Carlos Ruas, criador do blog Um Sábado Qualquer, mostra irreverência e muito humor em seus quadrinhos para falar de um dos assuntos mais polêmicos do mundo: a religião. Hoje, Um Sábado Qualquer é um dos blogs de tirinhas mais acessados do país com mais de 45 mil acessos diários e é ganhador do prêmio HQmix de 2012.
1. De onde surgiu a ideia de criar o Um Sábado Qualquer?
Sempre amei quadrinhos. Fazia desenhos em toda folha e mesa branca que eu via.
Me formei em desenho industrial e comecei a trabalhar em uma empresa de Design. Nesse tempo resolvi criar os meus personagens, colocar em prática um desejo que eu sempre tive.
O tema veio de um outro assunto que eu adorava, estudar religiões e mitologia. Como tinha um bom conhecimento sobre o assunto e era um bom tema a ser abordado, nada melhor do que Deus para ser o personagem principal da história.
Assim surgiu o “Um sábado Qualquer”. Tinha as ideias durante o trabalho, nos finais de semana e desenhava a noite.
O blog como divulgador foi essencial pois não oferece custos e trouxe o reconhecimento e a visibilidade que eu tenho hoje.
2. Como foi a transição de artista para artista-empreendedor? Você teve facilidade em lidar com a parte financeira, comercial, etc.?
Bem, quando a arte de qualquer artista começa a dar certo, ele vê a necessidade de começar a administrá-la, é uma tendência natural. Não é que você queira virar empreendedor, é uma necessidade!
Não foi nada fácil essa minha transição, pois qualquer curso da área de humanas nunca trabalha em cima de gestão e administração. Isso causa uma grande dificuldade ao artista que é muito criativo, mas péssimo em administrar seu próprio negócio.
Acredito que se eu tivesse o mínimo desse conhecimento estaria a anos luz a frente. Fui aprendendo com meus erros.
Hoje eu vejo a importância de mesmo que você queira fazer arte, nunca descartar a oportunidade de um curso de administração.
3. Você é um empreendedor “faz tudo” na empresa ou prefere ter colaboradores e fornecedores para te ajudar nas áreas em que não tem tanto expertise?
No início tentei me aventurar sozinho, centralizei tudo em mim. Não só comecei a perder muito dinheiro por desinformação, como a loja estava preenchendo meu tempo de criação e isso não podia acontecer. Meu humor estava caindo, pois dedicava mais tempo a loja que não estava dando certo.
Resolvi então contratar um funcionário que entendia melhor desse assunto. Dividimos as tarefas e voltei a ter o tempo que precisava.
Aos poucos fui aprendendo a ser um empreendedor e ter um conhecimento melhor administrativo, mas demorou muito pois eu ainda era virgem no assunto.
Para me ajudar, hoje possuo: um funcionário, um estagiário, o contador e fornecedores.
4. Uma das maiores dificuldades de todo empreendedor é divulgar o seu trabalho. No seu caso, você chegou a se especializar na área de marketing digital ou focou principalmente em criar um conteúdo bacana e ele se espalhou?
Quando criei a loja, o blog já estava bombando. Ou seja, a loja foi uma consequência de um trabalho que já estava bem divulgado na internet.
Meu foco era todo no conteúdo, então não foi difícil que ela ganhasse visibilidade.
Tive sorte nesse assunto, mas é claro que sempre uso as redes socias quando posso. O mercado muda a cada dia e nunca podemos relaxar ou estagnar.
5. Pelo teor do seu conteúdo, imagino que seja razoavelmente comum achar pessoas que criticam o seu trabalho. Foi muito difícil seguir em frente apesar das críticas ou o apoio dos seus entusiastas sempre falou mais alto?
Ninguém gosta de ouvir ofensas e críticas negativas, mas eu sabia que elas vinham de 1% dos leitores. É o pessoal do barulho, cachorro que late mas não morde.
Tendo isso em mente dificilmente você será afetado emocionalmente. Então posso dizer que lido muito bem com isso.
Mesmo sendo um tema religioso e polêmico, tento manter um humor light e diplomático. Acho que é por isso que recebo elogios de ateus e cristãos. Fico feliz com isso.
6. Se você pudesse resumir em apenas um fator, qual você diria que foi a coisa mais importante para que você conseguisse tanto sucesso com a sua arte?
Meu pai. Ele que me ensinou a desenhar desde pequeno e me mostrou a importância de fazermos alguma arte, nem que seja por hobbie, e sempre incentivou a leitura e o conhecimento.
Sem ele não sei se teria os pilares de sabedoria que resultaram no blog.
7. Como foi o crescimento do blog? Foi algo que começou a bombar do dia pra noite ou veio através de um trabalho de formiguinha que gerou um crescimento gradual?
Foi trabalho de formiguinha. Até prefiro assim.
Tudo que faz sucesso de um dia pro outro some em uma semana, são as celebridades de internet que tem seus 15 minutos de fama. Já o trabalho que cresce aos poucos e com muita batalha, esse fica!
Demorei quase 2 anos para ele ter mais de 10 mil visitações, considero isso bem rápido comparado a outros blogs que demoraram muito mais.
Fiz muita divulgação em redes sociais, parcerias com blogs, matérias em revistas, entrevistas, etc. Com o tempo você vai conseguindo a visibilidade que tanto queria e merecia.
Hoje possuo 45 mil acessos diários.
8. Você já iniciou o blog sabendo que o faturamento viria através de publicidade e da loja virtual ou esse modelo foi algo que foi sendo adaptado com o tempo?
Foi sendo adaptado com o tempo. Dinheiro é uma consequência de um trabalho bem feito.
Lembro que quando quis criar o Um Sábado Qualquer dei uma olhada nos blogs de quadrinhos brasileiros famosos e pensei “Ei, eu consigo fazer isso”. É sensacional quando você vê que consegue fazer algo a altura. Isso me incentivou muito.
Era um hobbie, eu adorava fazer aquilo, não pensava em dinheiro, só queria que as pessoas conhecessem meu trabalho. Se desse certo, ótimo, se não desse, pelo menos estaria fazendo algo que eu gostava.
Com o passar dos anos, com a visitação e os números, o dinheiro e as oportunidades começaram a aparecer. É uma consequência.
Hoje possuo anunciantes, patrocinadores e uma loja virtual.
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Nota do editor:
Se ainda não conhece o Um Sábado Qualquer, nós recomendamos muito! Veja mais aqui!
Além disso, também fizemos uma entrevista com o DiVasca, blogueiro conhecido por responder de forma “ácida” à clientes que não valorizam seu trabalho de artista. Confira sua entrevista: Como lidar com o cliente que não quer pagar pelo serviço.
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