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Quando a Microsoft ameaçou processo judicial por causa da letra “E”


A guerra de patentes está chegando a seu ápice esta semana, mas em tecnologia os negócios sempre foram marcados por processos judiciais. Como esta disputa em 1997, que o empreendedor e escritor Steve Blank compartilha dos seus dias na E.piphany.

***

Em 1997, a E.piphany era uma startup que crescia rápido, com clientes, receita e algo próximo de um modelo de negócios reproduzível. Nesse ano, nós decidimos profissionalizar nosso logotipo (você devia ver o primeiro…). Em um grande salto de criatividade, nós decidimos que ele deveria ter o nome da nossa empresa e a letra “E” com uma linha curvada acima dela.

1997 também foi o ano em que a Microsoft estava no meio da guerra de navegadores contra a Netscape. A Microsoft acabava de lançar o Internet Explorer 3, que pela primeira vez era um concorrente de verdade. Com o navegador, veio um logotipo da Microsoft. E com o mesmo salto de criatividade, a Microsoft decidiu que o logo teria o nome do produto e a letra “E” com uma linha curvada sobre ele.

Uma das inovações de produto da E.piphany era usar uma invenção modernosa chamada de navegador, e nosso produto rodava tanto no Netscape como no navegador da Microsoft. Nós nem hesitamos em fazer isto.

Isto até o dia em que recebemos uma carta do departamento jurídico da Microsoft, alegando similaridade e confusão em potencial entre nossos dois logotipos.

Eles exigiram que nós mudássemos o nosso.

Eu queria ainda ter aquela carta. Eu tenho certeza de que foi tanto chocante como divertida.

Eu tinha esquecido esse incidente até esta semana, quando Doug Camplejohn – vice-presidente de marketing da E.piphany na época – me enviou o que, segundo ele, foi minha resposta à ameaça jurídica da Microsoft. Foi assim:

Carta de Resposta a Bill Gates

Caro Bill,

Nós temos em mãos uma carta do seu advogado, alegando que a Microsoft é dona do visual da letra “e”. Eu entendo o interesse proprietário da Microsoft em proteger seu software, mas eu não sabia (até receber a ameaçadora carta judicial) que uma das 26 letras no alfabeto agora era marca registrada da Microsoft.

Dado o nome da sua empresa, reivindicar a letra “e” é uma forma inusitada de se começar. Eu entendo que a Microsoft queira direitos exclusivos para a letra “M” ou “W”, mas “e”? Eu posso até imaginar um membro próximo da sua família começando a coleção de alfabeto comprando para você as letras “B” ou “G” como um presente de aniversário. Mesmo as letras “F“, “T” ou “C” devem ser mais atraentes agora que começar com “e”. (*)

Na verdade, considerando o bem-estar financeiro e poder judicial da Microsoft, você talvez deva comprar um símbolo, em vez de uma letra. Imagine quanto dinheiro você poderia cobrar pelo uso do “$”.

Eu entendo que a queixa judicial se refere às semelhanças do nosso uso do “e” no logotipo corporativo da E.piphany ao “e” no logotipo do Internet Explorer. Dado que o nome da minha empresa e o nome do seu produto começam ambos com a mesma letra, não precisa de muita imaginação para entender porque ambos usamos a mesma letra no logotipo – mas eu acho que seus advogados não perceberam isso.

Quanto à confusão entre os dois produtos, é difícil para mim entender porque alguém iria confundir um pacote de software para empresas que custa US$250.000 (com o qual exigimos do cliente que compre US$50.000 de software da Microsoft; NT, SQL Serer e IIS), com o gratuito e sempre presente Internet Explorer.

Dado que a Microsoft define os padrões para a maioria das coisas na indústria da computação, eu espero que nós não encontremos uma carta semana que vem com a Netscape nos processando por usar a letra “N”, seguido da Sun reivindicando a letra “J” [Java]. Talvez nós possamos enviar as 26 letras para alguma forma de comitê de arbitragem.

Pensando bem, começar com “e” seria outra estratégia brilhante da Microsoft: é a letra mais comum do idioma inglês.

Steve Blank

(*) N.T.: FTC é sigla para Federal Trade Comission, cujas investigações levaram à condenação da Microsoft por antitruste.

Epílogo

Como naquele ano a Microsoft acabou sendo um grande cliente multimilionário da E.piphany, eu só posso assumir que a carta nunca foi enviada, porque alguém mais tranquilo (muito provavelmente nosso novo CEO) cuidou da situação. Assim, o possível processo judicial nunca se materializou.

Ironicamente, desde a virada do século a Microsoft tem feito muitas coisas boas pelos empreendedores. Os programas BizSpark e DreamSpark se tornaram o melhor modelo corporativo de como uma empresa grande pode se tornar parceira de estudantes e startups no mundo inteiro.

Mas estou feliz que ajudamos a manter a letra E no domínio público.

***

e sblankSteve Blank é um empreendedor serial aposentado que virou educador, e está mudando a forma como se constroem startups, e como se ensina empreendedorismo. Ele criou a metodologia de Desenvolvimento de Cliente que lançou o movimento de startups enxutas, e escreveu sobre o processo em seu primeiro livro, Os Quatro Passos para a Epifania. Seu segundo livro, o Manual para Donos de Startup, é um guia passo-a-passo para se construir uma empresa de sucesso. Blank ensina sua metodologia de Desenvolvimento de Cliente em suas aulas nas Universidades Stanford, U.C. Berkeley, Columbia e NSF. Ele escreve regularmente sobre empreendedorismo em www.steveblank.com.

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