Certa vez ouvi que uns 10 anos atrás o sonho de grande parte dos estudantes de comunicação, principalmente os que iam se formar em jornalismo, era trabalhar em grandes veículos, como emissoras e jornais de renome. Como não tínhamos muitas opções (na verdade, até hoje há uma concentração muito forte) parte dos alunos se contentava com veículos menores, muitos deles que nem ao menos respeitavam as regras básicas do português ou os pilares básicos do jornalismo.
Acontece que veio a internet e isso colocou um mouse na mão de cada usuário. Você, mero usuário de bits e bytes, passou a ser um potencial produtor de conteúdo. Você, que sempre sonhou em trabalhar em um grande veículo, mas nunca teve uma real oportunidade, agora podia criar a sua própria mídia. E a sua mídia podia ter o formato que você quisesse, o tamanho que desejasse, a linguagem e a linha editorial que mais lhe agradassem e, principalmente, você ainda tinha a opção de não depender de anunciantes e construir uma visão de opinião totalmente independente de intervenções.
Parece utopia, mas não é. Há uma legião de blogs ao redor do mundo que se transformaram em verdadeiras centrais de conteúdo. O Mashable, por exemplo, cresceu tanto que chamou a atenção da CNN, essa talvez o maior símbolo internacional do jornalismo. Outros, como o Huffington Post, são considerados jornais, assim como The New York Times ou The Guardian. Há ainda os canais menores, mantidos por dois ou três jornalistas, estudantes ou apenas curiosos sobre determinados temas que alavancam verdadeiras multidões. Por que eles fazem tanto sucesso? Conteúdo de qualidade.
Opinião diferenciada
Classificar o que vem a ser um conteúdo de qualidade pode ser um tanto quanto poroso. Algumas pessoas julgam que discutir sobre os bastidores da economia do governo Dilma seja algo relevante. Outros, no entanto, querem falar sobre humor e nada mais. Porém dois pontos unificam toda e qualquer tribo que procure por conteúdo na internet: ou elas querem credibilidade ou querem diferencial.
No caso dos grandes jornais internacionais é fácil supor que seus legados estão baseados na credibilidade. São décadas de serviços prestados à sociedade e os recentes crescimentos em adesões ao sistema paywall corroboram a tese de que, sim, as pessoas querem pagar por um conteúdo que elas julguem confiável e crível. Na outra ponta da linha nós temos o conteúdo diferenciado, e esse pode vir na forma de opinião, ineditismo ou apenas qualidade.
Um profissional que não tem anos de experiência de mercado e nem trabalhou em grandes jornais pode ter opiniões tão interessantes sobre um tema que é quase inevitável que conquiste uma parcela confiável de público. Ele pode, por exemplo, ser um eterno pesquisador de mídia e possuir uma habilidade ímpar de associar o universo da comunicação com temas sociológicos, por exemplo. Ao criar um canal como um blog, ele automaticamente consegue atingir o item opinião diferenciada. E, sim, as pessoas estão desesperadamente procurando por opiniões e argumentos que fujam do mais do mesmo.
A mídia precisa se reinventar
No caso ineditismo, nós podemos ter um blog que fala sobre temas que ninguém nunca se preocupou em explorar ou, quem sabe, algo que na visão do público seja realmente inusitado e diferente. Um exemplo? O canal Portal dos Fundos está aí para provar que é possível inovar onde aparentemente se encontrava um segmento saturado: o humor de vídeos. O sucesso foi tão grande que ganhou respeito e reconhecimento instantâneos. E antes que você possa criticar, os números que estão conseguindo superam até mesmo muitas mídias tradicionais.
A internet possibilitou que uma legião de pessoas se tornassem editoras de si mesmas. Hoje em dia é muito fácil criar um canal na web, expor sua opinião, produzir um conteúdo interessante e, de quebra, ganhar credibilidade profissional e reconhecimento do mercado, podendo até mesmo se tornar uma fonte de renda caso seu “veículo” conquiste um público considerável. De longe isso não ameaça os grandes conglomerados midiáticos, mas preocupa.
Quando temos um colossal número de segmentos de público que está procurando por novas formas de informação e entretenimento é preciso que a mídia dita tradicional procure se adaptar. Colocar o mesmo vídeo do jornal no YouTube não é modificação; é preguiça. Quando o usuário for ao YouTube, provavelmente ele até já sabe tudo sobre a notícia e está procurando uma visão diferenciada do tema, passando batido pelo seu vídeo “ultrapassado de meia hora atrás”.
A mídia precisa se reinventar. E você, enquanto usuário, precisa criar uma. Tipo, agora.
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