Há ouro nos esgotos – e prata e platina e cobre, também. Um estudo realizado por pesquisadores da ASU (Universidade do Estado do Arizona) estima que uma cidade americana de um milhão de pessoas produz, por ano, o equivalente a US$ 13 milhões em elementos preciosos no esgoto. Até mesmo dejetos fétidos têm valor.
O estudo da ASU analisou amostras de esgoto dos EUA armazenados no Repositório Nacional de Biossólidos. Após aquecerem o biossólido até virar plasma, eles mediram as concentrações de elementos presentes nas amostras de esgoto.
Ao todo, os 13 elementos mais lucrativos somaram uma média de US$ 280 por tonelada de lodo de esgoto, ou US$ 13 milhões anuais para uma cidade com um milhão de pessoas.
Os treze elementos descobertos foram, da maior concentração para a menor: prata, cobre, ouro, fósforo, ferro, paládio, manganês, zinco, irídio, alumínio, cádmio, titânio, gálio e cromo. O estudo foi publicado no periódico Environmental Science & Technology.
De onde vem?
De onde vem todo esse metal? O mais provável é que sejam provenientes de indústrias. Elas usam alguns metais preciosos que acabam literalmente indo pelo ralo; multiplique isso por toneladas de resíduos, e isso cria uma mina de ouro no esgoto.
Claro, laboratórios e fábricas que trabalham com metais preciosos – como o ouro – já fazem o que podem para evitar esse desperdício. Por exemplo, laboratórios odontológicos e lojas de reparo de joias incineram seus resíduos para recapturar ouro. Ainda assim, metais preciosos acabam indo para o esgoto.
Isso não quer dizer que seja economicamente viável extrair esses metais preciosos do esgoto: eles ficam muito diluídos para valer a pena, exceto em casos especiais. A Science nota que, no Japão, há uma estação de tratamento de esgoto próxima a fábricas de equipamentos de precisão, que usam bastante ouro. Ao queimar o lodo do esgoto, ela encontra cerca de US$ 50.000 em ouro por ano.
No Brasil
Não encontramos nenhum estudo sobre metais preciosos no esgoto brasileiro. Não significa que ele não possa ser valioso! Ele contém grandes quantidades de nitrogênio e fósforo, recursos naturais limitados que são utilizados nos fertilizantes. Em estudos sobre o esgoto no Brasil, encontram-se até 85 mg/L de nitrogênio e 20 mg/L de fósforo.
O lodo de esgoto é usado para fertilizar o solo na agricultura; ele também pode ser bem útil para recuperar áreas florestais degradadas, pois repõe os nutrientes da terra. Claro, o lodo antes passa por alguns processos de desinfecção, que removem micróbios e vermes.
Ele também pode ser usado para fazer biogás: durante o tratamento do esgoto, os micróbios produzem gás metano, que é canalizado para uma usina termelétrica a fim de gerar calor nas turbinas.
A Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) vem fazendo isso em Belo Horizonte há alguns anos. Em Belém, duas empresas firmaram parceria para gerarem energia a partir do esgoto; a planta de biogás deve ficar pronta ainda este ano. [Science]
Imagens por Nbriam/Shutterstock (bueiro) e balein/Shutterstock (ouro)
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