Muitas pessoas têm se perguntado por que a primeira imagem colorida de Marte, feita pelo Curiosity, ficou tão escura. Ou por que as fotos em preto e branco parecem ter uma resolução tão baixa e estar fora de foco em algumas áreas. Acalmem-se. Em breve elas ficarão fantásticas, perfeitas e em alta definição.
Há bons motivos para elas estarem feias no momento.
A imagem de hoje (a primeira colorida do Curiosity) foi tirada pela Mars Hand Lens Imager (MAHLI), que, embora tenha conseguido capturar com clareza o horizonte, foi projetada para tirar fotos próximas de rochas e do solo marciano. A MAHLI é parte de um braço-canivete-suíço que possui outros cinco instrumentos.
Seu sensor a cores tem 1600 por 1200 pixels de tamanho — trata-se apenas de uma câmera de 2 megapixels. Mais que o suficiente para tirar fotos próximas de objetos que talvez serão perfurados por outros gadgets do braço onde se situa. Dois megapixels não são ruins. Na realidade, eles são capazes de capturar muitos detalhes, como o recorte abaixo mostra com clareza. Então por que essa imagem parece tão nebulosa e escura?
Três palavras: proteção contra poeira.
Proteção contra poeira
Todas as câmeras a bordo do Curiosity são recobertas com capas de poeira transparentes. Elas foram instaladas para proteger as lentes durante a aterrissagem. Os engenheiros sabiam que essa operação, com o guindaste aéreo usando seus foguetes a todo vapor acima do rover, produziria muita poeira: partículas que voariam e poderiam danificar as delicadas lentes das câmeras.
Então eles colocaram capas de proteção em cada lente do veículo para evitar riscos. Eles removerão essas capas nos próximos dias, quando estiverem confiantes de que as lentes estão fora de perigo. Sendo isso coisa da NASA, há diversos “planos B” por todos os lados: considerando a hipótese de o mecanismo de remoção das capas falhar, os engenheiros fizeram as capas contra poeira transparentes. É por isso que elas já conseguem fazer fotos. Melhor umas imagens borradas do que nenhuma, certo?
Quando as capas forem tiradas, todas as imagens de todas as câmeras serão cristalinas. Na realidade, isso já aconteceu com as Hazard Cameras (Hazcams), ou câmeras de perigo. Tratam-se das câmeras que enviaram a primeira imagem do rover para a Terra:
Essas imagens ficaram horríveis porque as capas de poeira estão cheias de partículas. Mas veja o quão boas ficaram as fotos sem elas:
Cristalinas e bem boas… exceto pelos borrões nos cantos. Esse efeito também tem uma explicação simples.
Câmeras de perigo
Como o nome indica, as Hazcams são usadas para detectar perigos em potencial no chão, de modo que os pilotos do Curiosity possam evitar situações perigosas. Não espere imagens espetaculares dessas câmeras.
As câmeras são em preto e branco, com apenas 1 megapixel de resolução. Elas enviam imagens em 3D, então tanto o cérebro do Curiosity quanto os pilotos têm uma perfeita ideia do que estará sob o rover a qualquer momento.
As Hazcams também têm super lentes grande angular do tipo olho de peixe, que é a fonte das bordas borradas: a imagem foram “linearizadas” para que o público possa ver uma imagem “melhor”. Isso significa que a correção ótica foi usada para endireitar a distorção resultante do uso dessas lentes. O processo deforma, escala e estica a imagem original, o que resulta nas beiradas borradas que você vê.
Temos miniaturas!
Outra coisa que intrigou as pessoas são as pequenas imagens mostradas pela NASA durante a espera pelas imagens maiores que viriam mais tarde.
Elas geraram uma grande comemoração no controle da missão domingo passado. Alguém gritou “Temos uma miniatura!” e a equipe endoidou de empolgação.
Isso quis dizer que o Curiosity tinha disparado uma versão menor da primeira imagem tirada pela Hazcam. Essas miniaturas (com tamanho de 64×64 pixels) são como os ícones dos arquivos do seu computador, pequenas pré-visualizações que indicam o conteúdo de uma imagem em resolução maior que vem a seguir.
O mesmo aconteceu com o vídeo a cores da sua descida. Aquele vídeo também foi feito com miniaturas, aquelas tiradas pela câmera na barriga do Curiosity, o Mars Descent Imager Instrument. Aquelas imagens têm originalmente 1600×1200 pixels, então espere um completo (e espetacular) filme em alta definição da descida nos próximos meses; basta esperar que as imagens sejam carregadas para os computadores do Laboratório de Propulsão a Jato.
Isso leva algum tempo porque , caso você não tenha notado, o rover está em Marte. Bem, bem longe daqui. Ele está dando o melhor de si para enviar as fotos o mais rápido possível, mas está fazendo isso através de ondas de rádio.
As coisas realmente boas
Isso será parte das coisas realmente boas. Não que o que já temos no momento não seja bom. É fantástico, porque mostra que tudo está funcionando e bem.
Hoje nós recebemos só a primeira imagem colorida, tirada com um instrumento que não foi projetado para ser a câmera principal do Curiosity. Mas o Curiosity tem muitas câmeras. Doze, para ser exato. Algumas delas são capazes de tirar fotos 3D. Cada uma dessas câmeras tem uma função diferente.
Existem Câmeras de Navebação: câmeras 3D em preto e branco usadas para dirigir o rover, montadas na cabeça do veículo. Tem as MAHLI, que é mais uma câmera científica. Existe o Sensoriamento Remoto Induzido por Laser para Análises Químicas e Microimageamento, que não é uma câmera no sentido tradicional, mas uma que analisará a composição de rochas com detalhes e precisão sem precedentes usando um laser para vaporizar rochas com a ajuda de um espectroscópio para a análise do plasta resultante.
E então tem a Câmera do Mastro, ou MastCam. Esta é aquela projetada para capturar imagens, panoramas e vídeos (com até 10 fps) coloridos e fantásticos em alta definição. Existem duas delas, na realidade, porque elas foram feitas para gerar imagens 3D. E elas possuem lentes com zoom bem poderoso também.
Esses serão os verdadeiros olhos humanos do rover. Essas câmeras nos darão as coisas realmente boas.