Por Guilherme Queiroz
Do Istoé Dinheiro
Desde a notável recuperação da crise que abalou países desenvolvidos, em 2008, o Brasil vive uma rotina até então inimaginável. Semana após semana, integrantes do governo fazem as vezes de cicerones de representantes de multinacionais interessadas em incluir o País na seletíssima lista de candidatos a abrigar centros de pesquisa. As conversas têm sido intensas. Na negociação mais avançada em curso, o governo está próximo de selar a vinda do centro de uma grande fabricante de microprocessadores. Seria a Intel? Quem sabe. A boa-nova só deve ser anunciada quando um dos três Estados que disputam o centro – São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco – for declarado vencedor.
O investimento, se confirmado, se somará ao US$ 1,8 bilhão anunciado, nos últimos meses, por sete empresas ouvidas pela DINHEIRO, para a instalação de unidades de pesquisas por aqui. O País já é sede de centros de pesquisa de indústrias importantes. Mas nunca havia recebido tantos anúncios num período tão curto. Além dos valores envolvidos, esse interesse mostra uma saudável mudança no enfoque de companhias globais na economia brasileira. Se antes erguiam chaminés, agora vislumbram transformar o Brasil em laboratório das tecnologias do futuro. E hoje a área mais sedutora é a de exploração do pré-sal. A extração de bilhões de barris de petróleo a sete mil metros de profundidade exigirá o desenvolvimento de novas tecnologias e é com essa missão que dezenas de empresas decidiram se instalar no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), até 2013.
Entre elas, as três maiores prestadoras de serviço de perfuração de poços do mundo: a francesa Schlumberger e as americanas Halliburton e Baker Hughes. O investimento mais expressivo, entretanto, ficará por conta da britânica BG Group, maior parceira da Petrobras no pré-sal, que decidiu transferir para o Brasil toda a sua estrutura de pesquisa. Até 2020, a empresa aplicará US$ 1,5 bilhão para atender à exigência da legislação brasileira de destinar 1% da receita bruta à pesquisa com exploração de petróleo. “A empresa, que hoje tem 70% de sua produção em gás, será uma companhia de petróleo em 2020, com um terço da produção total no pré-sal”, diz Damian Popolo, gerente de tecnologia da BG Brasil. “Nosso futuro depende do Brasil.”
O fluxo de empresas de olho no pré-sal é tamanho que, em pouco mais de um ano, todos os 350 mil m² do complexo da Ilha do Fundão foram arrendados por estrangeiras que trabalham com a Petrobras na exploração da nova fronteira petrolífera. A estatal brasileira mantém um renomado centro de pesquisa na UFRJ, o Cenpes. Em 2013, quando o parque tecnológico estiver funcionando a todo vapor, a previsão é de que cinco mil pesquisadores estejam trabalhando em inovações. A alemã Siemens, por exemplo, fará do Brasil seu principal polo de inovação em tecnologias submarinas no centro de pesquisa. “Estamos diante da possibilidade de aplicar, em outras áreas, o nosso aprendizado na exploração do pré-sal”, afirma Ronald Dauscha, diretor de inovação da Siemens.
Se para as empresas o Brasil tornou-se um terreno fértil para inovações, que futuramente vão se reverter em lucros, para o País a chegada de novos centros de pesquisa estabelece um patamar mais elevado de desenvolvimento. Isso porque as empresas que desembarcam aqui estão firmando parcerias com universidades e institutos de pesquisa nacionais, que garantirão conhecimento compartilhado. Em outras palavras, esses centros são uma oportunidade ímpar de o Brasil patentear novas tecnologias e lucrar com isso lá fora. “As tecnologias para o pré-sal vão se tornar referência internacional”, diz Ronaldo Mota, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia.