Era final do ano passado e eu estava começando a matutar umas ideias para meu segundo artigo para o B9 sobre compartilhamento-download de conteúdo, mudanças de lógica e novos comportamentos quando, muito coincidentemente, ao navegar por certos sites gringos dignos de credibilidade, conteúdo e atenção [1] deparei-me pela primeira vez com algumas notícias sobre o Stop Online Piracy Act e Protect IP Act. Os olhos arregalaram-se, os pêlos da nuca eriçaram, e desde então continuei apreensivamente acompanhando o desenrolar da trama, e discutindo e repassando informações nos twitterfacebooks da vida.
E aí, chegando mais perto dos momentos decisivos, pôs-se em ação o já conhecido e estabelecido modus-operandi de disseminação de informação, principalmente as de teor polêmico acima da média, e de mobilização da web: sites de informação jornalística começam a tocar no assunto (atrasado, com média de uma semana antes do evento), blogs replicam em tom alarmista, usuários começam a prestar atenção, sites e blogs criam be-á-bás e F.A.Q.’s sobre a questão seguido em um crescendo até alcançar os níveis de mini-histeria-redes-socialísticas e criação de rebanhos de usuários engajados de testa franzida, preocupados com SOPA desde pequeninhos [2].
E todos, olhando pra um só lado e, como sempre, esquecendo e/ou incapazes de enxergar que o quadro, sempre, sempre é maior e mais complexo do que a imagem chapada na largura e altura no monitor. Suas implicações e consequências se refletem em 3D, no eixo Z do volume e profundidade.
O efeito mais pernicioso de SOPAs e PIPAs não é só a arbitrariedade de sumariamente fechar sites em nome de detonar pirataria, o brabo mesmo é o objetivo a médio-longo prazo, maliciosamente entranhado nessas ações. Esse efeito seria, num futuro bem próximo, a pavimentação da involução, do caminho regresso a velha mídia de mão única.
A volta ao controle total de conteúdo e mídia (agora digital e virtual) pelas corporações, sem lugar nem para o usuário ativo [3] nem para a livre produção de conteúdo independente. É a insistente tentativa de levar o usuário de volta para o estado primitivo de mero espectador-receptador e transformar a web do século XXI na televisão do século XX, no que há de pior neste conceito de passividade: veículo de puro consumo.
SOPAs, PIPAs e similares que ainda estão por vir [4], são censura e/ou caça-pirataria apenas na superfície. O quadro é maior, mais feio e mais profundo. É pior, é controle e moldagem de comportamento. Estes projetos de lei e mecanismos de controle são o reflexo direto, mas escamoteado, das corporações dominando completamente a produção de conteúdo e ditando o que e como você consumirá, deixando apenas o quando como alternativa verdadeira de sua escolha. Ah, mas é claro que sua voz será ouvida sim: em pesquisa de opinião…
E voltaremos ao status quo que as corporações são loucas para recuperar: eles emissores, você receptor (pagante, é claro) e a web o meio. O bom dessa involução , de emissor-receptor-meio, é que velhos livros de teoria da comunicação poderão voltar a serem usados.
1. Porque relevância é um termo que já perdeu qualquer resquício de sentido no território virtual nacional.
2. E também criador de conteúdo.
3. Fator que pode substituído por qualquer outra questão controversa e/ou intimidadora.
4. A serem comentados na parte 2 dessas pós-considerações, daqui a alguns dias.
PS: As ilustrações deste texto estão disponíveis para download GRATUITO e uso sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.5). Ilustrações – A3 – cmyk (700 KB). A imagem no formato vetorial “EPS” (Encapsulated Post Script) pode ser aberta na maioria dos programas gráficos e redimensionada para o tamanho desejado sem perda de resolução.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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