Qual é o papel de uma universidade na sociedade? Cultivar o saber humano? Formar profissionais capacitados ao trabalho e à pesquisa? Qual é o tamanho dessa responsabilidade? Qual é o impacto do ensino que elas fornecem à seus alunos?
Essas questões são sempre nebulosas ao analisarmos o sistema de educação no Brasil. A “particularização” do ensino nas últimas décadas e o abandono total do governo às escolas públicas fizeram do nosso sistema educacional uma grande corrida por dinheiro. A maioria das instituições não está preocupada com o aprendizado, de fato.
E o que isso tem a ver com o novo logotipo do Senac?
O Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – é uma instituição tradicional, criada em 1946, que fornecia cursos profissionalizantes e a partir de 2004, com aprovação do Ministério da Educação, fornece também cursos universitários. Um dos cursos mais procurados é o de Design Gráfico.
Esta semana eu vi o novo logotipo do Senac sendo criticado nas redes sociais. Desculpe Senac, desculpe à agência que o criou, mas é impossível defender esse logotipo. Eu não consigo imaginar como uma universidade que oferece um curso de design pode ter um logotipo tão fraco como esse. Tipografia pobre, ícone sem nenhuma personalidade e estilo totalmente trivial, sempre acompanhados de um discurso “inovador” como as palavras do diretor geral Sidney Cunha:
“A logomarca traz um avião de papel estilizado, formado pela junção de triângulos que, como uma seta, aponta em direção ao novo, ao futuro. A educação profissional é o veículo dessa transformação de vidas, possibilitando a ascensão pessoal e profissional dos brasileiros, que acompanham a trajetória de sucesso econômico e social do país.”
Logomarca? Não senhor, é logotipo! Logomarca não existe.
Até a wikipedia já sabe disso.
A minha intenção nesse post não é simplesmente falar mal dessa nova identidade, porque isso qualquer pessoa com bom gosto pode fazer. Há outros pontos a se levantar aqui. Questiono o tamanho da responsabilidade do Senac sobre seus alunos dos cursos de design ao assumir um logotipo desse e publicar oficialmente em seu site o termo “logomarca” diversas vezes. Tudo isso faz parte do aprendizado que uma universidade pode oferecer a seus alunos.
Quão confiante é um dentista que não escova os dentes?
Quão confiante é um dentista que não escova os dentes? Ou um médico que fuma e bebe, mas pede para seus pacientes terem uma vida mais saudável? E olha que isso tem de monte! Seria o “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” ou o “em casa de ferreiro o espeto é de pau”?
A credibilidade está em jogo. E infelizmente esses logotipos banais que você vê por aí são apenas o puro reflexo da qualidade do ensino de design no nosso país. Infelizmente. E infelizmente.
Obs.: quero deixar claro que isso não é de forma alguma uma crítica ao curso de design e a qualidade de ensino em geral do Senac. É apenas uma crítica sobre a responsabilidade do departamento de marketing comprar um logotipo desse, com tamanha visualização e importância que ele tem no Brasil. Também reitero que acho um absurdo uma instituição de ensino que leciona design usar a palavra “logomarca” em suas divulgações oficiais.
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