No Brasil, o Google Notícias – que agrega conteúdo de jornais e portais online – se tornou um alvo da Associação Nacional de Jornais (ANJ): a entidade exigiu do Google parte da receita obtida no serviço, e a gigante das buscas disse “não” – então a ANJ orquestrou um boicote.
Na França, após ameaças de uma lei que obrigaria o Google a pagar se usasse conteúdo de jornais – até mesmo fora do Notícias – a empresa fechou um acordo inédito, abrindo um fundo de € 60 milhões (R$ 160 milhões) para serem investidos na mídia francesa. E isso pode ter repercussões no Brasil.
O acordo envolveu até o presidente da França, François Hollande, e o alto executivo do Google, Eric Schmidt, além de representantes da imprensa. O novo fundo será usado para desenvolver negócios digitais de jornais e revistas que sejam de interesse geral do país.
Em troca, o governo francês não aprovará uma lei que obrigaria qualquer motor de busca – inclusive o Google – a pagar pelo conteúdo de jornais exibido em seus serviços, mesmo que fosse apenas o título e o início de um texto. O Google já considerou excluir sites da mídia francesa dos seus resultados de busca se a lei fosse aprovada – mas obviamente, eles voltaram atrás.
Um dos argumentos para exigir a cobrança era que usar o título e o início de um artigo desestimularia os usuários a clicarem e visitarem o artigo. Com isso, jornais perderiam receita de publicidade, que ficaria só com o Google. A empresa diz, no entanto, que “redireciona quatro bilhões de cliques por mês para as páginas” da mídia francesa.
Em dezembro, o Google já havia feito acordo com jornais da Bélgica, e teria pago até € 5 milhões (R$ 13 milhões) para evitar processos judiciais envolvendo o uso de conteúdo jornalístico em seus serviços.
Todo esse caso pode ser usado como precedente em outros países. Ricardo Pedreira, diretor-executivo da ANJ, diz à Folha que o acordo “pode influenciar a relação do Google com produtores de conteúdo jornalístico no mundo todo”.
No Brasil, o Google se recusou a pagar por exibir conteúdo de jornais no Notícias. Em represália, os 154 veículos online afiliados à ANJ retiraram seu conteúdo do serviço, deixando-o apenas com portais puramente online (como G1 e Terra) e jornais pequenos. (A busca normal do Google, no entanto, não foi afetada.)
Carlos Müller, assessor de comunicação da ANJ, disse à época que isso tornou o Google Notícias “absolutamente irrelevante no Brasil”. Dessa forma, o Google Notícias tem dificuldade em se tornar um portal de notícias, e em ameaçar o tráfego de jornais tradicionais – que caiu apenas 5% após o boicote. Mas se o Google quiser investir em notícias – um tipo de conteúdo que certamente interessa aos usuários – a ANJ exigirá algum tipo de remuneração, e o precedente na França fortalece os argumentos para tanto. [Folha e Estadão]