A dentista Carla Sarni, fundadora da rede Sorridents, surpreendeu a plateia durante a quarta edição do Movimento Empreenda ao afirmar com ênfase: “Para ser empreendedor é preciso ter estômago.” A frase, que fala muito por si só, foi explicada com uma passagem da própria vida de Carla. Em um momento de dificuldade no fluxo de caixa da empresa, ela vendeu o apartamento em que morava com o marido e os dois filhos e mudou-se para um imóvel alugado.
Entre as caixas da mudança, ela viveu com a família em um apartamento menor do que o anterior até conseguir dinheiro para comprar um imóvel maior. “Eu sabia que ia trabalhar e conseguir o dinheiro para comprar um novo apartamento”, disse.
Carla Sarni e o marido Cleber Soares são parceiros de empreitada. Além de sócios na vida privada, os dois dividem a administração da Sorridents – uma rede de odontologia com foco na classe C com 140 clínicas em funcionamento de um total de mais de 180 clínicas franqueada.
Mas como fica esse equilíbrio quando um dos membros do casal não faz parte da sociedade? Não é fácil estar casada (o) com um empreendedor. As razões são bastante óbvias e a editora da revista INC., Meg Cadoux Hirshberg, me ajuda a listar algumas delas.
“Empreendedores entendem na teoria o valor restaurativo de temporadas de descanso, mas é muito difícil conseguir afastá-los por longos períodos dos seus negócios”, afirma. Meg é mulher de um empreendedor e entende do assunto. “A maior razão para que eles não consigam ficar longe do negócio por muito tempo é o medo de que a empresa não ande sem eles”, diz.
Se você é empregado em alguma companhia, certamente planeja com antecipação a hora de desfrutar os 30 dias de férias garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao lado de um empreendedor, conseguir executar uma viagem a dois que coordene os calendários pode se tornar uma tarefa complexa.
Um grande motivo para isso é que a vida do empreendedor e do empreendimento estão profundamente ligadas nos primeiros anos de fundação de um negócio. É como se criador e criatura fossem uma coisa só. A capacidade de trabalho, a rede de relacionamentos, a personalidade e o background são algumas das forças que ajudam a impulsionar uma empresa nos primeiros anos de vida – e estão diretamente ligadas à presença do empreendedor.
Por isso mesmo, além de ficar difícil agendar férias convencionais, os limites entre os momentos de folga e trabalho começam a se tornar cada vez mais tênues. O que parecia um convite para um programa a dois – um happy hour ou um jantar em um restaurante novo – pode se transformar em um pitch de apresentação do negócio. Basta que algum potencial cliente se apresente – e é melhor estar preparada (o) para complementar o discurso com algumas informações de mercado.
Além disso, prepare-se para arregaçar as mangas. Em tempos de startup, namoradas, namorados, maridos e esposas são contratados número um para trabalhar na linha de frente de um evento inesperado – carregando caixas ou atendendo o público. E é melhor fazer o serviço bem-feito, caso contrário corre-se o risco de receber um sermão do “chefe”.
Inesperadamente, você também pode ter a oportunidade de tornar-se sócio desse novo negócio. Conheço alguma dezena de mulheres e maridos que investiram parte das suas reservas – acumuladas durante anos de trabalho como empregados tradicionais – na empresa dos companheiros. É o que acontece quando algum evento inesperado fura o business plan, mas a vontade de continuar com o negócio é maior.
A boa notícia é que é um grande prazer estar ao lado de uma pessoa que trabalha com algo em que realmente acredita. E com o passar do tempo – e os anos mais difíceis de startup tendo ficados para trás – é também uma alegria ter participado da construção de uma marca ou um negócio de sucesso.
E você? Também tem um sócio no amor e nos negócios?