Antes de pensar “lá vem mais um post feminista do B9”, pense “lá vem mais uma marca descendo a ladeira do mau relacionamento com o público feminino”. Porque é isso que, mais uma vez, vemos acontecer.
As mídias sociais acordaram em polvorosa nesta segunda-feira com a notícia de uma nova linha de esmaltes da Risqué, chamada “Homens que amamos”.
Cada nova cor trazia uma ~homenagem~ à atitudes ~românticas~ de homens. São cores como “João disse eu te amo”, “Guto fez o pedido!!”, “Zeca chamou para sair”, “Fê mandou mensagem”, “André fez o jantar”, “Leo mandou flores”, que irritaram o público feminino – afinal, será que alguma dessas atividades é passiva de homenagem? Será que isso não é um mínimo? Será que fazer o jantar, algo que muitas mulheres fazem diariamente, trabalhando fora de casa ou não, deveria ser digno de homenagem entre os homens?
Na página de apresentação da coleção (ainda no ar), a Risqué destaca que essa coleção é um “tributo aos pequenos gestos diários dos homens”. Pera, que a Stephanie Noelle tem a imagem perfeita para simbolizar essa preocupação da Risqué em agradecer que o Fê mandou mensagem.
Parece algo banal, mas não é, e a resposta das moças foi em tom sarcástico – em torno da hashtag #homensrisque, elas começaram a levantar uma série de ‘outros tipos de homem’ que poderiam ter sido elogiados pela Risque, caso a coleção tivesse mais cores.
“Antônio acha que lugar de mulher é na cozinha”, “Beto não contrata mulher porque acha que licença maternidade é desperdício”, “Gabriel divide as mulheres que conhece entre para casar e para trepar”, e assim vai.
A lista é grande, mas trazemos uma breve coleção aqui para vocês entenderem quão má recebida foi a campanha. Tão má recebida que o assunto rapidamente chegou aos trending topics nacionais do dia.
Esse recorrente deslize das marcas – outro dia mesmo era a Skol errando a mão assim – que faz inclusive surgir no mercado espaço para consultorias especializadas em falar com o público feminino, como o Plano Feminino e Think Eva. É engraçado pensar que precise existir uma consultoria para evitar deslizes e escorregadas como essas, mas é um fato (e talvez uma proposta que contorna a possível falta de diversidade das equipes de marketing). Com a internet, a via é de mão dupla, e a insatisfação das mulheres com o tipo de comunicação feita para elas acaba exposta em praça pública, causando estardalhaço nas redes sociais.
As meninas do Lugar de Mulher inclusive sugeriram quais poderiam ter sido nomes mais interessantes para a campanha, e mais alinhados com assuntos que as mulheres se importam: “Lúcio paga a pensão”, “Eduardo cansou de racismo”, “Vinícius é abortista”, “Otávio defende a lei do feminicídio”, “Vitor respeita as mina”.
Quer dizer, as marcas precisam pensar mais um pouco antes de lançar campanhas questionáveis no quesito “relacionamento com as mulheres”. Não teria sido MUITO melhor publicar uma coleção com as mulheres fodas? Essa é uma das sugestões que circulou pelas redes sociais, saca só:
Até o momento, a Risqué não respondeu ao B9 sobre quais serão os próximos passos da marca com essa campanha.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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