Eu não sou designer.
Eu não entendo de tecnologia.
Eu nunca tive um Mac.
Eu ainda não assisti a todos os filmes da Pixar.
Mas eu fiquei triste ontem. Foi aí que entendi o quanto Steve Jobs foi importante: mesmo sem ter qualquer grande relação com uma de suas grandes criações, percebi que esse cara mudou uma era, influenciou diretamente na minha vida profissional e na forma como as pessoas se relacionam.
Antes de você achar que é demagogia, uma frase piegas que poderia ser colocada em qualquer contexto, tento explicar. Quando há alguns anos comecei a acompanhar todo o alvoroço em torno de cada lançamento, cada keynote apresentado, esse cara me conquistou pela forma como ele vendia uma idéia. Sou publicitária e redatora, admiro quem se comunica bem e acredito que oratória é um dom.
Então fui entendendo aos poucos, e bem atrasada, o motivo dos alvoroços. Todo lançamento da Apple era um desafio ainda maior. “Não acredito que eles vão se superar de novo”. Entendi que a Apple concorria com ela mesma, precisava ser mais inovadora do que a expectativa que as pessoas tinham sobre o que estava por vir. E sucessivamente conseguia. Deixava claro que nenhuma outra marca tomaria esse lugar tão cedo.
O mercado de tecnologia, os aficionados por design, os especuladores da bolsa de valores, os concorrentes, os geeks, os políticos, gente muito diferente vivendo a mesma ansiedade. E aí ele subia ao palco e começava a falar.
Um dia eu ganhei um iPod. Outro dia, ainda um pouco relutante (pelos valores cobrados por aqui e tudo mais) eu comprei um iPhone. Depois vi crianças navegando intuitivamente em iPads. Percebi que quase todas as referências de usabilidade eram da Apple. Vi no YouTube o discurso dele para aquela turma de formandos. Vi a tecnologia se adaptar ao design e não o contrário. Vi animações em 3D deixarem de ser duronas e valorizarem um bom roteiro. Vi a nossa geração se tornar cada vez mais dependente de ferramentas que, até pouco tempo atrás, não tinham sido sequer imaginadas.
Até que pela primeira vez, num daqueles dias de keynote, de subir ao palco e anunciar a próxima grande febre mundial, a aparência dele chamou mais atenção do que seu lançamento. Ele estava magro. Alguma coisa estava claramente errada.
Era claro que ele, um cara que sempre enxergou e criou o futuro, sabia que iria morrer em breve. Mesmo assim não se escondeu.
Ontem fiquei pensando se ele, com toda a genialidade e determinação que marcaram uma época, teria conseguido descobrir a cura do câncer se tivesse se dedicado a isso. E, particularmente, acredito que sim.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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