Não é de hoje que educadores norte-americanos discutem o fim do ensino da escrita cursiva — a nossa chamada “escrita à mão”, treinada exaustivamente nas idades mais tenras em aulas de caligrafia. Recentemente, o estado de Indiana resolveu aboli-la de vez, privilegiando as letras de imprensa e aulas de digitação. Não foi o primeiro: Carolina do Norte e Geórgia compartilham a mesma filosofia.
De fato, num mundo cada vez mais conectado, escrever à mão tem se tornado um exercício raro. No trabalho, tudo é executado com o auxílio de computadores. Na comuncação pessoal, bilhetes e recados deram espaço a SMS, mensagens instantâneas e redes sociais. A telefonia fixa está decadente, enquanto a móvel agrega muito mais do que voz. O celular é o verdadeiro PC, um personal computer de corpo e alma, já que não desgruda de seus donos, fazendo o papel de uma janela para o mundo digital. E o que dizer do email? Prático e quase instantâneo, tornou-se o padrão da comunicação comtemporânea.
Alguém aí ainda se lembra do que era escrever uma carta? Na minha pré-adolescência, além de pertencer a grupos “pen pal”, com amigos por todo o mundo, adorava corresponder-me com familiares, uma vez que estes se encontravam espalhados pelo Brasil e Alemanha. Era um ritual: escolhia com esmero os blocos de papéis de carta, comprados em papelarias dedicadas. Sempre guardava uma amostra numa pasta para coleção, e muitas vezes, trocava com amigas. Os envelopes sempre combinavam.
Ir para o exterior não era tão simples como hoje, e quando uma amiga viajava, ficávamos afoitas à espera dos lindos papéis importados. Com canetas, era a mesma coisa. Lembro-me que o must na época eram os papéis e Moleskine perfumados. Parece que continuo capaz de sentir as fragrâncias!
Sentava-se à escrivaninha e dedicava-se horas ao ofício da escrita, caprichando na caligrafia. E depois ainda tinha o ritual de escolher selos – outro objeto de coleção, desta vez incluindo os meninos – e despachar tudo pessoalmente numa agência dos correios.