Havia um monte de gente esperando a chegada do Galaxy S III não para comprá-lo, mas de olho em uma eventual queda no preço do seu antecessor, o Galaxy S II. Verdade seja dita, mesmo hoje, mais de um ano depois de lançado, o aparelho ainda faz bonito — fino, leve, rápido e com tela e câmera bem legais.
O desconto não veio, talvez pela demanda ainda em alta, talvez pela introdução do Galaxy S II Lite (GT-I9070) no portifólio nacional da Samsung. Esta versão, que lá fora é chamada de Galaxy S Advance, funciona mais ou menos como o elo perdido entre o Galaxy S clássico e o S II. Pelo preço sugerido de R$ 999, mas encontrado no varejo por até R$ 880, qual o resultado dessa fusão? Confira em nossa análise.
Hardware
O formato mais arrendondado e com a borda prata justificam o nome internacional do S II Lite: ele parece mais com o Galaxy S clássico, o de 2010. Mas olhe mais atentamente e você notará uma característica charmosa e de alto nível até então inédita em sua linhagem: a tela curvada, parecida com a do Galaxy Nexus.
Essa aparência meio frankenstein que a princípio pode parecer inadequada, resulta em um aparelho harmônico e bem bonito. A traseira ainda é de plástico e pode ser aberta para trocar a bateria (removível), SIM card (tamanho convencional) e cartão microSD, mas a textura é agradável e no geral o aparelho lembra, de fato, um Galaxy S. A tampa, aliás, é flexível, mas menos do que as dos irmãos S II e S III — por questões financeiras, a Samsung obviamente optou por um material de menor qualidade.
De perfil, o aparelho é visivelmente mais grosso que o S II, “engordando” de cima para baixo; nas (esquisitas) fotos de divulgação parece algo exagerado, quase feio; ao vivo esse detalhe passa batido por olhos menos atentos e não compromete o conjunto.
Há botões laterais (os de volume à esquerda, o de travar a tela/desligar à direita), saídas microUSB e para fones de ouvido embaixo e… e só. Em cima, onde é preferível fique a saída de áudio, não existe nada. Na frente, o estilo Galaxy S impera, com um botão central (mais duro e ruim de apertar que o do S II tradicional) ladeado pelos táteis de menu e voltar. Em cima, a câmera frontal, speaker e sensores.
Ao contrário do que a diferença de 0,27″ da tela sugere, em dimensões absolutas o S II Lite não é tão “lite”. Ele é, sim, menor que o modelo tradicional, mas por pouco: 2,1mm menor em altura, 3,1mm em largura e 1,2mm maior em espessura. Ligeiramente mais pesado (120g contra 116g), ele é mais… “sólido” na mão. Se o S II comum invariavelmente arranca comentários sobre a sua leveza ao ser segurado pela primeira vez, o mesmo não ocorre com a versão Lite. Mas ninguém reclama que ele é pesado, então ficamos no empate.
A tela tem 4″, resolução de 840×480 e usa a tecnologia Super AMOLED — sem o “Plus” do S II, logo, com matriz PenTile. A densidade de pixels maior (220 PPI) joga a favor de modo que é bastante difícil perceber os pixels individuais. Com a tela tocando o nariz dá para vê-los timidamente; com a lente da câmera encostada na tela, como na foto abaixo, dá para vê-los claramente; mas em uso normal, não. A tela é bem brilhante, tem boa fidelidade de cores e ângulos de visão, e só peca na sensibilidade a toques; está longe de ser ruim, mas fica aquém das telas de iPhone, do próprio S II convencional, enfim, de smartphones topo de linha em geral.
Comparado com um dos seus concorrentes diretos que já passou pelo Giz, o Honor, da Huawei, a tela do S II Lite é, no geral, bem melhor.
Já disse que o vidro curvado é um charme?
Câmera
Neste aspecto o S II Lite faz jus ao nome: a resolução da câmera é menor (5 MP contra 8 MP do S II) e a qualidade das fotos que ela produz, também. Não muito ruim, porém; dá para usá-la em diversas situações numa boa com fotos bem bonitas. Mas diminua ou pouco a luz ou dê o azar de pegar um dia nublado para aquela sessão de fotos e ruídos além do aceitável marcarão presença. Sem luz, também, o foco sofre e o tempo de exposição maior aumenta sensivelmente a probabilidade de fotos tremidas — problema acentuado pela ausência de um botão físico de disparo.
