Até 9 de dezembro acontece a nova rodada de negociações sobre o clima em Durban, na África do Sul, e um dos objetivos desta é traçar novas metas para o Protocolo de Kyoto, que possui projetos pouco ambiciosos, prevendo reduções de 5,2% entre 2008 até 2012. O mundo chega à CoP 17 com os países desenvolvidos em crise econômica e talvez uma expectativa mais modesta dos esforços para um acordo climático. Porém, as negociações não se restringem a novas metas de redução, e sim, quem será obrigado a reduzir.
Hoje o maior emissor de gases de efeito estufa é a China e, nos próximos 20 anos, as emissões históricas dos países emergentes como China, Brasil e Índia serão maiores do que os países desenvolvidos. Isto traz uma nova realidade para estes países, que até então não eram responsabilizados pelo Aquecimento Global. O Protocolo de Kyoto foi baseado no princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, ou seja, combater o aquecimento global é uma responsabilidade de todos os países, mas os países desenvolvidos historicamente emitiram mais gases de efeito estufa e com isso teriam maiores responsabilidade no combate ao aquecimento global.
Isto permitiu que os países desenvolvidos, como Japão e nações da Europa, conhecidos dentro do Protocolo como Países do Anexo I, ajudassem financeiramente as reduções de gases de efeito estufa nos países em desenvolvimento, conhecidos dentro do protocolo como Países fora do Anexo I. Isto tornou muitas iniciativas de reduções de emissões financeiramente viáveis, como troca de combustíveis fósseis para renováveis, uso de gases de aterro na geração de energia, melhoria da eficiência energética, entre outros. Trata-se de um erro dizer que o Protocolo de Kyoto foi ineficiente. Ele pode não ter atingido todos os seus objetivos, mas muitas iniciativas de reduções seriam inviáveis se não fosse pelos créditos de carbono gerados na redução.
Por isso, torna-se inviável falar em reduções de emissões sem trazer para a mesa de debate e possíveis metas países como China, Brasil e Índia, e ainda incluir os EUA, que ficaram de fora da primeira etapa do protocolo. Isto tem sido usado como argumento para nações como Japão, Canadá e Rússia abandonarem o protocolo, se não forem trazidas às mesas de negociação os grandes emissores, como chineses e americanos.
O Brasil se comprometeu durante a CoP-15, em Copenhagen, em reduzir algo em torno de 36% em relação a 1990, o que pode ser alcançado com a redução das emissões por desmatamento e degradação das florestas, tornando assim a meta brasileira mais possível dentre os outros países. Porém, um alerta acende no Brasil: a votação da flexibilização do Código Florestal. Outro ponto importante em discussão em Durban é o Fundo Verde (Green Climate Fund), destinado a financiamento de ações de mitigação e adaptação as mudanças climáticas. Embora as discussões sobre a governança deste fundo estejam bastante avançadas, ele ainda segue sem dinheiro, apenas com a expectativa que atinja algo em torno de US$ 100 bilhões no ano de 2020.
Algumas nações se comprometeram a investir, como Noruega e Brasil. Os EUA chegaram a falar em garantir grande parte deste dinheiro. Porém, a crise trouxe um EUA menos disposto financeiramente. Enquanto isso, as previsões do IPCC (Internagovernamental Panel on Climate Changes) tornam-se cada vez mais pessimistas. A expectativa é que, com o aumento de eventos climáticos extremos, como secas, inundações, furacões e nevascas, aumente ainda mais o número de refugiados climáticos e o custo na produção de alimentos.
Entretanto, nem tudo é pessimismo nas rodadas de negociações. Algumas iniciativas, como um piso no valor do crédito de carbono pelos britânicos, a criação de impostos sobre o carbono e o investimento em novas energias, trazem esperança ao incerto cenário atual.
Andreia Cristina Gondim é bióloga e pós-graduada em Administração de Empresas, e consultora da Green Domus Desenvolvimento Sustentável.