Em 22 de julho de 1962, o Mariner I estava em sua plataforma, pronto para fazer história. Depois do investimento de anos de construção, cálculos e financiamento, a NASA tinha grandes esperanças de que seu foguete realizaria com sucesso um voo de reconhecimento até Vênus, o que daria impulso para a corrida espacial americana. Em todos os sentidos, a NASA estava prestes a estabelecer um precedente em viagens espaciais.
Mas assim que o foguete foi lançado, ficou claro que não havia o que comemorar: menos de cinco minutos depois do início de voo, o Mariner I explodiu, dando um prejuízo de US$80 milhões (hoje seriam US$630 milhões). O que causou este desastre? Um simples hífen que foi omitido num código matemático escrito à mão.
Contexto da Corrida Espacial
Quando os Estados Unidos anunciaram seu intento de lançar satélites artificiais, em 1955, a URSS rebateu declarando que iria explorar o espaço “num futuro próximo”. Dois anos depois, em 4 de outubro de 1957, os soviéticos colocaram o Sputnik I nos anais da história espacial. Para não ficar pra trás, os Estados Unidos aprovaram a a Lei Nacional de Aeronáutica e Espaço em 1958, e a NASA começou a operar. Ao longo do próximos anos, o programa faria uma série de lançamentos, incluindo o primeiro sobrevoo da Lua (Pioneer 4, 1959), e o primeiro satélite de monitoramento meteorológico (TIROS I, 1960).
Mas a União Soviética não demorou a responder e, em 1961, o astronauta Yuri Gagarin se tornou o primeiro humano a ir para o espaço e voltar para a Terra em segurança. No mês seguinte, em um esforço para fazer com que os americanos apoiassem a NASA, o presidente John F. Kennedy fez o discurso que ficou conhecido como “Urgent National Needs” (Necessidades Nacionais Urgentes), prometendo que eles não só pousariam na lua até o fim da década, mas também dedicariam mais recursos à NASA em busca do avanço científico. O programa Mariner de 1962 era parte dessa iniciativa.
Com um orçamento de US$554 milhões, o programa se propôs a realizar um conjunto de expedições interplanetárias. A Mariner I, a primeira das dez naves não-tripuladas Mariner, conduziria um voo até Vênus para coletar uma variedade de dados científicos (isso faria dela a primeira nave espacial a voar até outro planeta). Mas a Mariner I estava fadada ao fracasso e mal deixaria a plataforma de lançamento.
O hífen mais caro da história
Em 22 de julho de 1962, o Mariner I foi lançado com grande alarde. Menos de cinco minutos mais tarde, a missão foi abortada, US$80 milhões foram desperdiçados e aquele que seria um voo histórico acabou caindo no chão — tudo por conta de um pequeno erro num código matemático. Em seu site, a NASA mostra o que deu errado nos momentos seguintes ao lançamento:
O foguete estava funcionando satisfatoriamente até que uma manobra inesperada foi detectada pelos comandos de segurança. Uma aplicação defeituosa nos comandos de orientação tornaram impossível continuar conduzindo a nave e fizeram com que ela se direcionasse para uma área do Atlântico Norte que era rota marítima ou para um local desabitado. [Em seguida, um oficial de segurança ordenou que a missão fosse abortada e a nave, destruída.]
Várias teorias surgiram em torno das razões por trás da falha da nave e grande parte delas se baseava em diversos relatórios que foram produzidos logo depois do acidente (alguns oficiais, outros mera especulação). Mas a explicação mais citada, diretamente do Relatório Pós-Voo da Mariner I, foi que um hífen ou uma barra que não estava nas instruções do código de computador fizeram com que o desastre acontecesse.
ENTENDA: Por que o pouso do homem na Lua nunca poderia ter sido forjado?
Cinco dias depois do lançamento malfadado, uma manchete do New York Times falou do pequeno erro — “Por falta de hífen, o foguete de Vênus foi perdido” — e a reportagem do jornal contou que o erro havia sido o resultado “da omissão de um hífen nos dados matemáticos”. Supostamente, um programador da NASA havia esquecido de colocar o símbolo ao inserir “uma massa de informação codificada” no sistema do computador.
Na mesma semana, Richard B. Morrison, um oficial da NASA, apresentou um relatório sobre a destruição do foguete diante do Congresso americano e ressaltou a importância da pequena omissão:
[O hífen] faz com que a nave ignore todos os dados enviados pelo computador até que o contato com o radar esteja restaurado. Quando aquele hífen foi deixado de fora, informações falsas chegaram aos sistemas de controle da nave. Nesse caso, o computador ordenou que o foguete fosse para a extrema esquerda e apontasse o nariz para baixo; o foguete obedeceu e caiu.
Em seu livro de 1968 The Promise of Space, Arthur C. Clarke lembrou o erro como “o hífen mais caro da história”, uma afirmação que provavelmente é verdade. O Mariner I deu um prejuízo de US$80 milhões (que seriam US$630 milhões hoje) — cerca de 7% dos US$1.2 bilhões que eram o orçamento federal da NASA para 1962. Se existe algum consolo, aconteceu antes de NASA entrar numa fase em que receberia os mais altos subsídios de sua história, o que culminou com a chegada do homem à lua, em 1969: