É sempre importante atentarmos e termos uma visão crítica das ondas, ou melhor, dos furacões que acometem as redes sociais. Há uma semana, vivenciávamos de maneira tímida uma tentativa de conscientização via mídias sociais em prol da permanência dos índios Guarani-Kaiowá na área da Fazenda Cambará, em Iguatemi, no Mato Grosso do Sul. O ciberativismo foi representado por vídeos, onde pessoas se pintavam como referência ao ritual indígena, reivindicando a preservação dessas comunidade, além de muitos usuários colocando “Guarani-Kaiowá” como sobrenomes em seus perfis, de modo a gerar um estado (virtual) de comoção, como foi feito na campanha eleitoral de Marcelo Freixo à Prefeitura do Rio.
No entanto, antes mesmo da prática se tornar massiva no Facebook, a iminência da passagem do furacão Sandy por terras norte-americanas causou um verdadeiro frisson nas redes sociais e varreu o assunto do momento entre brasileiros. Os índios foram enxotados para suas ocas, pela mídia e pelos usuários da rede. Em segundos, fotos de satélites e links de programas de TV americanos surgiram nas timelines de forma a dar cabo, ou melhor, fomentar as especulações em torno da tormenta.
Em tempos de web 2.0, nada mais natural que uma promessa de devastação em uma das principais cidades do mundo, como Nova Iorque, fosse acompanhada instantaneamente pelas mídias sociais. No entanto, o frenesi começou a descambar para uma falta de respeito e um mau gosto que, infelizmente, têm tomado conta da web.
Alguns sites de humor e até mesmo usuários independentes iniciaram uma sequência de postagens que se prestavam ao achincalhamento da desgraça do povo norte-americano. Independentemente do histórico dos EUA, quando observado sua (in)sensibilidade à humanidade, o furacão Sandy destruiu a vida de inúmeras pessoas, desabrigou outras várias e atormentou centenas por tabela. Como colocar em prática o famigerado “humor negro” com este tipo de contextualização?
Foram piadas de toda sorte. A coincidência do nome do furacão com a cantora brasileira Sandy Léah foi por demais replicada, imagens da Estátua da Liberdade se escondendo, apelação à aparente competição entre as cantoras Sandy Léah e Wanessa, menção à equipe de funk Furacão 2000 com Sandy como MC, a zombaria em relação à sexualidade do músico Junior Lima e, até mesmo, sessão de fotos com a decadente modelo Nana Gouveia em NY – postado no site Ego da Globo.com – que tomou conta das redes sociais.
Enfim, um show dos horrores, representando bem esse Dia das Bruxas, que na altura do campeonato, prefiro celebrar o Dia do Saci.
Por Diego Cotta, jornalista e pós-graduando em comunicação e marketing em mÍdias digitais. @cotta_news