Marque esta data: 2 de junho de 2011. É o dia da largada oficial para a produção em massa dos tablets em território nacional. Na quinta-feira, o governo publicou a portaria que estabelece as regras para o incentivo fiscal aos equipamentos portáteis sem teclado fabricados no Brasil e assim possibilitou às empresas ligarem as máquinas. Segundo cálculos dos técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a isenção pode representar uma queda de 40% no custo do produto. Mas o que isso significa efetivamente para o país? Muito.
A primeira constatação é que algo mudou na disposição do Estado. Dos rumores até a efetivação do projeto, foram meros três meses. Ou seja, o governo tem vontade política para solucionar a encruzilhada tecnológica do país. E essa situação não se trata de atraso, mas sim de momento.
Em uma conversa recente, Jack London, pioneiro da internet brasileira, explicou-me o quadro amplo: o mundo digital alterna ciclos. O foco primeiro esteve no hardware – nos anos 70 e 80, quando gigantes como IBM e Digital dominavam o mercado. Depois migrou para o software – período de ascensão da Microsoft e, posteriormente, do Google. E agora volta ao hardware novamente – hoje a Apple se consolida como marca mais poderosa do mercado.
A cada fim de ciclo dinossauros se extinguem. A fabricante de mainframes Digital, por exemplo, sumiu do mapa. A IBM se reinventou como companhia de serviços para superar a era glacial do hardware. No momento atual assistimos a consolidação da empresa de Steve Jobs no topo, enquanto a Microsoft tenta recuperar terreno perdido na área móvel.
Existe consenso em torno da ideia que a Apple criou, do nada, mercados inteiramente novos com os lançamentos do iPhone e do iPad. A chegada desses equipamentos fomentou uma indústria de aplicativos e um sem número de serviços, como revistas digitais, vídeos sob demanda e e-books multimídias.
O ponto central dessa revolução é o acesso a equipamentos topes a preços populares. Em resumo, a massificação de smartphones e tablets.
Dito tudo isso, voltemos aos tablets brasileiros. A equação “equipamento tope + preço popular = novo mercado” parece ter inspirado o esforço federal em trazer a Foxconn e a mudar as regras do jogo dos aparelhos móveis.
No campo das especulações, podemos concluir que o governo deve dar seguimento em breve a outras propostas de infraestrutura tecnológica como a massificação da banda larga e o projeto de cidades digitais, que prevê, entre vários pontos, áreas de acesso wireless gratuito.
Se todo esse cenário se consolidar teremos uma cena de negócios muito interessante sendo construída em um médio prazo. Algumas cidades poderão se tornar pequenos polos ou ilhas virtuais e concentrar um mercado local inteiramente conectado. Imagine a cena: na praça central o tradicional footing se transforma em uma multidão de jovens com tablets e smarts tuitando cantadas, gracejos, piadas, combinando festas, curtindo vídeos. E seus pais acompanhando os filhos por check ins no Foursquare ou pelo Google Latitude. E gente de todas as idades publicando conteúdo, lendo e-books ou revistas eletrônicas, fazendo compras, buscando de tudo na internet. O local e o global se misturam em uma nova realidade.
É o surgimento do terroir digital.
Nas grandes cidades, como São Paulo, porém, existe uma espécie de efeito videogame, que dificulta o acesso aberto. Como em um jogo eletrônico, os obstáculos à cultura móvel aparecem por todo o lado. A começar do próprio tamanho. O gigantismo das metrópoles restringe a disseminação de wireless público.
O sistema de transporte coletivo também se revela um dos entraves em relação ao uso dos tablets – quem se arriscaria e levar o iPad para passear no metrô lotado ou em ônibus com gente caindo pelas janelas? O medo de se expor pode tornar o tablet um acessório de viagem.
Se ao ar livre impera o efeito videogame, em locais fechados, como shoppings, escolas, universidades e condomínios, a cena muda. Esses espaços podem gerar suas próprias micro-comunidades. Em pouco tempo, o sistema educacional privado deve incorporar os tablets em sala de aula. E isso nem pode ser considerada uma previsão. Será, sim, a concretização de um sonho relativamente antigo de faculdades e colégios.
Com a massificação de tablets e smartphones, as oportunidades de negócios estarão, literalmente por todos os lados. E você, está preparado para a nova vida digital?