Direto ao ponto, uma novidade: a aceleradora de negócios sociais Artemisia está lançando um curso online sobre Negócio de Impacto Social. Fiquei bem curioso para saber se dá mesmo pra ensinar isso, então entrevistei a diretora executiva Maure Pessanha, que vai ser uma das professoras do curso. Minha conclusão: no mínimo, dá pra aprender! O propósito desta matéria que você está lendo é ajudar a entender de verdade o que há por trás de um “negócio verdadeiramente do bem” e como você pode praticar isso (pelo bem dos negócios e do mundo).
Contexto do tema: Há algumas décadas, o mundo começou a ficar mais preocupado com a situação da natureza e do “crescimento” desordenado das cidades. As pessoas passaram a não acreditar que os governos cuidariam de tudo e passaram também a questionar a cidadania das empresas. Muitas empresas começaram a praticar Responsabilidade Social, de formas diferentes. Existe bastante bibliografia e diferentes pontos de vista. Nem preciso citar que a interface entre empresas, necessidades sociais e governo nunca esteve tão em voga no Brasil (nas discussões eleitorais e políticas em geral, bem como nas universidades e empresas).
Histórico: sobre este assunto, a gente já publicou aqui:
- várias matérias sobre negócios sociais ou negócios de impacto social,
- incluindo um vídeo em que Michael Porter argumenta sobre como as empresas tem maior abrangência do que ongs e maior poder de execução do que governos;
- um chat em vídeo com Philip Kotler (com tradução em português), que defende como há níveis cada vez mais profundos de entregar e comunicar valor por meio de negócios (Marketing 3.0). O vídeo foi gravado com um tempão sobrando no começo, tipo uns 7min, mas vale a pena aguardar e assistir;
- uma entrevista com “o embaixador das empresas B“;
- sem contar que este é o tema favorito de nosso colunista Daniel Izzo (investidor em negócios de impacto social).
E, finalmente:
Entrevista com Maure Pessanha, diretora executiva da Artemisia
Como fazer um negócio de impacto social? Ou seja, como criar um negócio de impacto social?
Nesses 10 anos de apoio a empreendedores, a Artemisia percebeu que o empreendedor não precisa reinventar a roda ou ficar procurando pela próxima inovação. O empreendedor deve mergulhar na realidade, descobrir de fato qual o problema que ele quer resolver – e pensar em um modelo de negócio inovador que desenvolva uma solução de alta qualidade, escalável e que ofereça solução a um problema da população da população da base da pirâmide.
O que seria, na visão da Artemisia, o primeiro passo? O que é importante para o empreendedor de impacto social entender?
Para quem quer empreender um negócio que realmente gere impacto social na educação, na saúde ou em outra área é fundamental conhecer as reais necessidades da população de baixa renda. Ao mesmo tempo é preciso identificar quais delas podem ser solucionadas por meio de modelos de negócios que ainda não estão sendo oferecidos pelo setor privado. É preciso, também, conhecer a oferta pública disponível e identificar se existem entraves regulatórios ou políticos para desenvolver soluções que possam complementar a oferta existente. Mas há uma nova geração de negócios movidos por esse desafio e pela motivação de criar um negócio inovador.
O que é e o que não é impacto?
Toda empresa gera impacto social. Quando falamos de negócios de impacto estamos falando de um impacto acima da média produzida pelo produto ou serviço; não por uma externalidade. A Artemisia usa o conceito de pobreza de Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia, que extrapola o conceito de renda; defende que para uma pessoa sair da pobreza é preciso oferecer acesso à saúde, educação, serviços financeiros e habitação. Impacto social, portanto, está relacionado ao acesso a esses produtos e serviços que diretamente melhoram a qualidade de vida da população de baixa renda.
Quais são as motivações do empreendedor de impacto social?
O empreendedor é guiado por uma intenção genuína de resolver um problema social, oferecendo um produto ou serviço que melhora a qualidade de vida da população de baixa renda. Mas, um bom negócio de impacto social antes de tudo é um bom negócio. O desafio de empreender é o mesmo de qualquer negócio: o desafio de conseguir investimento para iniciar; contratar pessoas; achar o modelo certo de negócios; e definir a proposta de valor. A grande diferença é que em um negócio de impacto social a motivação desse impacto social e a do lucro sempre andam juntas. Um bom exemplo disso é o negócio Dr. Consulta, que fica em Heliopólis, comunidade em São Paulo. Dr. Consulta é especializado em atender a população das classes C, D e E, oferecendo consultas e exames de alta qualidade a um preço acessível que a população consegue pagar. Nesse modelo, quanto mais consultas realiza, maior o impacto; consequentemente, maior o lucro – modelo, inclusive, que permite que o negócio seja competitivo e escalável. O fato é que o empreendedor não precisa escolher entre ganhar dinheiro ou ter impacto, já que é por meio da atividade principal do negócio que ele alcança o seu impacto social.
Sobre o curso
O Curso Online terá por foco as áreas de Educação, Habitação, Saúde e Serviços Financeiros, permeando todo o conteúdo – composto por quatro horas subdivididas nos módulos temáticos: Pobreza e por que negócios de impacto social?; Como os negócios geram impacto?; e Próximos passos. No primeiro módulo, a contextualização da pobreza no Brasil e no mundo; o significado da pobreza; o conceito Amartya Sen; os negócios de impacto social como resposta para transformar o mundo; e a forma com a qual o negócio se torna rentável e gera impacto social.
No módulo Como os negócios geram impacto, os cases Dr. Consulta, Vivenda, Banco Pérola, Geekie e Carteiro Amigo – negócios de impacto social promissores e que mostram as cinco características básicas: foco na baixa renda, intencionalidade do empreendedor, potencial de escala, rentabilidade, impacto social relacionado à atividade principal e distribuição (ou não) de dividendos. Um dos focos desse módulo é a inovação representada em cada negócio: produto, modelo de receita, distribuição, ativo social, escala ou investimento. O terceiro módulo é dedicado a mostrar como esses negócios fortalecem a cidadania e os direitos individuais. Informações precisas sobre o ecossistema de negócios de impacto social e as oportunidades no campo.
Os professores são:
- Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia;
- Renato Kiyama, diretor da Aceleradora daArtemisia;
- Vivianne Naigeborin, assessora estratégica da Potencia Ventures;
- Thomaz Srougi, empreendedor do Dr. Consulta;
- Alessandra França, empreendedora do Banco Pérola;
- Cláudio Sassaki, empreendedor da Geekie;
- Fernando Assad, empreendedor da Vivenda;
- e Sila Vieira, empreendedor do Carteiro Amigo.
Com custo acessível – R$ 350 e quatro horas de curso – a formação já estará disponível no dia 30 de outubro. As inscrições podem ser realizadas neste link até 30 de novembro.
Sobre a Artemisia
A ARTEMISIA é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil. Fundada em 2004 pela Potencia Ventures, a Artemisia possui atualmente escritórios em São Paulo e Recife. A Artemisia foi a primeira organização do Brasil a fazer parte da Omidyar Foundation, a mais respeitada organização no setor de investimento de impacto, fundada por Pierre Omidyar, empreendedor do Ebay. Recentemente, a Artemisia também foi anunciada como uma das cinco organizações selecionadas, entre 115 de toda a América Latina, pelo edital da Rockefeller Foundation, Avina, Avina Americas e Omidyar. www.artemisia.org.br.
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