Você tem visto os alertas. Nada de fotografia com flash. Mas por que eles existem? Steve Meltzer, do Imaging Resource, pesquisou sobre a existência continuada dessa lei do mundo das artes.
Outro dia fui a uma exibição de fotografias de W. Eugene Smith. Entrando no museu, vi uma placa que dizia “Proibido fotografar com flash!” Por curiosidade fui até um segurança do museu e perguntei a ele porque fotos com flash eram proibidas.
Sua resposta foi “le froid de la lumière est mauvaise pour l’art” — “o frio do flash é ruim para a arte.” Frio do flash? Como lidar?
A princípio eu ri. Seria isso algum truque mental Jedi esquisito?
Curioso sobre isso, comecei a notar proibições de fotografar e descobri que embora a ideia do segurança fosse bizarra, não era tão mais maluca do que outros “motivos” para esses banimentos e, aparentemente, não era sequer uma aberração singular: no trabalho de Evans (linkado abaixo), ele relata “um amigo que certa vez foi repreendido por um funcionário de um museu que disse que a luz era tão brilhante que poderia congelar um objeto e esse congelamento súbito poderia ser danoso à delicada exibição de madeira!” Aparentemente, a ideia do flash “congelar” um movimento se tornou uma piada interna entre funcionários de museus, de que o flash “congela” objetos mesmo.
Eu raramente uso o flash, especialmente esses pequenos embutidos nas minhas câmeras. Prefiro a luz existente como fiz nas fotos que ilustram este post. Entretanto, nós todos vemos placas e alertas proibindo fotos e, principalmente, fotos com flash.
Parece-me estranho que tantos museus, galerias e estabelecimentos proíbam fotos. Ainda mais hoje, quando temos a sensação de que todos têm um iPhone ou uma câmera digital consigo o tempo todo.
Me pergunto por que existem áreas do tipo.
Fotos com flash podem danificar a arte?
Primeiro, deixe-me tratar do questionamento básico levantado pela placa e a resposta do segurança. O flash pode danificar a arte? Se, como eu suspeito, ele não for capaz disso, por que a fotografar com flash é proibido em tantos lugares? De onde veio essa ideia?
Comecei a pesquisa por respostas e cheguei a um artigo: “Fotógrafos amadores em galerias de arte: avaliando o dano causado pela fotografia com flash,” de Martin H. Evans. O texto começa com Evans ponderando que “Por muitas décadas tem-se acreditado muito que a iluminação intensa do flash possa danificar pinturas e documentos delicados.”
Ele diz que o que mantém essa ideia viva é que “O brilho no ápice de intensidade do flash e a incerteza sobre a energia ultravioleta (UV) amedrontam os curadores e, assim, não há um consenso geral sobre se esses flashes eletrônicos deveria ser permitidos em museus e galerias de artes finas.”
Para encontrar a base dessa crença, ele fez uma pesquisa literária e descobriu um experimento conduzido pela Galeria Nacional, de Londres, em 1995. Ele “demonstrou” que repetidos flashes poderiam alterar as cores em testes de pigmentos. Esse estudo se tornou uma das primeiras justificativas para o banimento de fotos. Ainda assim, quando Evans observou os dados com mais atenção, ele viu algo totalmente diferente.
No experimento, dois poderosos flashes eletrônicos foram usados. Os profissionais removeram o filtro de vidro bloqueador de UV de um dos flashes para ter o máximo de UV na saída. Eles posicionaram cada flash a cerca de 91 cm dos painéis de pigmentos coloridos e tecidos tingidos. Um painel similar foi montado sob “iluminação padrão de galeria”, como um parâmetro. No decorrer dos meses seguintes, os flashes foram disparados a cada sete segundos.
Após mais de um milhão de flashes, os pigmentos e tingimentos expostos ao flash puro mostraram um sutil, mas visível desbotamento em algumas amostras. As amostras expostas ao flash com o filtro não demonstraram alterações, embora os avaliadores tenham conseguido detectar pequenas mudanças com a ajuda de um densitômetro. Interessante notar, as mudanças no grupo usado como parâmetro foram as mesmas das do com o flash filtrado. Ainda assim, mesmo a mínima alteração pigmentar foi suficiente para a Galeria Nacional atestar que conseguiram demonstrar que o flash é perigoso.
Evans desconstruiu essa ideia:
“Na maioria dos pigmentos não houve mais mudanças do flash com UV filtrado do que nos das luzes da galeria (o parâmetro). Quando não havia o filtro UV, a alteração foi cerca de 10~15% maior do que a quantidade equivalente da luz da galeria.
Na prática, quase todas as câmeras com flash embutido… incorporam… filtros que removem a maior parte das ondas UV que os conservadores tanto temem.”
Eles convencem a si mesmos disso
Evans diz que o dano à arte depende não só da intensidade do flash, mas da duração. No experimento, o milhão de flashes foi disparado de strobos montados próximos aos pigmentos. No mundo real, pequenos flashes embutidos, disparados à distância do objeto teriam que ser bilhões para terem o mesmo efeito sutil. Se o problema não era o flash, então o que ocorre?
Martin Evans é direto: “Curadores, jornalistas, amantes das artes e diretores de museus têm dito isso (que o flash danifica a arte) uns aos outros por anos e muitos visitantes de galerias concordam.”
Em outras palavras, eles mesmos se convenceram dessa crença, baseado em conversas entre eles mesmos sobre o assunto. Evans aponta a ironia desse discurso, “Curadores proíbem fotografias de coisas como relíquias faraônicas egípcias que foram expostas a raios UV intensos do Sol do deserto por mais de três mil anos.”
Outro motivo para a proibição é o receio de violações de direitos autorais. Mas como Martin Evans diz, “As leis de direitos autorais variam de um país para outro e são notoriamente difíceis de se interpretar. Em alguns casos, um museu ou galeria de arte pode usar o argumento dos direitos autorais como uma cortina de fumaça para esconder o desejo de prevenir que visitantes tirem fotos.”
Outros motivos
Quais, então, são os motivos para proibir todas as fotos e as com flash em especial?
Uma, contada pelo fotógrafo Paul Harcourt Davies por um segurança de museu, é de que a fotografia foi proibida para manter as pessoas se movimentando. Em uma exibição popular, as pessoas ficam na fila por horas e qualquer fotografia a deixa mais lenta. Poucas pessoas acabam vendo a exibição e o faturamento diminui.
Existe outro motivo bem real para banir a fotografia: lojas de souvenirs. Muitos museus faturam quantias substanciais com a venda de cartões-postais, pôsteres e outras lembrancinhas. O receio é de que com as pessoas tirando suas próprias fotos, não importa o quão ruins saiam, elas acabem gastando menos nessas lojinhas.
A teoria terrorista
Claro, existe outro argumento para proibir fotos sobre o qual ouvimos muito atualmente: a teoria terrorista.
Shoppings, galerias e museus expressam receio relacionados à segurança que vão de terrorismo internacional ao simples e velho furto. Parece que eles andam assistindo a muitos filmes hollywoodianos.
Por que terroristas precisam tirar fotos de museus ou shoppings quando esses locais distribuem com um sorriso no rosto livretos detalhados (com mapas) de graça? Essas publicações dão muito mais informações do que qualquer malfeitor obteria com uma câmera.
Da perspectiva de Martin Evans, a boa notícia é que o flash fotográfico não maltrata a arte. O que fica é a má notícia de que, independente da ciência, galerias e museus acreditam no que acreditam e o banimento permanece.