Quando, há algum tempo, me encaminhei ao Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Pentágono, acabei dando de cara com um shopping destruído em Arlington, na Virgínia. Eu estava procurando o lugar da forma clássica — com meus olhos — mas quando peguei meu celular, lá estava ela, marcada claramente no aplicativo do Google Maps: a DARPA.
No final das contas, a estrutura futurista que abriga a DARPA fica escondida atrás do Shopping Popular Ballston. Quando eu finalmente encontrei a porta e entrei no prédio, tudo pareceu muito familiar. As linhas elegantes e superfícies brilhantes se encaixariam perfeitamente nos escritórios de todas as empresas de tecnologia que eu já visitei. Os detectores de metais, no entanto, ficariam um pouco deslocados. O chefe de segurança arrancando meu celular antes de eu chegar nos elevadores também seria algo estranho na maioria das startups, cujos donos são tão obcecados com seus aparelhos quanto adolescentes viciados em Snapchat. É claro que a maioria das empresas de tecnologia não tem a missão de criar armas de combate, como robôs humanóides com força sobrehumana e drones lançados por submarinos.
A DARPA, no entanto, faz muito mais que armas. A mesma agência governamental que inventou a internet e construiu as bases da próspera cultura de startups nos Estados Unidos está tentando agir, ela mesma, como uma startup. Em poucas palavras, a DARPA está criando smartphones próprios para o campo de batalha, para que os soldados possam usufruir da mesma tecnologia móvel que melhorou a vida de incontáveis cidadãos nos últimos anos.
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Para as forças armadas — uma instituição imensa e amarrada pela burocracia — isso não é uma missão simples. Mas um grupo inteligente de pesquisadores e desenvolvedores da DARPA passou os últimos anos levantando os alicerces de um ecossistema digital, conhecido como programa de Aplicativos Inovadores, ou TransApp, na sigla original, que pode mudar a forma como os Estados Unidos guerreiam. Podemos pensar nesse programa como uma app store militar, onde todos os aplicativos são voltados para ambientes extremamente perigosos, e muitas vezes sem nenhuma conexão fixa. O processo é mais complicado do que parece.
Por que o exército precisa de smartphones
Doran Michels, diretor de programação da DARPA, saiu do elevador com um ar decidido, cercado por um grupo de assessores e segurando o que parecia ser seu almoço com as duas mãos. Seu cabelo era curto e seu sorriso era imenso. Ele quase não diminuiu o passo quando apertou minha mão e seguiu rumo à sede brilhante da DARPA. “Nós vamos para a área externa”, ele informou a um segurança. Meu celular foi devolvido.
Sendo ele o diretor do programa TransApps da DARPA, Doran já esteve na linha de frente da missão de inserir a inegavelmente útil tecnologia de smartphones civis na comunidade tática. Isso é um grande desafio, visto que a grande maioria dos soldados ainda depende de rádios antiquados e mapas de papel para percorrer as zonas de batalha. No entanto, Doran não poderia estar mais empolgado para superar esse desafio.