O artigo de hoje foi escrito por Renata Lorenz Rodrigues, Vice-Presidente de Recursos Humanos e Operações do VivaReal
Cada vez mais jovens profissionais optam por não iniciar suas carreiras de forma tradicional, como os programas de trainee de grandes empresas, para se dedicar a construir ou trabalhar em uma startup.
São jovens que desejam montar suas empresas inovadoras e que não têm medo de arriscar, seja em produto ou estratégia. Mas infelizmente este tipo de empresa não é imune a alta mortalidade dos primeiros anos, que vemos nas pequenas e médias empresas brasileiras.
Sou apaixonada por empreendedorismo, mas também acredito que junto à vontade de inovar em um mercado e assumir os riscos, o melhor é criar uma bagagem de conhecimento para depois empreender com sucesso.
Veja como você pode se preparar para sua aventura empreendedora trabalhando por alguns anos em outra startup:
1. Aprenda com o dinheiro dos outros
Começar uma empresa não é tarefa fácil. Você vai encontrar dificuldades que são grandes, e outras que são enormes! As maiores dificuldades são acertar qual o produto e o modelo de negócio que tem aceitação no mercado, e montar um time de bons profissionais que te ajudem a levar a sua ideia adiante. Essas são as dificuldades que eu chamo de grandes.
Depois tem a dificuldade que eu chamo de enorme: ter dinheiro para cobrir os custos do início da operação. Não bastando a dificuldade de acertar o modelo de negócio e montar um time, você ainda terá que arrumar dinheiro para sobreviver durante esse processo.
Por isso, meu maior conselho é que você se junte a uma startup para “aprender com o dinheiro dos outros”.
Aprenda como empreendedores mais experientes lidam com esses desafios no início das suas empresas. Conheça pessoas e faça um bom network, que te ajudará no momento que você precisar montar o seu time.
Esses serão aprendizados que você vai levar na sua bagagem quando for abrir o seu próprio negócio, que certamente te ajudarão a ser mais ágil e a ter um início menos turbulento.
2. Aprenda como funcionam as coisas
Em uma startup você é multitarefa e terá exposição a diversos assuntos: você cuida de execução, trabalhando muito perto dos processos críticos e pondo a mão na massa, para ver como é fazer de verdade.
Olhar fluxo de caixa, montar um CRM, definir o pitch comercial, rever as características do produto – todas essas são atividades nas quais você pode se envolve.
Enquanto isso, você vai sentar e discutir as estratégias do negócio com o CEO e juntos vocês vão tomar decisões arriscadas e cometer erros. Tem de tudo um pouco!
Isso tudo é importante, uma vez que inovar, pensar fora da caixa e ser pioneiro são características fundamentais para uma nova empresa de sucesso. Mas nem tudo precisa ser inovado, entretanto. Tem muita coisa que você pode aprender como funciona antes de se aventurar nos oceanos do empreendedorismo.
Porque, afinal, é como eu falei antes: tempo é dinheiro – o que você economiza de tempo, você economiza de dinheiro.
3. Veja se você gosta realmente da “flexibilidade”
Vamos definir flexibilidade: flexibilidade é você pode fazer o que quiser, decidir como e quando as coisas vão ser feitas, que horas você quer trabalhar, certo?
Mas isso também implica em não ter ninguém para te dar o caminho das pedras quando você se sentir perdido. Que, se as coisas derem errado, a responsabilidade é sua e só sua.
Então lembre-se que junto com a flexibilidade, vem a responsabilidade: não há nenhum papel que imponha mais responsabilidade do que o papel de “CEO-Fundador”.
Pense que tudo (tudo!) o que acontece no negócio é, no fim das contas, responsabilidade do CEO que fundou a empresa – todas as decisões, em algum momento, partiram dele.
O que você fez, é responsabilidade sua. O que seu time fez é responsabilidade sua, porque você contratou aquelas pessoas. O que a empresa faz é responsabilidade sua, porque as pessoas foram contratadas por pessoas que você contratou.
Quanta liberdade!
Quando você abre a sua própria empresa, você deixa de trabalhar 40 horas para trabalhar 100 horas por semana, por que ter a sua própria empresa implica em muito mais trabalho, acredite!
Enquanto você é parte de uma startup, a pressão existe, mas de forma menos intensa. Você ainda terá tempo para fazer outras coisas como investir em formação, participar de eventos de networking com outras startups e investidores.
4. Aprenda que ter a própria empresa nem sempre quer dizer não ter chefe
Uma ilusão muito comum é a de que como empreendedor você não vai ter chefe. Que você vai ser dono da sua própria estratégia e liderar seu negócio sem interferência.
Isso pode ser verdade, mas nem sempre é o melhor caminho.
Se você quer crescer o seu negócio, é muito provável que você precise de recursos financeiros e, com isso, você vai precisar de investidores.
Aí, você passa a ter alguém a quem recorrer em momentos de incerteza, mas também passa a ter alguém para quem terá que reportar os resultados e atingimento de metas.
Investidores não são o que comumente pensamos quando nos referimos a um “chefe”, mas são pessoas que podem influenciar e até limitar certas decisões suas. Ou seja, muito provavelmente, você não vai poder fazer simplesmente o que você quiser.
5. Reflita se você realmente é motivado por gerar valor para o mundo
Ao se juntar a uma startup, você pode ter mais uma chance para pensar bem o que você quer da vida.
A trajetória do empreendedorismo é cheia de aprendizados, de fortes emoções e de alegrias. Mas ela traz, na mesma proporção, tensões, incertezas e muitas noites mal dormidas.
O que faz um empreendedor vencer no caminho do empreendedorismo é, entre outros fatores, a persistência.
E você só vai persistir se você acreditar, de todo coração, que aquilo vale a pena.
Saiba que vão existir outras tentações no caminho. Sabe aquele colega que foi para um emprego que paga bem? Isso vai ser uma tentação quando você estiver no seu escritório, no quartinho dos fundos da casa dos seus pais, há mais de um ano e ainda tiver incerteza sobre como e quando a sua empresa vai dar certo.
E os seus amigos e até sua família vão perguntar, as vezes de forma implícita: “e aí, já deu certo? Já ficou rico?”. Tudo isso vai adicionar a sua tensão, pode acreditar.
Então, veja como é viver em um ambiente de recursos limitados e alta incerteza antes de mergulhar de cabeça no empreendedorismo.
Reflita se você realmente é motivado por gerar valor para o mundo, ou se você apenas está atrás da glória que paira ao redor dos empreendedores de sucesso.
Não se esqueça que a pressão social é voltada à riqueza, e os seus valores vão ter que te sustentar durante o caminho.
***
Se depois de refletir sobre esses motivos, você decidir se juntar ao time de uma startup, saiba de mais uma coisa: é muito legal e divertido!
Tem festa, tem happy hour, não tem burocracia, pode vir trabalhar de bermuda, e rola até umas comilanças! As pessoas são jovens, você vai fazer muitos amigos e criar vínculos importantes para o futuro.
Certamente será um período de ouro para que você possa, depois, empreender com muito mais segurança!
—
Obs.: Créditos da imagem do trabalho em uma startup Shutterstock
The post Por que trabalhar em uma startup antes de começar a sua? appeared first on Saia do Lugar.