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O drywall do Niemeyer


Nota do Editor: Ontem, logo após o anúncio da morte de Oscar Niemeyer, vi o glorioso Pedro Guerra contando no Twitter sobre uma breve experiência profissional e publicitária com o arquiteto. Na mesma hora pensei, essa história merece um post no B9. Enchi o saco dele, e aí está. Um belo exemplo de que nem tudo está à venda, e podemos até nos orgulhar quando um trabalho dá “errado”. [Carlos Merigo]

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O trabalho de naming (nomear, dar nome, caraio!) é dos mais ingratos. Embora tenhamos que obedecer certos critérios estabelecidos pelo brief, todo o resto é absolutamente subjetivo. Pepsi mais parece nome de enzima. Tem certeza que Picanto é um bom nome para um carro ou para qualquer outra coisa? E Cafusa? Uma bola tem que pelo menos saber para onde vai… Meu dupla e grande compadre Kleyton Mourão é exemplo vivo de que pais e mães não raramente se dão mal neste departamento.

Pois bem, anos atrás recebemos um pedido para criar e desenvolver a programação visual para um novo serviço de um grande banco estatal, destinado a clientes do segmento que normalmente se chama de premium. O Banco Real tinha o Van Gogh, o Itaú tinha o Personalité. Esse banco queria criar o seu. E para isso pediu um nome que fosse sinônimo de brasilidade, que designasse elegância e que fosse internacionalizável, de expressão global.

Fizemos dezenas de exemplos, e dentre alguns escolhidos para apresentarmos ao cliente tinha o “Niemeyer”. Eles adoraram, aprovaram na hora. Voltamos para a agência e começamos o trabalho visual.

Meu fiapo de ligacão com o gênio se partiu como se fosse feito de drywall.

Lembro que o logo foi feito com aquelas linhas frágeis, traçadas meio sem força ou convicção, com as quais normalmente o Niemeyer desenhava os seus croquis. Eram linhas brancas num fundo azul marinho, representando uma menina tentando alcançar uma estrela. Tudo muito elegante: envelopes, timbrados, placas de sinalização, letreiros, enfim.

Fizemos o famoso book (livro, porra!) com todas as peças, tudo aprovado pelo cliente. Agora era apresentar para o próprio Niemeyer e ver o que um dos maiores expoentes da arquitetura moderna tinha a falar sobre o assunto. E ele respondeu assim, ó:

– Não.

Lembro até que o “til” era bem sinuoso, meio parecido com o Copan. Ficamos decepcionados. O Niemeyer disse que não queria ter seu nome associado a um banco, mesmo que fosse um banco estatal. Há outra versão para a reprovacão. Ele teria dito que não era tão importante para merecer tal distinção.

O fato concreto, sem trocadilho, é que meu fiapo de ligacão com o gênio se partiu assim, como se fosse feito de drywall. E se me perguntarem qual das duas versões da recusa do Niemeyer eu acredito, digo que é a segunda. Aí eu posso falar pros meus filhos, acochambrando um pouco a realidade, que o Niemeyer não se sentia a altura do trabalho que eu tinha feito.

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