O plástico mudou um bocado a forma que vivemos – ele é barato, pode ser moldado em praticamente qualquer formato e é, quase sempre, facilmente reciclável (quando as pessoas se dão ao trabalho). Com todas essas vantagens, por que ainda usamos garrafas de vidro para armazenar nossa cerveja? Tem a ver com o visual? Sabor? Ou existe outro fator em jogo?
Talvez você fique surpreso ao saber disso, mas em alguns lugares do mundo, como no Reino Unido, a cerveja às vezes é armazenada em garrafas de plástico. Lá, garrafas de cerveja de plástico são vistas com facilidade em festivais e festanças do tipo. Na realidade, em eventos especialmente grandes no Reino Unido, quase sempre é obrigatório servir álcool em garrafas de plástico, algo em que este que vos escreve tem experiência empírica, tanto servindo quanto degustando a bebida nesses bares.
Durante os Jogos Olímpicos de 2012, por exemplo, a Heineken, patrocinadora oficial do evento, abasteceu geladeiras por toda Londres com mais de um milhão de garrafas de plástico feitas especialmente para a ocasião. Embora eles digam que foi por razões ambientais, sustentabilidade e esse papo todo, especulou-se que foi uma atitude motivada pela preocupação com a segurança. Em qualquer evento onde há milhares de pessoas bêbadas de várias culturas assistindo a competições e se envolvendo emocionalmente com elas, tudo isso bem próximas umas das outras, é de bom tom não lhes oferecer pequenos artefatos de vidro que, num momento mais tenso, podem virar armas.
Sendo assim, você deve estar se perguntando por que isso não é mais comum por aí. Bem… talvez a resposta mais pertinente a nós, consumidores, é que colocar cerveja em garrafas plásticas altera seu sabor. O plástico é mais poroso que o vidro (que, por sua vez, é praticamente impermeável por oxigênio e dióxido de carbono). Em termos simples, isso significa que sua cerveja vai perder o gás/a efervescência mais rápido em uma garrafa de plástico do que em uma de vidro porque o dióxido de carbono que a torna gasosa escapa mais facilmente. O outro benefício do vidro é que ele não tem tem gosto, é praticamente neutro nesse quesito, o que quer dizer que ele não interage quimicamente com o que está dentro. Citando o Glass is Life: “Quando você come ou bebe alguma coisa [dentro] de um vidro, experimenta o gosto puro daquele alimento ou bebida – nada mais, nada menos.”
O plástico, por outro lado, tem elementos químicos que podem, potencialmente, “vazar” para a bebida e arruinar sua cerveja. Ou pior. O plástico mais comum usado no armazenamento de refrigerante e algumas cervejas, por exemplo, o politereftalato de etileno (o famoso PET) expele uma toxina metaloide conhecida por antinomia, entre outras coisas. Quando guardado em temperatura ambiente ou um pouco abaixo disso, a quantidade de antinomia liberada é considerada segura, mas na medida em que a temperatura aumenta, os níveis da toxina sobem também. Quando guardada em uma garagem fechada por alguns meses durante o verão ou em outras locais quentes, os níveis podem exceder os limites recomendados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Sobre as latas de alumínio, assim como o vidro elas são relativamente impermeáveis, tornando-se ideais para armazenar cerveja. O mais interessante é que, por dentro, essas latas recebem uma camada de um polímero especial a fim de reduzir o risco do alumínio contaminar a bebida, o que a torna bem mais segura. Entre outras coisas, níveis elevados de alumínio no corpo estão ligados a doenças como Alzheimer e Parkinson. Em qualquer situação, as latas de alumínio também têm como vantagem exclusiva serem totalmente opacas, o que protege melhor a bebida em relação a outras embalagens.
Outro motivo pelo qual garrafas o vidro, ou mais especificamente o vidro colorido costuma ser usado para cerveja é porque ele ajuda a protegê-la dos raios solares. Embora seja possível criar plástico da mesma cor, ele prejudicaria as iniciativas de reciclagem já estabelecidas. A cor âmbar das garrafas de plástico, combinada com as camadas adicionais necessárias para proteger a cerveja dentro delas as tornam mais difíceis de reciclar do que o plástico transparente, super comum na indústria dos refrigerantes.
Um problema mais específico das garrafas de plástico é que elas simplesmente não resistem ao processo de pasteurização pelo qual a maioria das cervejas é submetida. Depois de fermentada e embalada, elas geralmente passam por uma máquina que borrifa água fervendo para aquecer o líquido dentro da garrafa e, com isso, matar quaisquer micróbios que tenham sobrevivido àquela altura. Isso garante uma bebida mais segura e aumenta consideravelmente seu prazo de validade. Enquanto garrafas de vidro e latas são mais do que capazes de passarem ilesas por esse processo, garrafas de plástico tendem a deformar. Então sobram duas saídas: pular completamente essa etapa, ou usar um plástico muito mais rígido, o que aumenta o custo de produção, coisa que as empresas evitam tanto quanto possível.
Existem fabricantes de cerveja que estão buscando formas de tornar o uso de garrafas de plástico na comercialização de cerveja uma realidade (e a convencer o público a aceitar a mudança). Até agora, porém, as de vidro e as latas de alumínio seguem reinando nessa área.
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