Na antiguidade clássica, as grandes descobertas – para não dizer inovações – eram creditadas às musas. Filhas do todo-poderoso Zeus e da titânide Mnemósine, as nove divindades simbolizavam a inspiração – aquele estalo criativo que leva os homens a criarem as coisas que não haviam sido imaginadas por seus pares. Com o racionalismo da idade contemporânea, a tecnologia da era pós-industrial e a recente revolução digital, a inspiração tornou-se mais uma figura poética do que um estado de espírito a ser alcançado. Uma grande invenção não mais é vista como o resultado de uma experiência transcendental de criação, mas sim o fruto de um processo lógico de encadeamento de ideias, em que o lado místico da inspiração não tem espaço algum.
Mas não é que a inspiração existe e é importante para os negócios. Pelo menos é o que diz uma série de estudos recentes sobre o assunto. Talvez ela não venha da generosidade das musas, mas ocorre de processos psicológicos que não podem ser mensurados aritmeticamente nem descritos em manuais de produtividade. Embora continue sendo um termo abstrato, especialistas afirmam que a inspiração pode ser ativada, capturada e manipulada por aqueles que entenderem seus processos psicológicos.
A inspiração é um estado de graça. Ela impulsiona a pessoa da apatia para a ação e transforma o jeito que percebemos nossas capacidades. Segundo os psicólogos Todd Trash e Andrew Elliot, da Universidade de Rochester, nos EUA, a inspiração tem três aspectos centrais: evocação, transcendência e abordagem positiva. Ela é evocada espontaneamente, sem intenção. É o clique característico de quando as boas ideias nascem. Transcendente porque a ideia inspirada suplanta as preocupações e limitações cotidianas e captura uma visão panorâmica e universal sobre o assunto. Essa transcendência é percebida nos momentos de clareza e consciência das novas possibilidades. A abordagem positiva, etapa final do processo, está na transmissão e implantação da ideia visionária. Os dois psicólogos notam que a inspiração é uma ferramenta com duas pontas: as pessoas são inspiradas pelas coisas e agem em cima dessa inspiração.
Apesar de ser vista como um cavalo que pode ser montado, a inspiração não pode ser imposta. Seria inútil um líder fazer pressão para que seus colaboradores fiquem inspirados. Segundo o neurocientista Scott Barry Kaufman, a inspiração simplesmente acontece. Pode ser por força de uma musa, porém o mais provável é que aquela baita ideia tenha nascido em um ambiente aberto a novas experiências, fruto da interação dos conhecimentos prévios com as informações recebidas do mundo. Não existe fórmula para inspiração. Mas, em certos ambientes, ela encontra um campo fértil. Nasce naqueles locais onde a liderança mostra os caminhos e espelha os exemplos, onde as pessoas inteligentes estão dispostas a fugir das convenções.
Para aumentar as chances de a inspiração ocorrer, algumas coisas podem ser feitas. Domínio do campo de atuação é o ingrediente básico. Nenhum poeta escreveu uma obra-prima sem conhecer bem o segredo das palavras. Esforço é outro elemento crítico, uma vez que inspiração é um processo trabalhoso, que compreende a análise e aprimoramento de diversas situações para validá-las ou descartá-las. Estar aberto a novas ideias e experiências é outro ingrediente importante, já que permite a pessoa perceber e embarcar na ideia quando a inspiração resolve aparece. Por último, a íntima relação entre motivação e inspiração nunca pode ser negligenciada. A inspiração tem mais a ver com a motivação interna. Muitas vezes está no lado oposto da competição, que induz à performance por meio de estímulos externos. “Pessoas inspiradas têm níveis mais altos de recursos psicológicos, como confiança nas próprias habilidades, autoestima e otimismo”, diz Scott Barry Kaufman.