Voltei do Egito esses dias e se tem alguma coisa que aprendi por lá é que é perfeitamente possível um povo ser feliz, criativo, grandioso e rico por belos três mil anos… Acreditando em deuses com cara de cachorro e passarinho. Espantoso.
Eu nunca pensei em voltar pra Academia, nem para fazer ginástica nem para fazer pós, mas fico pensando se não estaria na hora de propor para os cursos de comunicação uma nova disciplina: “Criação e Gerenciamento de Mitos e Lendas” 1, 2 e 3. O trabalho de conclusão de curso poderia ser, inclusive, o aluno se auto-proclamar uma autoridade e criar um curso baseado 100% em vapor e fazer disso um sucesso de pública e crítica. Ah, isso já tem? Mil perdões 🙂 Eu não tenho muito jeito pra isso mesmo.
E tem a história do Facebook e o Egito, claro. Na verdade os caras são pioneiros nisso: se você olhar o wall (literalmente) do Ramsés II vai ter que admitir: aquilo sim é que é perfil (aliás, todo mundo ali só aparece de perfil). Só dá o Ramsés posando de bacana em cenas maravilhosas de suas batalhas e viagens, mil cenas dele fazendo networking explícito com divindades e, pra completar, cenas arrasadoras da sua esposa predileta desfilando le dernier cri em moda faraônica. O Zuckerberg que me perdoe, mas a idéia toda tem uns cinco mil anos.
Daqui a mais cinco mil anos, quem sabe, os arqueólogos vão encontrar uma pirâmide de bilhões de fotos, likes, pokes e fazendinhas, e vão se perguntar como um único faraó loirinho conseguiu que milhões de pessoas empilhassem tanta coisa de graça. No caso faraônico já sabemos que não foi escravidão nem nada, os caras quebraram pedra de bom grado. Nos dois casos o faraó e seus subordinados, mais ou menos como o geek e seus developers, controlavam o software da história toda, enquanto a galera ficava com a parte que de soft não tinha nada, era hard mesmo.
Tem um mistério aí, algo que vai muito além da trigonometria, dos escribas ou do PHP: o mistério é como hackear o coração das massas pra liberar essa energia toda e focar num só projeto, o mistério é como encantar e manter tanta gente encantada assim por tanto tempo.
Esse mistério vira areia, porém, se você parar de endeusar faraós (morenos ou loiros) e pensar na grandeza e força dos que botam abaixo montanhas de pedra e erigem sonhos, sejam pirâmides serenas ou primaveras árabes. Na próxima vez que te disserem que o Facebook liberou um país, conteste: quem sonhou e foi pra rua, e apanhou, brigou, venceu e comemorou em massa, e hoje tem seu destino nas mãos foi um povo inteiro, e esses caras merecem crédito. Faraós sozinhos não fazem verão, quanto mais primaveras.
René de Paula Jr. está teimando no mercado interativo há 15 anos
