desencadeie uma discussão mais ampla, mais coletiva e mais dialógica na construção de um conceito mais uniforme acerca da curadoria, ou até mesmo na desconstrução dos poucos consensos ora em uso.
Nossa intenção é questionar. Então, caro leitor, o que é curadoria para você? Estamos no Facebook para conversar!
Sobre os autores
Adriana Amaral é jornalista, mestre e doutora em Comunicação Social pela PUCRS com Estágio de Doutorado (CNPq) em Sociologia da Comunicação pelo Boston College, EUA. Atualmente, é professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Faz parte do Conselho Científico da ABCiber e da Aoir – Association of Internet Researchers. É autora de Métodos de Pesquisa para Internet (Ed. Sulina, 2011) juntamente com Suely Fragoso e Raquel Recuero e de Visões Perigosas. Uma arque-genealogia do cyberpunk (Ed. Sulina, 2006).
Carolina Frazon Terra é doutora e mestre em Interfaces Sociais da Comunicação, especialista em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, todos pela ECA-USP, e formada em RP pela UNESP/Bauru. É docente para os cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e das pós-graduações em Comunicação Organizacional e Digital, da ECA-USP. É autora dos livros Blogs Corporativos e Mídias Sociais…e agora? e editora do blog RPalavreando.
Daniela Bertocchi é jornalista com mais de 15 anos de experiência em mídia online. Mestre em comunicação digital pela Universidade do Minho, Portugal, e doutoranda pela Universidade de São Paulo. Integra a equipe de P&D da Editora Abril.
Daniela Osvald Ramos é graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de São Paulo (2002). Doutora na mesma instituição, na linha de pesquisa de Interfaces Sociais da Comunicação (2011). Desenvolve consultoria em comunicação digital, área na qual também é pesquisadora. Professora de Novas Tecnologias da Comunicação no curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e no curso de Pós- Graduação Lato Sensu da mesma instituição. Também é professora colaboradora do curso de Pós-Graduação “Comunicação e Semiótica” na Universidade Anhembi Morumbi e na Pós-Graduação em “Jornalismo Contemporâneo” na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Elizabeth Saad Corrêa é coordenadora do COM+, professora titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, Doutora em Ciências da Comunicação pela mesma instituição, Graduada e Mestre em Administração de Empresas pela FEA/USP. Coordena o curso de pós-graduação lato sensu DIGICORP – Gestão da Comunicação Digital Integrada em ambientes Corporativos. É autora de centenas de artigos em jornais e revistas da área, além de periódicos acadêmicos. Seu mais recente livro é Estratégias 2.0 para a Mídia Digital: internet, informação e comunicação, Editora SENAC-SP. É consultora em mídias digitais.
Heitor Ferraz é Jornalista formado pela PUC de São Paulo, é mestre em Literatura Brasileira pela USP. Colabora como crítico literário em jornais e revistas. É autor do livro de poemas Coisas imediatas[1996-2004] (7 Letras). Trabalhou no Jornal da Tarde, revista Cult, Edusp, Editora CosacNaify e Códex. É professor de Jornalismo Literário e Redação no curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.
Tarcízio Silva é Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, atua no mercado como Coordenador de Monitoramento e Métricas na agência Coworkers. Realiza pesquisa sobre o mercado de comunicação em mídias sociais, com ênfase em monitoramento e mensuração, e co-organizou livros e e-books como “Para Entender o Monitoramento de Mídias Sociais” e “Mídias Sociais: Saberes e Representações”. Escreve sobre pesquisa, business intelligence, monitoramento, mensuração e mercado em seu blog.