Fui a algumas palestras de Redes Sociais nos últimos anos e sabe o que notei que mudou? Talvez apenas alguns nomes. E só. Os discursos continuam os mesmos desde 2005. Mas isso não é um privilégio de quem acompanha as redes sociais. Isso já acontece com eventos de comunicação há anos. Não é a toa que temos coisas sensacionais como keynote bingo e etc. As mesmas palavras, os mesmos jargões e até mesmo os mesmos resultados. Bem, não totalmente iguais mas o resultado final de conseguimos mais X, Y e Z sempre aparece. Lembra do vídeo case do aniversário infantil? É exatamente isso. Continuamos repetindo as fórmulas. É uma coisa até meio maluca. Repetimos os erros e esperamos um resultado diferente.
A internet nos deu acesso a palestras do TED, 99% e várias outras que nos surpreendem com conteúdos diferentes e com coisas que não pensamos.
Então, beleza. Agora o que está faltando nas nossas palestras de comunicação e Redes Sociais? Exatamente isso. Conteúdos diferentes e desafiadores. Tenho visto apenas mais do mesmo e isso não é porque, no caso de redes sociais, a fase do nosso negócio é quase embrionária se compararmos com outros segmentos mas é inadmissível que um evento focado no mercado de Redes Sociais só tenha palestras para leigos. É inadmissível que ninguém reclame da superficialidade das palestras. É inadmissível que os palestrantes apenas repitam suas apresentações e não apresentem nada novo. É inadmissível que os palestrantes não perguntem quem é a sua audiência e qual o nível de conhecimento dela. Muitas vezes isso não é possível. Mas em várias outras, é.
Quero ver um evento em que não se apresentem cases de sucesso. Quero ver um evento que saia do lugar comum. Quero ver um painel sobre os erros de uma ação e como poderíamos corrigir esses erros e até reverte-los em acertos. Quero ver um evento em que nem os palestrantes, nem as pessoas da audiência que perguntem algo façam jabá.
Acho que esquecemos o básico porque nós, que trabalhamos com comunicação, e que reclamamos quando um briefing não vem redondo ou que faltam informações básicas para realizar o job, não fazemos essas mesmas perguntas quando nos convidam para ministrar uma palestra ou aula. Se fizéssemos essas perguntas antes, se tivéssemos o nosso briefing padrão, talvez conseguíssemos atingir uma nova fase nos temas das apresentações, no debate de determinados assuntos e, no final das contas, melhorar o próprio mercado. Porque se nós não educamos e valorizamos o nosso mercado, como esperamos que quem está de fora o faça? Se nós deixamos que discussões que começaram em 2006 perdurem até hoje, que mensagem estamos passando para o mundo? Se nós que trabalhamos com isso e estudamos esses temas não nos preocupamos em mostrar que as coisas evoluem, como poderemos exigir que o cliente aceite ideias mais ousadas? Nós temos que fazer a nossa parte para que as coisas andem. Nós precisamos de eventos apenas com as pessoas que já falaram sobre o início do nosso mercado antes falassem de como está o mercado hoje. Precisamos saber o que já mudou e nós não notamos.
Eu queria ir num evento em que o Mauricio Mota se aprofundasse mais no tema Transmídia, que caras como o Ian Black, Alexandre Inagaki e outros falassem de erros de ações que fizeram e como eles analisariam os motivos de não ter dado certo. Que debatêssemos métricas de uma maneira madura e falando sobre usos interessantes das ferramentas que temos disponíveis, que o debate sobre boas práticas saísse do óbvio e que criássemos algum tipo de auto-regulamentação no nosso mercado. Hoje todo mundo faz o que quer, e esperamos que o consumidor regule o comportamento errado das empresas, mas podemos nos vigiar também. Queria que rolasse uma organização para montar um manual de boas práticas, essas que todos nós sabemos que existem informalmente e que seguimos mas que sempre vendemos como se fosse algo único nosso. Eu sei. Está tudo na internet mas tem muita coisa que não está. E isso é baseado na nossa experiência nesse mercado. Por isso os erros continuam acontecendo. É um conhecimento tácito que se não dividirmos vamos continuar nesse ciclo.
Parece bobagem mas é isso que vai fazer com que o mercado evolua. Temos agências que não sabem o que fazer, publicitários que acham que sabem como funciona e clientes que acham que sabem o resultado que precisam. É uma falácia. Claro, temos muitos profissionais que sabem e que geralmente são os que fazem com que o mercado dê alguns passos a frente.
É a mesma coisa que um evento de medicina ter palestras sobre como fazer um curativo com gaze e esparadrapo. Temos que começar a subir o sarrafo, mostrar que tem mais coisa legal que uma introdução ao tema X repetido por 20 pessoas diferentes. Pouca coisa mudaria se não começassem a falar de outras técnicas mais evoluídas. O fato de não termos um curso formal de redes sociais ajuda a manter esse nível de debate. Precisamos de apoio na educação de novos profissionais mas sem comprometer a evolução dessas práticas.
Enfim, esse é apenas um desabafo…
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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