Esses dias eu estava conversando com um amigo que é um jovem empreendedor, o Ricardo Sudário. No meio do nosso papo, o Ricardo soltou a seguinte frase: “Ninguém me disse que empreender incluía uma série de reuniões chatas e outras coisas que são completamente improdutivas.” O Ricardo e um amigo dele, o Marcos Soledade, recém-formados em Sistemas de Informação pela USP, criaram recentemente a Quantica, uma startup de tecnologia que oferece soluções de educação a distância para universidades e cursinhos, além de treinamentos corporativos. A empresa é uma das seis escolhidas pela Incubadora Social e Tecnológica da EACH/USP.
O Ricardo me contou um pouco sobre cinco dos principais perrengues do início da empresa deles, comuns no começo de qualquer empresa e inesperados para os jovens empreendedores.
Você trabalha muito mais
Não pense que abrir uma empresa significa ter algum tempo livre – muito pelo contrário. “Meus dias estão mais corridos, mas muito mais gratificantes. Todo mundo aqui acaba tendo 1001 funções. Pouca gente pensa que você é desde o cara que coordena tudo até o office-boy que vai ao contador levar documentos, se for preciso. Ontem eu comecei o dia arrumando cabos de rede que estavam soltos e terminei apresentando os projetos para o próximo semestre para a equipe toda, que agora tem cinco pessoas.”
Você não tem ideia da real complexidade de manter uma empresa, sobretudo nas áreas contábil e jurídica
Ficar atento aos detalhes do enquadramento de sua empresa evita o pagamento de impostos e taxas desnecessários para o seu negócio. Contratar boas empresas de assessoria jurídica e contábil é fundamental. “As leis e as regras da Receita Federal são incrivelmente confusas para alguém que não é formado em Direito ou Contabilidade. Se você não acompanhar de perto, acaba pagando muito mais impostos que deveria. Nem sempre o contador entende direito o que você faz e enquadra a empresa numa classificação mais genérica, que paga mais impostos.” As discussões para chegar ao ponto ideal incluem reuniões “chatíssimas de horas e horas, com muita leitura de documentos chatos, até todas as partes se entenderem. Para quem está acostumado ao clima de startup, isso é uma tortura”.
Você pode enfrentar a resistência da família e dos amigos
Nem todo mundo entende por que você decide deixar um emprego fixo numa grande empresa para abrir a sua própria. E isso costuma ocorrer principalmente com quem está perto de você, com sua família e seus amigos. “Felizmente minha família me apoiou desde o começo, mas isso aconteceu com o meu sócio. A família dele pressionava bastante, no começo, para que ele ‘arrumasse um emprego de verdade’. Demora um tempo até as pessoas entenderem que o seu negócio é o seu emprego. Todo mundo quer que você vá trabalhar numa grande empresa, mas pouca gente o incentiva a criar essa grande empresa.
Você não imagina que sua empresa pode crescer muito rápido
Com a situação do país mais favorável a startups, o crescimento de muitas empresas tem sido acelerado. “Crescer rápido pode ser bom num primeiro momento, mas se você não estiver bem preparado, acaba afundando.” Para isso, um bom planejamento é essencial. E não basta pensar apenas no plano de negócios. É preciso pensar no plano financeiro, na estratégia de vendas, na contratação de funcionários etc. “Tivemos que refazer nosso planejamento financeiro e alterar algumas partes do plano de negócios, pois percebemos um nicho novo no mercado. O maior problema é ter medo de crescer. Isso mata a empresa.”
Você precisa provar que tem experiência, mesmo sendo muito jovem
Ricardo tem 21 anos e Marcos, 22. Quando chegam a um possível cliente, muitas vezes não são levados a sério no primeiro momento. “Tem muita gente que vê o empreendedor jovem como um universitário ainda, que não é sério o suficiente para estar à frente de um negócio bem estruturado. Alguns clientes às vezes fazem mais ressalvas quando veem que você é muito novo.” Aí é preciso colocar a lábia em ação e gastar muita saliva para mostrar experiência e capacidade.