De certa maneira, toda boa ideia acaba virando uma fórmula. É repetida, copiada e claro, transformada em alguma forma de ganhar dinheiro.
Outro dia, em um dos Braincasts, ouvi o Saulo falar sobre algo bem característico dos anos 2000 na publicidade: peças que se apoiam quase que 100% em um garoto-propaganda. Um rostinho nem sempre bonito mas na maioria das vezes conhecido se torna muito mais influenciador do que um conceito interessante, uma boa ideia, ou até mesmo um bom texto.
Mas boas ideias, bons textos e rostos conhecidos surgem a cada segundo na tal da internet.
Foi assim que o Porta dos Fundos deixou de ser um projeto lado B. Antes, tinha uma coisa quase underground, daquelas que você passa o link para os amigos com o simples propósito de dar risada, sem esperar que alguma propaganda marota vai enxergar em você um público circunstancial. Passou a ser um canal, um programa, que faz publicidade de um jeito claro (bem diferente do Rei Silvio Santos fazendo as propagandas subliminares de 1 frame para Jequiti).
O que chama a atenção na trajetória deles até aqui é a completa inversão do relacionamento entre a “marca” Porta dos Fundos e várias outras marcas de produtos e serviços.
Se você acompanha, mesmo que por cima, o canal (que é excelente, com alguns roteiros incríveis), deve se lembrar da primeira vez que uma empresa é citada de forma indireta (só que não). Fábio Porchat de Blue Men Group, tentando cancelar uma linha de celular, expondo problemas da TIM que fizeram clientes e não clientes se identificarem.
Depois foi a vez do Spoleto e seu atendimento com falhas. E da primeira grande virada: “Vamos aproveitar isso a nosso favor?”. Fizeram o segundo, que sugeria às pessoas reverem o primeiro e conquistou para a marca uma simpatia, uma imagem positiva vinda da atitude ousada de bater no peito e fazer o mea culpa.
Daí veio a FIAT, pulando a parte da crítica, indo direto para a propaganda, aproveitando os rostinhos e o canal conhecido (e descaracterizando um pouco o estilo deles).
Mas agora lá estão eles. Clarice Falcão – que já tinha um canal próprio beeeem legal no YouTube – emplacou uma música pra lá de chiclete para o Pão de Açúcar. Seu par, Gregorio Duvivier, que na época das propagandas da NET era quase um anônimo, já chama mais atenção do que o anunciante nos filmes do Renault. E o Fábio Porchat, que já não era exatamente um desconhecido, agora encena até mesmo propaganda dos biscoitos Mabel e da Prepara (!).
Puxa, que coincidência! Claro que não. O canal Porta dos Fundos Comerciais está lá, a todo vapor. Uma agência, uma produtora, uma mina de ouro. Mandem portfólios!
O que quero concluir com isso? Apenas a reflexão de que talvez estejamos entrando numa tendência de rir de nós mesmos, de olhar a ironia com bons olhos, de aprendizado sobre como usar a opinião espontânea do público em tempos de redes sociais. Talvez tenhamos passado da fase do “te processo”, e logo mais o CONAR fique menos rígido.
E que daí, quem sabe, um dia, a gente volte ao tempo em que a publicidade brasileira ganhava prêmio a rodo, porque tinha humor inteligente e ousado (aquele dos argentinos de hoje em dia, sabe?).
Enfim, é como diria o @raul_amderlaine: “mas devago” (sic).
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Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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