Um comportamento um pouco fora do normal e derivado do software é os ajustes de cores, balanço de branco e outras características que, em fotos parecidíssimas, divergem drasticamente. Em termos práticos, é relativamente comum duas fotos tiradas em sequência saírem bem diferentes. Detalhes corrigíveis com uma pós-produção, mas que são estranhos de qualquer forma.
Na hora de filmar, o Galaxy S II Lite chega a 720p, mas a qualidade não é das melhores. Há serrilhados bem perceptíveis em linhas e cantos, parece que não existe um sistema de estabilização (ou, se existe, ele é bem fraquinho) e as cores não são muito fiéis. Dá para gravar o gol para o bola cheia, mas não espere nada muito satisfatório — para colocar em termos simples, o S II Lite se sai melhor como câmera fotográfica do que filmadora.
Android 2.3 (ainda…) + TouchWiz
Com o Android 2.3.6 “Gingerbread”, o Galaxy S II Lite sai de fábrica já defasado e, até agora, não há certeza sobre a atualização para o Ice Cream Sandwich, muito menos a novíssima Jelly Bean. Um banho de água fria amenizado em partes pela TouchWiz, a camada de software da Samsung.
Se no ICS a utilidade de skins é meio duvidosa, no Gingerbread elas são bem-vindas por trazerem funcionalidades úteis, que tornam o sistema mais completo e fácil de usar. Tome, por exemplo, o sistema de pastas: é uma inovação do Android 4.0 que a Samsung (e outras) já oferecem na versão 2.3.
A TouchWiz é bem amigável e bonita. Ela troca ícones e elementos visuais do Android, conjuga algumas áreas e estende outras — nunca havia reparado o quão completo é esse Relógio, com cronômetro e temporizador. Câmera, contatos, HUB de mensagens, notificações… todas as mexidas nesses pontos são bem positivo no fim das contas. O app drawer é mais convencional, embora careça de métodos de organização automática — para tanto, este app cobre os buracos.
Se as mexidas da Samsung no Android são boas, o mesmo não se pode dizer da seleção de apps pré-instalados. Tem várias coisas da própria Samsung, um monte de atalhos para sites da TIM na forma de ícones (???) e alguns apps de parceiros, como NetMovies (nem tem onde eu moro) e Yahoo! Tempo. No geral se tolera esse tipo de intervenção; eu coloco tudo em uma pasta com um nome proibitivo para esse horário para pelo menos tirar essas coisas de vista e enxugar meu app drawer. Mas há situações onde o inesperado (e muito incômodo) acontece, como quando atualizei o app da Yahoo! e, depois disso, ele pirou e ficou travando e reiniciando em um loop eterno. Só parou quando reverti a atualização. Não, não dá para desinstalá-lo.
No fim das contas, o Android que equipa o Galaxy S II Lite é bom. Não tanto quanto se viesse com o Ice Cream Sandwich, mas no limite do que o Gingerbread pode oferecer.
Desempenho e bateria
O Galaxy S II Lite vem com processador dual-core de 1 GHz e 768 MB de RAM que dão ao aparelho um desempenho surpreendente. O Henrique já correu alguns benchmarks que traduzem em números o quão ligeiro ele é; no uso cotidiano, esses números frios se convertem em uma experiência suave e quase que totalmente livre de engasgos.
As animações da TouchWiz são lisas, o acesso a jogos e apps mais pesados é rápido e, de modo geral, o comportamento do sistema não dá pinta de se tratar de um modelo mid-range. Os 200 MHz a menos que o do Galaxy S II normal devem fazer falta em algum momento, mas essas situações são tão atípicas e raras de se presenciar que, para um usuário normal, é difícil perceber as sutis diferenças em desempenho.
A bateria tem 1500 mAh e, tal qual o desempenho, também surpreende positivamente. Dá para usar o celular numa boa durante o dia inteiro, com 3G, Wi-Fi, fotos e alguns joguinhos mais simples, sem temer ficar na mão antes de chegar em casa. Os recursos de economia de bateria da Samsung parecem bem competentes e dá para desligar um monte de coisas quando a bateria chega a níveis críticos. Para recarregar completamente, na tomada ele pouco menos de 2 horas. E, como deveria ser todo smartphone que se preze, dá para recuperar as forças da bateria via USB.
