A edição 2012 da Comic-Con, maior e mais prestigiosa concentração anual de nerds do planeta, terminou domingo em San Diego, Califórnia, e o New York Times observou um fenômeno curioso: a timidez dos grandes estúdios de cinema em aproveitar a oportunidade como caixa de ressonância para os grandes lançamentos dos próximos meses. Em outros anos, os estúdios usavam a estratégia de deflagrar “incêndios controlados” entre os fãs de histórias em quadrinho, literatura fantástica e games que geram os blockbusters. Desta vez, Paramount, Universal e 20th Century Fox simplesmente não apareceram.
A Warner levou Peter Jackson, o diretor da trilogia “O Senhor dos Anéis”, para apresentar 13 minutos do primeiro dos dois filmes baseados em “O Hobbit”, o prólogo da saga escrita por J.R. Tolkien. Mas desistiu de mostrá-los no sistema inovador de filmagem (velocidade dobrada de captação que, supostamente, gerará cores mais brilhantes, movimentos mais suaves e imagens mais nítidas) e também sonegou o 3D. O diretor Zack Snyder apresentou um trailer do novo Super-Homem, “Man of Steel”, produzido por Christopher Nolan, que sequer mostra o vilão. Indagado sobre a ausência pelo público, Snyder gaguejou e afirmou várias vezes que o filme vai ser “incrível”.
Para uma indústria que sela a carreira dos filmes apenas pelo desempenho na bilheteria no primeiro fim de semana, a repercussão que um evento como a Comic-Con pode gerar em redes sociais tornou-se perigosa demais. Talvez desavisada, a distribuidora Open Road exibiu no evento o filme “The Host”, baseado em obra da escritora Stephanie Meyer, da saga “Crepúsculo”. Ao fim da sessão, a reação foi fria, e imediatamente a empresa designou um jornalista para montar uma estratégia que tentasse neutralizar a má repercussão na internet.
As conclusões sobre isso tudo são:
1. Uma fonte de repercussão que antes era considerada em princípio amigável está começando a ser vista como em princípio perigosa.
2. Esta é mais uma evidência da rapidez com que os produtos das áreas de tecnologia e entretenimento caem em desgraça. Uma reportagem do mesmo New York Times, quase um ano atrás, já mostrava como novos modelos de celular e tablets que recebiam críticas iniciais negativas eram rapidamente tirados do mercado. É caro e incerto demais tentar reverter a repercussão ou reformar o produto.