Tem dias que a gente acorda e passa a questionar tudo o que temos e fazemos. Para onde eu estou indo? Que diferença no mundo eu estou fazendo? Será que eu deveria virar padeiro, empreendedor, cabeleireiro, grafiteiro, professor?
Essas dúvidas não acontecem somente com você, mas com muita gente ao redor do mundo.
Além disso, existem milhares de pessoas que têm trabalhos bem solitários, ou que tocam seus dias sem muita companhia, ainda que amem o que façam.
Pensando em unir esses dois extremos e oferecer um dia diferente para a rotina tediosa de quem está cansado da própria carreira, ou que está querendo fazer amigos e conhecer pessoas, surgiu a ideia do Lifetramp, uma startup que funciona como uma espécie de couchsurfing profissional.
A ideia é a seguinte: vários ‘mentores’ colocam seus perfis de trabalho disponíveis no site, contam mais sobre um dia comum da sua profissão, e oferecem seu tempo e paciência para que alguém vire uma ‘sombra’ deles durante um dia.
Na busca, você pode escolher por pessoas de acordo com a localidade ou ramo de atuação (criatividade, tecnologia), e pode agendar com eles um dia para sair da sua rotina profissional.
Tudo isso de graça, sem custo algum para nenhuma das partes. A única sugestão de delicadeza que o Lifetramp faz é que a pessoa que vai ‘pegar carona’ por um dia na carreira do outro se ofereça para pagar o almoço do seu mentor. Ou seja, não sai exatamente grátis, mas vamos combinar que um almoço por uma troca de experiências parece um precinho bem razoável, não?
O B9 conversou com o Mauro Amaral, do CarreiraSolo, que é um dos profissionais que se dispôs a ser um mentor lá no Lifetramp. Ele conta que para doar seu tempo na plataforma, é preciso passar por uma espécie de ‘processo seletivo’, que inclui uma entrevista com o gerente de comunidades da empresa. Com as informações da entrevista, o pessoal do Lifetramp cria um perfil razoavelmente detalhado do mentor em questão, como essa página do Mauro (trecho na imagem acima), que conta no que ele se formou, com o que ele trabalha, e o que as pessoas podem esperar de um dia sendo uma ‘sombra’ dele.
O bacana é que a experiência é boa para ambos os lados. Para Mauro, o principal interesse é interagir com pessoas.
“Eu passo 90% do tempo em home-office. Seria um jeito de minimizar a solidão do empreendedor, que tem 20 pessoas conectadas a ele, mas que, fisicamente, está sozinho”, explica ele.
Outro público que pode se interessar bastante pela experiência são os jovens que estão buscando um rumo profissional ou até quem já tem anos de mercado, mas quer dar aquela guinada na carreira.
“Entre nossos usuários mais típicos, temos um bocado de jovens que estão ainda para entrar na universidade, ou acabaram de se formar, e não sabem como vão continuar suas carreiras. Esse é um ponto do mercado. A outra parte são pessoas que já estão em um mesmo trabalho há algum tempo, e que querem experimentar algo diferente. Acaba sendo um jeito interessante de ‘testar’ uma nova carreira”, relatou Mariusz Ciesla, um dos fundadores do Lifetramp, em entrevista ao VentureBeat.
Existe também a vibe ‘um dia diferente na vida’, em que você pode acompanhar uma profissão que não tem a menor ideia de como funciona, ou que adoraria testar, mas apenas por um dia.
Além da experimentação de carreiras, existe também a vibe ‘um dia diferente na vida’, em que você pode acompanhar uma profissão que não tem a menor ideia de como funciona, ou que adoraria testar, mas apenas por um dia. A TV já faz isso com alguns artistas, mas por que nós, meros mortais, não poderíamos também, não é mesmo?
“Percebemos que se uma pessoa comum quisesse conhecer o que um mestre do Sushi faz, ela não teria grana para isso. Viajar para o Japão é um passeio romântico, mas eu sou um cara normal, não tenho como pagar por isso. Então, por que não achar alguém que já teve ou tem experiência nessa área na minha cidade e o transformar em um mentor?”, provocou Michal Michalski, um dos fundadores do Lifetramp, durante a entrevista preliminar com Mauro Amaral.
A princípio, o Lifetramp é completamente gratuito, exceto pelo tal almoço grátis como gentileza, mas no futuro existe a possibilidade da plataforma se tornar uma espécie de crowfunding para artistas, por exemplo.
“Seria uma forma interessante para arrecadar dinheiro para um estúdio. As pessoas ficariam felizes de poder investir no trabalho do outro, ainda mais depois de terem tido uma experiência com elas. Por enquanto, tudo o que o mentor pode conseguir é um almoço grátis. Mas queremos oferecer a opção desses mentores arrecadarem fundos para uma determinada causa”, promete Ciesla.
No Brasil, a comunidade de mentores no Lifetramp ainda é pequena, com algumas pessoas do Rio de Janeiro, Curitiba e Niterói. Quem sabe essa possa ser uma ótima oportunidade de gente criativa compartilhar suas habilidades e seu dia com alguém.
Para Mauro, o Lifetramp busca encontrar mentores que saíram da caixa das funções tradicionais. De repente, um criativo que também é pintor, ou largou tudo para ser escritor ou educador, já que isso seria muito mais interessante para a comunidade do Lifetramp.
“É como um aconselhamento profissional, só que regido pela sabedoria da multidão e com menos glamour”, opina Mauro.
Pode ser uma alternativa para buscar experiências diferentes, que inclusive são uma das atividades que estimulam a criatividade. E o melhor: custa quase nada.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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