Áudio e vídeo
A Samsung inexplicavelmente manda fones de ouvido brancos com o S II Lite. Eles são do tipo intra-auriculares e, no pacote, vem algumas borrachinhas de tamanhos diferentes — uma bênção para meus ouvidos menores que a média. Apesar do capricho, o único ganho que esses fones proporcionam é em imersão; a qualidade do áudio é ruim, meio metalizado e com graves fracos, e nem o botão de áudio surround 5.1 que o player de música da Samsung oferece melhora as coisas — sinceramente, achei até que ele piorou a qualidade.
O alto-falante frontal do celular é bom e, em termos telefônicos ele não fica devendo em nada — todas as chamadas são bem claras, o volume é bom e não tive dificuldades em me comunicar por voz, inclusive VoIP (Skype).
Como já é tradição nos smartphones da Samsung, o player de vídeo vem preparado para os formatos mais populares e outros nem tanto. Matroska e MP4 H.264, por exemplo, rodam liso mesmo em alta resolução, inclusive com legendas. Pena que o espaço interno impeça o armazenamento de arquivos do tipo, embora a compra de um cartão microSD (que não vem no pacote) possa suprir essa escassez de espaço.
Afinal, quantos giga bytes ele tem?
A Samsung apresenta o Galaxy S II Lite como tendo 8 GB de memória interna. De fato, ele vem com isso, mas rola uma “divisão interna” que gera blocos de espaço para três finalidades. É meio esquisito e pode ser frustrante se você usa o celular mais como MP3/vídeo player, ou se não está nem aí para multimídia e só quer saber de joguinhos pesados. Vamos entender melhor.
Para seus arquivos, ou seja, o que você gera com os apps (pense em fotos e vídeos, por exemplo) e conteúdo transferido do computador para o celular (USB mass storage/MTP ou KIES), são 3,9 GB. Para os aplicativos, o S II Lite tem 2 GB. O resto é, imagino, usado pelo Android, provavelmente com uma boa sobra para eventuais atualizações, sistemas de cache e outros arquivos que “brotam” com o uso normal.
Os espaços são fixos, não dá para deixar menos para apps e estender o espaço utilizável ou vice-versa. É uma solução meio esquisita e um tanto incômoda. No fim das contas se tem a sensação de que o aparelho quer, de certa forma, guiar o seu próprio uso. Saudades dos tempos em que tínhamos o espaço anunciado para usar como bem entender…
Do que gostamos?
O Galaxy S II Lite é como o time do Corinthians na Libertadores: não tem nenhum craque, mas joga bem em todos os setores do campo e, no fim das contas, o conjunto torna o time vencedor. Por esse motivo é difícil apontar uma característica que se sobressaia, como é a bateria no Honor, ou o desempenho e a tela no Galaxy S III.
A tela curva chama a atenção e o desempenho, para um mid-range, está um tiquinho acima da média. O acabamento é convencional, mas agrada tanto aos olhos, quanto ao tato. A duração da bateria, embora não seja espetacular, impressiona quem espera algo no nível do S II comum.
Do que não gostamos?
Vale a mesma regra acima: não existem pontos horríveis que destoam do resto do aparelho. Mas, se pudesse mexer no projeto antes da Samsung lançá-lo, pediria uma moldura e, consequentemente, dimensões absolutas menores, mais sensibilidade para os toques na tela e liberdade total no uso da memória disponível. Para o meu perfil, por exemplo, de poucos apps e jogos instalados, boa parte dos 2 GB reservados para eles acabam ociosos. Ah sim, e garantiria a atualização para o Ice Cream Sandwich, coisa que ainda está no limbo das incertezas da Samsung…
Posso comprar sem medo de errar?
Se você tem mil dinheiros na mão e precisa ou quer um celular novo, o S II Lite é o aparelho a ser comprado no momento. Tudo nele agrada e alguns pontos nem parecem de celular mid-range — tela, desempenho, bateria, acabamento. A tela, aliás, tem o tamanho que considero ideal (4″): grande o suficiente para navegar e usar apps confortavelmente, pequena o bastante para não cansar o dedão ou criar áreas inalcançáveis com uma mão só.
Há aparelhos melhores? Sem dúvida, mas nessa faixa de preço não consigo pensar em nenhum outro que o supere. O Galaxy S II Lite é uma escolha racional que, com o uso, se estende ao emocional. Um smartphone econômico e gostoso de usar, dois adjetivos que muito raramente andam de mãos dadas na indústria.