PHOENIX, EUA – Imagine um mundo paralelo em que as pessoas se importam e são fãs da CBF. Uma confederação capaz de despertar (quase) tantas paixões quanto os próprios times de futebol. Torcedores vestem a camisa da liga, compram produtos e gritam nas ruas: “CBF! CBF CBF!”
Nem em 1 milhão de anos, você diria. Mas é exatamente o que acontece com a NFL nos Estados Unidos. E olha que não estamos falando de entidade ficha limpa.
É óbvio que as equipes é que movem as pessoas, mas a liga americana de futebol soube reunir toda essa gente como ninguém, criando uma obsessão pelo esporte que transcende a torcida por um só time. Nos dias que antecedem o Super Bowl, não apenas fãs do Seattle Seahawks e do New England Patriots estão ansiosos pela partida. O país todo se dedica ao jogo – não é apenas um interesse regional – com cobertura maciça da mídia 24 horas por dias.
Andando pelas ruas de Phoenix, recheadas de eventos temáticos e patrocinados, esse sentimento é a primeira coisa que se nota. Torcedores de todos os times, famílias, crianças, senhores e senhoras caminham como em uma Disneylândia do futebol americano. Formando filas para qualquer coisa, e gastando dinheiro com qualquer quinquilharia ligada à NFL.
Tudo se transforma em espetáculo. Nem a NFL, muito menos os patrocinadores, querem que as pessoas tenham tempo de ficar entediadas.
Doze quarteirões da cidade foram fechados para sediar essas atrações pré-Super Bowl. É o chamado o Super Bowl Central, bancado pela Verizon. Uma área em que a lei é suspensa e as pessoas podem beber na rua. Marcas criam stands interativos, com brincadeiras para crianças, além de um palco da Pepsi em que acontecem shows e performances. Emissoras de TV e a própria NFL montaram estúdios no local, para transmissão de programas ao vivo.
Contando com um grande esquema de segurança, o Super Bowl Central é aberto ao público, que coloca a mão no bolso apenas para comer fast food ou comprar souvenir em alguma do diversos stands da NFL Store pelo caminho. Diferente da NFL Experience, com patrocínio da GMC, que vende ingressos no valor de 30 dólares por pessoa.
É quase um parque de diversões dentro do Centro de Convenções de Phoenix, com diversos gramados para que as crianças joguem e façam os treinamentos dos jogadores. A NFL também dedica espaço para celebrar a sua história, com uma exposição e exibição de memorabília. Tem ainda uma seção especial que relembra a final da temporada passada. Tudo extremamente organizado e planejado em cada ponto de contato com o consumidor.
Tudo se transforma em espetáculo, em diversão. Nem a NFL, muito menos os patrocinadores, querem que as pessoas tenham tempo de ficar entediadas. Mesmo com o tempo chuvoso insistente nos últimos dias, alguns pontos da cidade ficaram intransitáveis. Sozinhos só estavam os pregadores religiosos, quase um em cada esquina tentando chamar atenção dos “pecadores”.
A comparação com o nosso Brasil é inevitável. A grande quantidade de torcedores, paixão pelo esporte, o dinheiro movimentado e a atenção da mídia são coisas que também temos. Mas a sensação, depois de alguns dias imerso na NFL, é de que transformamos o nosso futebol em algo marginal e polarizado. O todo deveria ter potencial para gerar comoção nacional, mas isso raramente acontece fora de clássicos regionais.
É verdade que são situações diferentes. A NFL é praticamente uma ditadora socialista, evitando que algum time tenha poder demais ou de menos. Já no Brasil, a renda fica concentrada em poucos clubes. Porém, do ponto de vista de negócio, ajudaria muito se tivéssemos uma confederação capaz de dar esse senso de importância ao esporte e tratar com competência o conteúdo valioso que tem em mãos. Se fosse assim, talvez nossos times não enfrentariam tamanha crise financeira atual, nem teríamos tantos garotos vestindo camisas do Barcelona e do Real Madrid.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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