A indústria fonográfica mudou nos últimos tempos, mas algo permaneceu constante: a disputa entre artistas e gravadoras na hora de distribuir os ganhos com as vendas de álbuns. Nem mesmo a chegada de serviços como Spotify, Deezer e Rdio deram um jeito nisso.
Mas como são feitos esses acordos entre serviços de streaming e as grandes gravadoras? Até que ponto o Spotify é culpado pelo pouco dinheiro que chega à conta bancária dos artistas, e até que ponto isso é só uma consequência do contrato fechado entre eles e a gravadora?
O The Verge teve acesso ao contrato que Spotify e Sony Music fecharam em 2011, meses antes do lançamento do serviço nos EUA, e ele nos mostra que, aparentemente, as gravadoras continuam levando a maior parte da grana, como sempre foi.
Quanto a gravadora recebe
Este contrato fechado em 2011 estipula logo de cara que o Spotify precisou desembolsar uma grana para a Sony antes mesmo de oferecer suas músicas aos usuários. O acordo de dois anos definiu que o Spotify pagaria US$ 25 milhões: US$ 9 milhões durante o primeiro ano e mais US$ 16 milhões no segundo. Para um terceiro ano opcional, o serviço de streaming precisou deixar mais US$ 17,5 milhões nos cofres da gravadora.
E o que aconteceu com esse dinheiro? Os problemas começam aqui. Não há definição do que a Sony deve fazer com a grana que recebeu de entrada. Então a gravadora decide quem vai ser beneficiado por ele.
Segundo Rich Bengloff, presidente da Associação Americana de Música Independente, isso significa que os artistas provavelmente não ganharam nada. “Eu trabalhei em grandes gravadoras, trabalhei em gravadoras independentes, então vi os dois lados dos negócios”, ele explicou ao The Verge. “Muitas vezes, esse dinheiro pago por fora acaba não sendo compartilhado.”
Além do dinheiro inicial, a Sony também fica com parte da receita do Spotify. É uma fórmula bastante complexa que define quanto vai para a gravadora – depende de fatores como assinaturas, publicidade tocada para usuários de planos gratuitos, entre outras coisas. As gravadoras ficam com 60% da receita bruta do Spotify, e esse valor é dividido entre elas de acordo com a participação dos seus artistas na execução de músicas.
Se os artistas da Sony somarem 20% das execuções, por exemplo, a gravadora leva 20% daqueles 60% destinados a todas elas – ela ficaria, portanto, com algo em torno de 12% da receita geral. O cálculo do valor depende de outros fatores, como dissemos, mas chega a ser parecido com isso.
E os músicos?
Os artistas, por sua vez, ficam com pouca coisa. Em muitos casos, eles ganham US$ 0,00225 por cada música tocada. Sim, é menos de um centavo de dólar para cada vez que você ouve uma faixa.
O problema, de acordo com o The Verge, é que essa divisão com os músicos depende do contrato deles com as gravadoras. E muitos fecharam esse contrato antes da ascensão do streaming, portanto, ainda estão presos nas divisões feitas na época que a venda de CDs era a principal fonte de receita das gravadoras.
Em alguns casos, apenas 20% da receita com streaming vai para o artista – o que significa que ele ganha 20% de US$ 0,00225 para cada vez que alguém aprecia a sua obra. Dá para entender a revolta deles.
Artistas como Taylor Swift e Thom Yorke já criticaram publicamente serviços como Spotify e retiraram suas obras do acervo deles. Outros, liderados por Jay-Z, decidiram combater a indústria fonográfica concorrendo com ela ao relançar o Tidal.
O contrato como um todo deixa algo bem claro: se há alguém que realmente está ganhando com o streaming de música, são as gravadoras. O próprio Spotify não consegue lucrar.
Portanto, ao apontar o dedo para o Spotify, os artistas talvez estejam sendo um pouco injustos com o serviço. Os verdadeiros vilões – do ponto de vista deles, claro – são os mesmos das décadas passadas: os executivos das grandes gravadoras, que continuam ficando com a maior parte do dinheiro movimentado pela indústria fonográfica. [The Verge]
Foto por John Davisson/Invision/AP
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