foto: Amir K.
Há cerca de dois anos atrás, minha mulher – que conhecia meu fascínio pela obra de Van Gogh – me deu um Moleskine de presente. Imaginem minha cara quando li o tag da capa dizendo “the legendary notebook of Van Gogh, Matisse, Hemingway and Chatwin“. Fui a loucura! Comecei a folhear, sentir o tato áspero daquele papel e delirar: “- Será que foi aqui que ele desenhou ‘Sorrow’?”, “- Ou ‘Os Plantadores de Batata’?”. Fiquei tão impressionado com aquele presente que demorei meses para tirá-lo da gaveta. Não tinha coragem de escrever nada nele! Não me sentia digno o suficiente para ousar rabiscar algo ali, saca?
Até que, deixando a bobeira de lado, recentemente comecei a usá-lo. E, de fato, é um bom caderno. Pequeno e com ótimo acabamento (pontas arredondadas, capa dura, bem revestido, com o tal do elástico, etc). Mas ainda assim o meu alter-ego-mão-de-vaca sussurava se aquilo realmente valia os 80 mangos que minha mulher pagou. Pombas, bixo! Van Gogh que me perdoe, mas é só um caderninho, tô certo?
Entrei na internê pra pesquisar e descobri que uma empresa italiana teve o insight de relançar, na década de 90, um lendário caderninho francês, que havia sido descontinuado muitos anos antes. Caderninho este, que no passado serviu de suporte nas mãos grandes artistas, escritores e afins. E qual não foi a minha surpresa quando descobri que essa releitura foi catequizada, batizada e coroada como Moleskine?
A verdade é: fake ou não, foi uma idéia fantástica. Pra se ter noção, hoje a empresa ultrapassa os U$200.000.000,00 de faturamento, e possui escritórios em Milão e Nova Iorque. As lojas são convidativas e os produtos, embora “só” cadernos e agendas, são super criativos e atuais. Seja pela belíssima paleta de cores, pelos temas de diversas cidades ou mesmo pelos formatos diferenciados. Hoje a fabricação é chinesa (coisa que irritou alguns fãs da marca). Mas, convenhamos, parece uma decisão inteligente: além do lucro aumentar, os chineses são os inventores do papel. Melhor do que isso, só se viesse com um rolinho primavera dentro!
foto: Patrick Ng
É óbvio que seria audácia dizer que um caderno serve como plataforma para a criatividade. Se um Crybaby não te torna um Jimi Hendrix, não será um caderninho que fará de você um Pablo Picasso. No entanto, diversos ilustradores, diretores de arte, designers, escritores e poetas parecem se sentir atraídos e inspirados por essa marca. A prova disso são as centenas de sites e canais no YouTube, com apresentações do conteúdo de Moleskines finalizados pelos seus proprietários. Saca só o que esse italiano, de Turin, fez para registrar sua viagem a Turquia:
E tem mais: olha só esse grupo no Flickr, só com criações em Moleskine.
Uma coisa é fato: Van Gogh, pobretão como era e sustentado pelo irmão, jamais compraria um pelo preço que oferecem no mercado de hoje.
E você? Pagaria essa grana por um caderninho desses?
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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