Era uma vez…
…Um jogo com uma direção de arte fantástica e um clima de contos de fadas cativante, cheio de simbolismos e metáforas sobre vida, morte e crescimento. O seu nome era Toren e mesmo com algumas ideias bem executadas, como jogo, ele falhava em certos aspectos.
Era uma vez…
…Um estúdio brasileiro de desenvolvimento de jogos chamado Swordtales. Eles sonhavam alto, em fazer um jogo 3D de aventura, com grandes cenários e puzzles. Isso os levou a passar por quatro anos de diversas dificuldades no desenvolvimento, mas também de boas conquistas, como captar recursos com a ajuda do governo e chegar a um grande console como o PS4.
Essas histórias são duas metades que se unem para resultar no lançamento de um dos jogos brasileiros mais aguardados. Toren chega nesta terça-feira (12) para PC e PS4 e entrega um conto de fadas moderno na era digital, mas tropeça (às vezes literalmente) em atingir uma mecânica de jogo tão agradável quanto o restante.
Em Toren, acompanhamos a lenda de Moonchild (ou Criança da Lua), uma menina presa numa torre homônima ao jogo e que precisa chegar ao topo, enfrentar um dragão e finalmente se libertar de seu cativeiro.
O que o jogo faz e muito bem é criar uma mitologia interessante e chamar a atenção do jogador para essa história. Afinal, o que é aquela torre? Porque essa menina morre e renasce de novo bebê? Quem é a figura que parece um mago que a protege?
As respostas são dadas conforme se explora mais os cantos de Toren, um lugar que já foi glorioso e que agora está decadente. Logo no início do jogo, pode-se associar ele rapidamente a lenda judaica da torre de Babel.
Toren está repleto desses simbolismos interessantes, remetendo principalmente às tradições judaico-cristãs, mas que de forma alguma chegam a ser ofensivos (seja você crente ou não) e, ainda por cima, consegue conversar bem com a linguagem do jogo, por meio de “fases de sonho”, que representam temas como beleza, justiça e emoção.
Talvez não tenha ficado claro para alguns, mas Toren tem muito em comum com jogos da Team ICO, cuja influência é abertamente assumida pela Swordtales. O jogo brasileiro, definitivamente, vai ser o mais próximo que os jogadores terão de uma experiência como ICO em muito tempo (até The Last Guardian ser lançado algum dia).
Mas enquanto Toren faz com que o clima melancólico e por vezes sombrio do clássico de PS2 transpareçam muito bem, as semelhanças na jogabilidade não conseguem fazer com que as coisas funcionem exatamente bem.
É constante a sensação de estamos controlando Moonchild sem precisão, com movimentos estranhos, tanto em seus pulos quando em suas interações com outros elementos do cenário. Em ICO, um jogo de quase 15 anos, isso passa a ser um dos charmes do jogo. Já em Toren, de alguma forma, essa característica não parece se encaixar bem.
Não que isso deixe o jogo quebrado, longe disso. Porém, em contraste com o clima e a direção de arte tão bem cuidados, esse aspecto da jogabilidade deixa bem a desejar, principalmente quando se tem um foco grande em desafios de plataforma. Já os puzzles, outros dos pilares do jogo, também são bem fáceis e quase não trazem desafios.
Por sorte essas falhas não chegam a incomodar tanto por causa da pouca duração do jogo. É possível terminar Toren tranquilamente em pouco mais de duas ou três horas, mas isso não significa que você deva jogá-lo de forma apressada.
Na segunda vez que eu joguei, por exemplo, encontrei algumas áreas e itens que eu não havia percebido na primeira vez, o que faz com que o jogo possa ser aproveitado mesmo depois que você zerá-lo.