“O futuro já chegou. Só não está distribuído para todos.”
“Essa coisa de e-commerce realmente é incrível” – Esse foi meu pai durante o almoço deste domingo.
E, continuou: “Só que o pessoal ainda é desconfiado em passar o cartão de crédito…”. Meu pai tem 60 anos e um empresário de sucesso (até este ano quando se aposentou), sempre envolvido num mundo corporativo bastante competitivo e atualizado pra não dizer vanguardista. Mesmo assim em 2012, ele está começando, engatinhando no entendimento da internet. Ele sempre foi conservador e cético, esperando as coisas ficarem claras para “comprar uma idéia”. E, também, é como muitos, que envoltos no dia-a-dia, acabam não prestando muito atenção ou não parando para formar uma opinião mais profunda sobre a revolução subterrânea que é a internet.
Meu pai se encontra no último grupo chamado de Laggards – Atrasados em inglês.
O mais interessante é que ele não é uma exceção. Ele é integrante de um grupo bastante conhecido por quem entende a curva de adoção de inovações descoberta primeiramente por Everett Rogers em seu livro “Diffusion of Innovations” , editado em 1969! (veja como os norte-americanos realmente estão mais bem preparados que o mundo nisso). Nesta curva em forma de sino, meu pai deve estar no último grupo chamado de “atrasados”, que são os mais conservadores e os últimos a adotar uma inovação, isso, se adotarem. Os termos “early-adopters” e “innovators” foram também nomeados por Everett neste livro.
Para confirmar que ele faz parte do grupo dos “atrasados”, se você leu os comentários do meu pai e pensou com você mesmo: “Nossa, mas até MEU PAI já compra pela internet há anos.”, ou, “Nossa, mas ainda tem gente que desconfia da internet?”, bem vindo ao mundo de gente normal, que vive seu dia-a-dia sem se dar conta das profundas transformações que a internet está empreendendo.
Um bom exercício é tentar avaliar hoje em quantos anos o empresário médio brasileiro está atrasado em termos de marketing digital em relação aos nossos irmãos, americanos do norte. Eu acredito que vivemos um mundo paralelo com 5 a 20 anos de atraso.
Estamos em alguns casos bastante atualizados (embora raramente na vanguarda) e, em alguns casos, muito atrasados (20 anos), como é o caso do meu pai. Muitos empreendedores brasileiros se baseiam em copiar modelos de negócio norte-americanos que já deram certo por lá – muitas vezes funciona como é o caso de um Peixe Urbano, por exemplo, cópia do Groupon e do Mercado Livre, que é uma cópia do eBay.
Esses dois exemplos são bons pois a velocidade na qual os negócios foram copiados e implementados não deve ter passado de 1 a 2 anos. Isso põe esses negócios na vanguarda porém, não como originais (mas quem se importa, já que eles estão tendo sucesso).
Construindo um paralelo desses exemplos com as mudanças no marketing e adoção de melhores práticas por empresas brasileiras há uma distância maior pois se trata de inovar ou mudar práticas já consolidadas dentro de empresas constituídas e com certo porte.
Diferente de iniciar uma empresa nova (startup) usando um marketing moderno é implementar mudanças numa empresa que cresceu a base de marketing tradicional. Certamente haverá oposição e/ou uma inércia prejudicial mesmo num horizonte de plena revolução digital.
Não é a toa que 9 entre 10 gerentes de marketing estão ou apavorados e paralisados ou iniciando seus primeiros passos no mundo do marketing moderno, leia-se internet, com táticas ineficientes ou que apenas transferem práticas tradicionais para o digital sem se dar conta que o ambiente da internet é outro e exige uma abordagem e uma reinvenção ampla na forma de se comunicar.
A grande maioria das empresas que está fazendo ações na internet está errando principalmente porque desrespeita o consumidor.
As empresas não entenderam que quem manda na internet é o consumidor. O jogo do mundo físico se inverte na internet: Aqui quem manda é o todo poderoso e soberano “povo” e, diga-se de passagem, isso é uma das grandes conquistas da internet.
Caros gerentes de marketing de empresas onde o consumidor aparecia em último lugar na lista de prioridades: esta é uma mudança GRAVE.
Quem quiser entrar na internet com a abordagem “Eu falo e você ouve e compra” ou “Ei, ignorante, aqui vai a nova promoção que te engana e você cai como um patinho”, não irá só perder dinheiro (o bom é que internet tudo acaba custando menos) mas vai se “queimar na nuvem”, como diria minha namorada.
Se você quer reduzir o tempo de adoção das idéias de marketing, tenho uma notícia ruim pra você: você já está atrasado 11 anos. A abordagem correta do marketing foi descrita em um livro chamado The ClueTrain Manifesto em 2001 nos EUA e está a cada dia que passa mais atual do que nunca.
O ClueTrain Manifesto começa assim:
“Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como um resultado direto, mercados estão ficando mais espertos—e mais espertos que a maioria das empresas.
Estes mercados são conversações. Seus membros se comunicam em uma linguagem que é natural, aberta, honesta, direta, engraçada e muitas vezes chocante. Quer seja explicando ou reclamando, brincando ou séria, a voz humana é genuína. Ela não pode ser falsificada.
A maioria das empresas, por outro lado, apenas sabem como falar na linguagem calma, sem-humor e monótona da missão corporativa, prospectos de marketing, e o sinal de ocupado sua-ligação-é-importante-para-nós. O mesmo antigo tom, as mesmas antigas mentiras. Não é de se espantar que mercados conectados não tem respeito por empresas que não querem falar como eles.”
Cluetrain é uma brincadeira assim: “O trem das evidências (cluetrain) parava quatro vezes por dia por dez anos e eles nunca pegaram a encomenda.”
Isso tem 11 anos! Eles deram o recado e pouca gente ouviu. Agora, se você continuar a ignorar e achar que vai fazer marketing na internet, você ainda não vai estar pegando a “encomenda”.
Duas dicas: leia o manifesto ClueTrain (e dê tempo pra que as fichas caiam) e procure saber mais sobre Inbound Marketing. Você estará dando os primeiros passos em direção ao futuro do marketing.
E você, tem alguma dica quente para nós?
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