O pesquisador de segurança Chris Roberts se tornou mundialmente conhecido este ano quando foi expulso de um avião após um tweet polêmico: ele disse que poderia interferir no sistema de máscaras de oxigênio.
Desta vez, um documento oficial do FBI afirma que ele já invadiu sistemas de entretenimento de bordo em aviões, e uma vez até emitiu um comando que fez o avião momentaneamente se inclinar para o lado. Isso é mesmo verdade?
Roberts disse ao FBI que, primeiro, obtém acesso físico à rede do avião encaixando um cabo embaixo do assento, onde há um conector Ethernet modificado. Depois, ele usa login e senha padrão para obter acesso ao sistema de entretenimento de bordo – que exibe filmes e séries para os passageiros.
Até aí, nada impossível. Roberts diz à Wired que fez isso umas 15 vezes entre 2011 e 2014. Mas o documento do FBI alega que Roberts não parou por aí, e uma vez conseguiu invadir o sistema principal do avião:
Ele afirmou que comandou com sucesso o sistema a emitir o comando “CLB”, ou subir. Ele afirmou que, dessa forma, um dos motores de avião passou a subir, resultando em um movimento do avião para os lados.
Ele também afirmou que usou software Vortex após hackear redes do avião. Ele usou o software para monitorar o tráfego do sistema na cabine do piloto.
É importante lembrar que o FBI não confirma que isso tenha acontecido: eles apenas registraram o depoimento de Roberts. Nesse disse-me-disse, até mesmo Roberts acredita que foi mal interpretado: “há um conjunto de 5 anos de trabalho que o documento [do FBI] comprime incorretamente em um parágrafo”.
Is this the SEB they are accusing you of prying open @Sidragon1? Looks pretty accessible to me 🙂 #757 pic.twitter.com/9p5w5NCmxV
— OMG ΉΆXOR (@SynAckPwn) May 17, 2015
Afinal, é possível comandar um avião após invadir o sistema de entretenimento de bordo? A Boeing, que faz três dos quatro jatos que Roberts alega ter invadido, nega:
Sistemas de entretenimento a bordo em aviões comerciais são isolados dos sistemas de voo e de navegação. Embora estes sistemas recebam dados de posição e tenham links de comunicação, o design os isola dos outros sistemas em aviões que executam funções críticas e essenciais.
Mas isso é a palavra de uma empresa de aviação. E os especialistas em segurança, o que dizem? Basicamente a mesma coisa: é meio difícil de acreditar que alguém consiga invadir sistemas críticos de um avião dessa forma.
Alan Woodward, da Surrey University, lembra à BBC que “sistemas de voo costumam ser mantidos fisicamente separados, assim como qualquer sistema crítico de segurança”. Por isso, ele acha “difícil de acreditar” que um passageiro possa controlar o avião usando uma porta Ethernet no assento.
O especialista em segurança Graham Cluley acredita que “Roberts pode ter acessado os sistemas do avião e de dados sem permissão, mas talvez nunca enviou ao sistema qualquer comando para interferir com a aeronave” – pois seria possível ver o sistema funcionando, mas não interferir nele.
O especialista em aviação Michael Planey também duvida. Ele explica ao site especializado Runway Girl Network:
… quanto ao que ele diz sobre interferir no sistema de voo do avião, isso teria sido observado pela tripulação do voo; eles teriam percebido que a aeronave não estava se movendo por um comando vindo da cabine do piloto. Haveria muitas maneiras no monitoramento do motor e nos sistemas de controle de voo para detectar este tipo de evento, e eu esperaria que os pilotos fizessem uma observação e que fosse aberta uma investigação. Então, eu não acredito que o que ele diz é verdade.